Nos últimos dias da expedição oceanográfica AKMA3, a equipa de investigadores a bordo do navio ‘Kronprins Haakon’ descobriu um vulcão de lama numa cratera com cerca de 300 metros de diâmetro no fundo do Mar de Barents (Noruega). Este tipo de vulcões são raros nesta região do Ártico, sendo conhecido apenas um outro, o ‘Håkon Mosby’, descoberto em 1995.
A bordo desta expedição oceanográfica, que terminou no passado dia 10 de maio, estava uma equipa internacional e multidisciplinar de cientistas, liderada por investigadores da Universidade Ártica da Noruega em parceria com a empresa REV Ocean. Como esta expedição ocorreu no âmbito do projeto AKMA – ‘Advancing Knowledge of Methane in the Arctic’, a equipa a bordo tinha representantes dos vários parceiros do projeto, entre os quais a Universidade de Aveiro, representada pela investigadora Sofia Ramalho (CESAM/DBIO) que era também a única portuguesa a bordo.
A professora Giuliana Panieri, líder da expedição, juntamente com Stefan Buenz, e coordenadora do projeto AKMA, refere em comunicado da Universidade Ártica da Noruega, “não excluímos a possibilidade de descobrir outros vulcões de lama no Mar de Barents. Mas é apenas através de trabalho colaborativo e de tecnologias avançadas que estes resultados podem ser alcançados. Ver em direto este vulcão de lama submarino em erupção relembra-me de como o nosso planeta está vivo”.
De acordo com o mesmo comunicado, os vulcões de lama são estruturas peculiares, que emitem predominantemente “água e sedimentos provenientes de centenas de metros a vários quilómetros de profundidade na crosta oceânica, fornecendo uma janela para o interior da Terra e ambientes passados”. Este vulcão liberta continuamente fluidos ricos em metano e assenta numa cratera originada por uma ou várias explosões que terão acontecido após o período glacial há 18 000 anos.
Como refere, a partir da Noruega, a investigadora Sofia Ramalho (CESAM/DBIO) à Comunicação do CESAM, “Ainda há muito a descobrir sobre a ecologia destes habitats do Ártico, sobretudo se considerarmos os potenciais impactos cumulativos de atividades humanas nesta região juntamente com as alterações climáticas que já se começam a observar.” O trabalho da investigadora está especificamente associado à biodiversidade das comunidades associadas às fontes frias no Ártico (em que se enquadram este tipo de vulcões).
Nesta expedição foram amostrados vários locais, mas de acordo com Sofia Ramalho, “nós não estávamos especificamente à procura deste vulcão, estávamos sim à procura de fontes frias que podem assumir muitas formas, em termos geológicos”. As fontes frias são habitats que albergam uma elevada biomassa de organismos especializados dependentes de diversas formas da produção primária resultante da quimiossíntese. E “beneficiando da elevada produtividade local, o espaço adjacente a este vulcão, ao contrário do que acontece frequentemente noutras áreas do Ártico investigadas, albergam também uma elevada diversidade e densidade de amimais, tais como esponjas, corais e peixes.” No local agora descoberto, a investigadora portuguesa recolheu amostras de sedimentos desta cratera para o estudo da meiofauna “ou melhor, de nemátodes, que são pequenos vermes marinhos microscópicos e que apesar de pouco estudados, são dos animais mais abundantes e diversos que se podem encontrar em sedimentos marinhos. Além disso foram também recolhidas amostras da macro- (ex., crustáceos, poliquetas) e da megafauna (ex., esponjas, estrelas-do-mar) para estudo da cadeia trófica nestes locais”.
Além de todo o trabalho científico produzido, os investigadores a bordo ainda estiveram envolvidos em ações de divulgação científica com escolas portuguesas. Como nota a Sofia Ramalho, “nós estivemos durante quase todo o cruzeiro ligados a escolas portuguesas, uma escola de Azurva, uma escola da minha terra natal em Mora e uma outra escola de Loulé (…) que fizeram videochamadas e viram, em direto, o ROV Aurora [Veiculo Remotamente Operado da empresa REV Ocean] em ação no fundo do mar”.
Créditos da imagem: UiT/AKMA3
Texto por: CESAM com colaboração Sofia Ramalho (CESAM/DBIO)