Em Portugal ocorrem muitas dezenas de espécies com comportamento migratório, desde os pequenos passeriformes (p.e. as andorinhas), aves planadoras (como as aves de rapina e as cegonhas) e muitas aves aquáticas (patos, limícolas) e marinhas (p.e. alcatraz, cagarras). Muitas destas espécies percorrem grandes distâncias, atravessando hemisférios e nessas viagens cruzando zonas com características físicas e ecológicas muito distintas. Dia 8 de maio celebra-se o dia mundial das aves migradoras e nesta época do ano, milhares de aves deslocam-se para os seus locais de reprodução no hemisfério norte, muitas delas tendo passado a época não reprodutora a vários milhares de quilómetros de distância.

No caso particular das aves limícolas, sendo que muitas delas se reproduzem no ártico e sub-ártico, a sua migração de regresso às zonas de reprodução tem início ainda antes da partida. Em rigor, a migração inicia-se com a preparação dessa viagem. Como muitas destas espécies fazem longos voos de centenas ou milhares de quilómetros sem parar, a preparação pode demorar várias semanas. Nesse período, as aves adquirem a energia necessária para cumprir grandes voos sem paragens, acumulando-a principalmente sob a forma de gordura. E claro, quanto mais longo o caminho a percorrer, mais gordura será necessário acumular!

Na rota migratória do Atlântico Leste, na qual várias zonas húmidas portuguesas são um ponto chave para estas e outras espécies, o recordista dos voos migratórios sem paragens é o Maçarico-galego (Numenius phaeopus). Embora alguns indivíduos possam passar o inverno em Portugal, a grande maioria dos maçaricos da população que se reproduz na Islândia, inverna na costa oeste africana. E pasme-se: alguns indivíduos migram num único voo desde o arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau até à Islândia – sem qualquer paragem para descansar, consumir alimentos ou se hidratarem! São cerca de 6000 km em voo contínuo durante 5-6 dias (e noites). Contudo, apesar destas longas distâncias a percorrer as condições ambientais no arquipélago dos Bijagós são de tal forma favoráveis, que se estima que a preparação destes voos requeira “apenas” cerca de 18 dias nestes locais, mas mais do dobro desse tempo em locais de invernada mais a norte! Estes são alguns dos resultados de um artigo científico do Camilo Carneiro publicado já este ano na revista Ecography em formato de acesso aberto. Pode ser lido aqui.

Uma ave que levanta voo na Guiné-Bissau, rodeada de mangais, palmeiras e habituada a temperaturas na ordem dos 30 graus, e aterra passados 6 dias na Islândia, onde a paisagem está ainda coberta por neve e gelo e a temperatura máxima ao meio dia não passa dos 10 graus, é uma ave verdadeiramente de dois mundos!

As cagarras são as aves marinhas mais abundantes em Portugal e estão entre os nossos mais impressionantes migradores oceânicos. Reproduzem-se em grande número nos arquipélagos dos Açores e da Madeira (principalmente nas Ilhas Selvagens) e criam também no arquipélago das Berlengas. Anualmente, em Novembro muitos milhares de cagarras atravessam o Atlântico até ao Brasil, para depois rumarem a leste, onde passam o período não-reprodutor nas águas ricas da corrente de Benguela, na África do Sul. O oceano é a sua casa, e só a partir de Fevereiro começam a retornar a norte, de volta aos deveres da reprodução.

As aves limícolas migradoras, recordistas dos longos voos contínuos, estão na linha da frente das ameaças colocadas pelas alterações globais do nosso planeta e pela degradação dos seus ecossistemas. Se por um lado a aquecimento global é muito notório nas zonas terrestres de reprodução no (sub-) ártico, a subida do nível médio do mar, e particularmente a pressão humana, que se fazem sentir nas zonas húmidas costeiras onde habitam durante o inverno, são desafios que estas espécies têm de conseguir ultrapassar para subsistirem no futuro. As aves marinhas, por seu lado, enfrentam um oceano em rápida mudança, com alterações de correntes, ventos e produtividade e a permanente ameaça das atividades humanas, com destaque para a pesca e a poluição. Conservar todas estas espécies e os seus ecossistemas requer portanto que se preservem os “seus dois mundos”, que na verdade são o mesmo planeta que com elas partilhamos.

Para saber mais sobre estas incríveis aves veja aqui e aqui.

 

Texto da autoria dos investigadores José Alves e José Granadeiro.

Cagarra

 CagarraMaçarico-galego (autoria Camilo Carneiro)Trajeto

O Grupo de Investigação Biotecnologia Marinha & Aquacultura (MBA) do CESAM e o Centro de Espectrometria de Massa da Universidade de Aveiro têm o grande prazer de apresentar a 2ª edição da Conferência “Lipids in the Ocean”, que será realizada na Universidade de Aveiro, de 05 a 07 de julho 2021. O evento é organizado pelo Professora Rosário Domingues do CESAM.

