O trabalho de Niedja Santos (aluna de doutoramento) e Sara Reis (aluna de mestrado), coordenado por Inês Domingues e Miguel Oliveira, investigadores do CESAM/DBIO foi recentemente destacado na capa da edição de março da revista científica Toxics (MDPI, Volume 13, Edição 3).
O artigo, intitulado “Does Personality Modulate the Sensitivity to Contaminants? A Case Study with Cadmium and Caffeine”, explora de forma inovadora como a personalidade dos peixes-zebra (Danio rerio) designadamente, o grau de timidez ou ousadia pode afetar a sua sensibilidade à exposição a contaminantes comuns no ambiente aquático, como o cádmio e a cafeína.
Os investigadores avaliaram o comportamento dos peixes antes e depois da exposição a concentrações realistas destes dois contaminantes. Com base em testes padronizados, os peixes foram classificados como “tímidos” ou “extrovertidos”. Após a exposição, observou-se que os indivíduos tímidos demonstraram maior sensibilidade, com alterações comportamentais mais evidentes, como redução da atividade locomotora e maior tempo de imobilidade.
Estes resultados indicam que a personalidade é um fator relevante na forma como os organismos aquáticos respondem à poluição, e que esta variabilidade individual pode ter implicações importantes em estudos de avaliação de risco ambiental. Tradicionalmente, a ecotoxicologia tem assumido que todos os indivíduos de uma espécie reagem da mesma forma à contaminação, mas este estudo reforça a necessidade de considerar a diversidade comportamental intraespecífica para obter avaliações mais realistas e representativas.
O cádmio é um metal tóxico, associado a atividades industriais, enquanto a cafeína é considerada um contaminante emergente, frequentemente detetado em águas residuais. Ambos os compostos têm efeitos reconhecidos sobre a saúde dos organismos aquáticos, mesmo em baixas concentrações.
Este trabalho mostra que, além dos fatores químicos e ambientais, as características individuais dos organismos podem desempenhar um papel central na sua vulnerabilidade à poluição. A integração de traços de personalidade em estudos ecotoxicológicos poderá, assim, melhorar a compreensão dos riscos associados aos contaminantes e contribuir para estratégias mais eficazes de monitorização e proteção dos ecossistemas aquáticos.
Artigo completo disponível aqui.
