A água é um recurso essencial para a vida, e a sua qualidade tem um impacto direto na saúde humana e no meio ambiente. A contaminação por resíduos industriais, esgotos e pesticidas pode causar doenças e comprometer ecossistemas inteiros. Garantir água limpa hoje é investir no futuro das próximas gerações.
A nova Diretiva Europeia para o Tratamento de Águas Residuais Urbanas Entrou em vigor a 1 de janeiro de 2025, trazendo mudanças significativas na regulamentação ambiental. Pela primeira vez, a diretiva impõe limites para a descarga de contaminantes emergentes, como fármacos, que até então não eram regulados. Esta revisão marca um avanço importante na proteção dos recursos hídricos, atualizando uma legislação com mais de 30 anos.
As águas residuais urbanas são uma das principais fontes de contaminação dos cursos de água superficiais e subterrâneos. A introdução de restrições para compostos até agora desconsiderados reflete a crescente preocupação com os impactos ambientais e na saúde pública. No entanto, apesar dos avanços, algumas abordagens da diretiva têm sido alvo de debate, com especialistas a questionarem a viabilidade e a eficácia de certas medidas.
A implementação desta diretiva representa um primeiro passo essencial para reduzir a pressão dos microcontaminantes sobre os ecossistemas aquáticos. Contudo, será fundamental continuar a avaliar e aperfeiçoar as estratégias adotadas, garantindo uma gestão eficaz e sustentável da qualidade da água na Europa.
Neste contexto, o CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar), através da sua linha temática sobre Gestão Ambiental, Poluição e Modelação, que se centra na investigação de fontes, vias e impactos da poluição ambiental, nomeadamente nos ecossistemas aquáticos, desenvolvendo estratégias inovadoras de monitorização, modelação e gestão para mitigar riscos ambientais e proteger a saúde pública, e particularmente através do seu cluster de investigação 4 – Gestão e conservação dos ecossistemas, tem desempenhado um papel de destaque na concretização de projetos de I&D que visam a gestão sustentada e integrada dos ecossistemas aquáticos.
O projeto LED investiga os efeitos da poluição luminosa, em combinação com a presença de fármacos, como potencial desregulador endócrino em ecossistemas aquáticos urbanos, avaliando impactos a nível fisiológico e ecológico. Já o projeto BMRex, financiado pela União Europeia, desenvolve membranas biocatalíticas inovadoras para degradar micro e nanoplásticos em efluentes de águas residuais, promovendo soluções sustentáveis para a mitigação da poluição por plásticos. Ambos os projetos envolvem equipas do CESAM e abordam desafios emergentes da contaminação ambiental em contextos urbanos e industriais.
O CESAM é a única instituição portuguesa signatária do documento “Statement of support for updated EU water pollution standards”, onde 28 instituições, de 14 países, e cerca de 500 cientistas, de 38 países, apelam à rápida adoção de normas mais rigorosas para combater a poluição química das águas europeias. Este documento reforça a necessidade de atualização da Diretiva Quadro da Água, defendendo o fortalecimento da monitorização e da regulamentação para melhor refletir os reais impactos da poluição química nos ecossistemas aquáticos, nomeadamente a inclusão de novos poluentes que representam riscos significativos para a saúde humana e para o ambiente.
Esta posição reafirma o compromisso do CESAM com a ciência e a proteção ambiental, contribuindo ativamente para a construção de políticas públicas mais eficazes na preservação da qualidade da água e da biodiversidade.
Vídeo: Neste sistema de mesocosmos, que simula troços de rio, investigadores do CESAM testam o efeito de agentes de stress, físicos ou químicos, sobre organismos aquáticos.