NOVAS DATAS!!!

Submissão de resumos: 15 de maio de 2021

Registo: 15 de junho de 2021

 + info: http://lipids2021.web.ua.pt/

Abertura de uma posição  de Equiparado a Investigador Coordenador para o exercício de atividades de investigação científica na área científica de Economia com vista ao desenvolvimento de investigação no tópico da Economia Ambiental e Recursos Naturais e promoção da sustentabilidade e da resiliência ambiental, no âmbito do Projeto H2020 ERA Chair “BESIDE – Institutional, Behavioural, critical and adaptive economics towards Sustainable Development, management of natural capital and circular Economy”, (Grant Agreement 951389), financiado pela Comissão Europeia, concurso H2020-WIDESPREAD-2018-2020-6.

Candidaturas até 1 de junho 2021

Data prevista de início: 1 de setembro 2021

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informação sobre o Projeto BESIDE aqui

De 12 de abril a 21 de junho decorre o Ciclo de Palestras de Entomologia 2021.

Programa:

  • 12 de abril, às 11 horas

Entomologia forense – a voz de quem não pode falar por si- Maria Teresa Rebelo, Universidade de Lisboa (FCUL) – Zoom Meetings

  • 26 de abril, às 11 horas

O papel relevante dos insetos em ecotoxicologia- Diogo Cardoso, Universidade de Aveiro – Zoom Meetings

  • 17 de maio, às 11 horas

Pragas de insetos associadas aos eucaliptos- Carlos Valente, RAIZ  – Zoom Meetings

  • 24 de maio, às 11 horas

Mosquitos e doenças associadas na Europa: da vigilância ao controlo- Hugo Osório, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – Zoom Meetings

  • 31 de maio, às 11 horas

Utilização sustentável de um capital natural ameaçado – o caso dos insetos na alimentação humana e animal- Olga Ameixa, Universidade de Aveiro  – Zoom Meetings

  • 7 de junho, às 11 horas

Uso de Drosophila melanogaster para estudar fertilidade feminina, cancro e envelhecimento- Rui Martinho, IBiMED, Universidade de Aveiro – Zoom Meetings

  • 9 de junho, às 12 horas

Curadoria de coleções entomológicas- José Manuel Grosso-Silva, Universidade do Porto – Zoom Meetings

  • 14 de junho, às 11 horas

Ilustração entomológica – recriar os insetos ao estilo Frankenstein– Fernando Correia, Universidade de Aveiro – Zoom Meetings

  • 21 de junho, às 11 horas

A Entomologia Forense no local de crime – A abordagem da polícia judiciária– Bruno Antunes, Polícia Judiciária – Zoom Meetings

Uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa/CESAM, em parceria com investigadores da Universidade de Groningen e do Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas Dr. Alfredo Simão da Silva (IBAP), analisaram a importância dos mangais como fornecedores diretos de carbono em zonas entremarés no Arquipélago dos Bijagós, Guiné-Bissau.

 

As florestas de mangal são exportadoras de matéria orgânica e nutrientes, mas a sua importância como fornecedoras diretas das cadeias alimentares nas zonas entremarés é ainda mal compreendida. Partindo desta questão, uma equipa liderada por investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, realizou entre 2018 e 2019 um estudo no arquipélago de Bijagós na Guiné-Bissau, um ecossistema influenciado por mangal que constitui uma importante área de invernada para aves costeiras migratórias na Via Migratória do Atlântico Este, e se encontra classificada com Reserva da Biofera pela UNESCO. Utilizando análises de isótopos estáveis avaliaram a importância dos mangais e de outros produtores primários (ex.: micro e macroalgas) como componentes da matéria orgânica dos sedimentos e na dieta dos macroinvertebrados bentónicos (ex.: bivalves e poliquetas) e também o movimento de pequena escala do carbono do mangal num gradiente de distâncias desde o limite do mangal (na costa) em direção ao oceano.

Os resultados indicam não haver evidências de que o carbono do mangal sustente diretamente as cadeias alimentares na zona entremarés. De facto, o sinal do carbono do mangal desvanece-se rapidamente após os primeiros 50 metros do limite da floresta. Os detritos derivados de macroalgas, microalgas bentónicas e partículas orgânicas suspensas na água foram as fontes de carbono identificadas como mais importantes neste sistema. Ainda assim, fica em aberto a possibilidade das florestas de mangal alimentarem indiretamente as cadeias alimentares entremarés através do fornecimento de carbono e nutrientes inorgânicos a outros produtores primários.

As conclusões deste estudo convidam assim a investigações subsequentes para averiguar estas e outras vias potenciais de contribuição das florestas de mangal, reconhecidas como grandes depósitos de carbono, para as comunidades que habitam as áreas entremarés adjacentes.

 

Este artigo pode ser lido aqui.

 

Assessing the contribution of mangrove carbon and of other basal sources to intertidal flats adjacent to one of the largest West African mangrove forests

Authors: Mohamed Henriquesa,b,*, José Pedro Granadeiroa, Theunis Piersmab,c, Seco Leãod, Samuel Pontese, Teresa Catrya

a Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), Departamento de Biologia Animal, Faculdade de Ciˆencias da Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; bConservation Ecology Group, Groningen Institute for Evolutionary Life Sciences, University of Groningen, the Netherlands; cNIOZ – Royal Netherlands Institute for Sea Research, Department of Coastal Systems, the Netherlands; dVillage of Menegue, Island of Canhabaque, Bijagos archipelago, Guinea-Bissau; eInstituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas Dr. Alfredo Simão da Silva – IBAP, Bissau, Guinea-Bissau

DOI: https://doi.org/10.1016/j.marenvres.2021.105331

Available online 9 April 2021

Projects:

Waders of the Bijagós: Securing the ecological integrity of the Bijagós archipelago as a key site for waders along the East Atlantic Flyway (Funded by MAVA Foundation)

MigraWebs: Migrants as a seasonal ecological force shaping communities and ecosystem functions in temperate and tropical coastal wetlands (Funded by FCT)

 

Para mais informações contactar:

Mohamed Henriques (mhenriquesbalde@gmail.com)

 Macrolagas em zonas entremarés do arquipélago dos Bijagós. Créditos: Mohamed HenriquesMangal no arquipélago dos Bijagós. Créditos: IBAP/Hellio & Van IngenVista aérea de florestas de mangal no arquipélago dos Bijagós. Créditos: IBAP/Hellio & Van IngenVista aérea de uma floresta de mangal a limiar áreas entremarés no arquipélago dos Bijagós. Créditos: IBAP/Hellio & Van IngenFloresta de mangal no arquipélago dos Bijagós. Créditos: IBAP/Hellio & Van Ingen

 

 

Decorre esta semana em Bubaque, no arquipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau, um curso em técnicas de identificação e monitorização de aves aquáticas, com particular foco nas aves limícolas. Ministrado pelo Dr. Afonso Rocha e organizado juntamente pelo CESAM e IBAP –Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas, o curso é dirigido a técnicos do IBAP, da ODZH – Organização para a Defesa e Desenvolvimento das Zonas Húmidas da Guiné-Bissau e alunos do curso de licenciatura de biologia da Universidade Lusófona da Guiné-Bissau. Este curso conta com 25 participantes e aborda as seguintes temáticas: 

– Identificação de espécies aquáticas e a monitorização através de censos;

– Métodos de captura e anilhagem de aves aquáticas;

– Controlo de anilhas coloridas;

– Aplicação de dispositivos eletrónicos de seguimento;

– Identificação dos principais problemas de conservação destas aves e seus habitats.

Acompanhe esta atividade aqui 

Algumas fotos:

 

A Universidade de Aveiro (UA), através do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), laboratório associado, detém uma embarcação para fins científicos equipada com diversos equipamentos oceanográficos, geofísicos e hidrográficos, possibilitando a obtenção de dados multidisciplinares como ferramenta para investigação e aulas.

Saiba mais aqui

O artigo intitulado “Tree-Based Methods: Concepts, Uses and Limitations under the Framework of Resource Selection Models“, da autoria de João Carvalho, João Santos, Rita Torres, Frederico Santarém e Carlos Fonseca, publicado na revista científica Journal of Environmental Informatics, foi considerado o artigo do ano 2020 pela International Society for Environmental Information Sciences. 

O Conselho Editorial do Journal of Environmental Informatics avaliou cuidadosamente os artigos de acordo com sua originalidade, contribuições para o área de conhecimento, qualidade de apresentação e rigor científico.

Saiba mais sobre o prémio aqui e aceda ao artigo aqui.

Curso avançado How to work with ecotoxicology data – hands on course

19-23 Julho

Online ou Blended

Informação e inscrição aqui.

Diana Madeira foi convidada por Sua Excelência o Presidente da República para um momento celebrativo do 47º Aniversário da Revolução de 25 de Abril, que decorreu ontem nos Jardins do Palácio de Belém. 

Este momento consistiu num diálogo entre o Presidente da República, 4 Capitães de Abril e 14 jovens sobre a democracia, os valores de abril, e as oportunidades e desafios que os jovens atravessam hoje na ciência e em Portugal.  

Notícia disponível aqui.