Investigadora do CESAM/DBIO Seila Díaz, coautora de um artigo publicado na prestigiada revista Nature Cancer sobre a genómica dos cancros transmissíveis no berbigão

No dia 2 de outubro, foi publicado na revista Nature Cancer um artigo de investigação sobre as descobertas relativas ao cancro transmissível do berbigão, que foi noticiado na imprensa nacional e internacional. Neste estudo, participaram os investigadores Seila Díaz, Ricardo Calado e Fernando Ricardo do CESAM/DBIO, Universidade de Aveiro.

De acordo com a investigadora Seila Díaz, coautora principal do estudo apresentado, ‘neste estudo, examinámos berbigões recolhidos em toda a Europa para criar uma coleção de quase 400 tumores de berbigão. Através da rede Europea Marine Biologial resource centre (EMBRC), obtivemos berbigões vivos para diagnosticar de vários locais da Europa, incluindo a Ria Formosa (Algarve)’.

Esta investigação refere como o berbigão, uma espécie muito frequente na costa portuguesa, pode contrair cancros transmissíveis que se propagam através de células cancerígenas vivas presentes na água do mar. Os resultados desta investigação revelaram uma sequência de referência do genoma dos berbigões, um passo essencial para o estudo da evolução destes cancros contagiosos.

‘Para continuar a aprender sobre os cancros contagiosos no mar, é importante continuar a recolher e a fornecer dados genéticos de alta qualidade. Além disso, como o berbigão tem um genoma de alta qualidade, pode ser uma espécie modelo para o estudo destes cancros contagiosos que também afetam os mamíferos’, afirma a investigadora principal da investigação.

A descoberta mais notável neste estudo foi a presença de uma instabilidade genómica sem precedentes nos cancros transmissíveis de berbigão. Essa instabilidade desafia a crença anterior de que a estabilidade genómica é um requisito fundamental para a sobrevivência a longo prazo de células cancerígenas. Esta descoberta é particularmente surpreendente porque, ao contrário das células cancerígenas humanas, que não conseguem prosperar sob níveis elevados de instabilidade cromossômica, os cancros transmissíveis de berbigão conseguem fazê-lo. Esta conclusão pode ter implicações valiosas para o desenvolvimento de novas estratégias no tratamento do cancro em seres humanos no futuro.

Ricardo Calado afirma que ‘o berbigão é um recurso marinho muito importante em Portugal, sendo que as prevalências mais elevadas de cancros transmissíveis detetadas na Europa foram registadas nas costas portuguesas. Deste modo, Portugal deve participar ativamente em nos próximos estudos que venham a ser desenvolvidos para compreender melhor as origens e as implicações ecológicas e económicas deste novo conceito de cancro’.

Fernando Ricardo reforça dizendo que ‘com este estudo verificámos que existem dois tipos de cancros contagiosos que afetam o berbigão, principalmente da costa sul da Europa, e que estes dois cancros contagiosos não estão presentes em todas as populações de berbigão. É, por isso, que os movimentos de bivalves têm de ser sempre autorizados, porque podem causar danos ecológicos mais graves do que, em princípio, se poderia pensar’.

Este estudo foi conduzido pela Universidade de Santiago de Compostela (USC), em Espanha, em estreita colaboração com investigadores do CESAM – Universidade de Aveiro, o Wellcome Sanger Institute e outras 11 instituições, contando ainda com apoio financeiro parcial do Conselho Europeu de Investigação através de uma bolsa ERC ganha pelo investigador José Tubío (USC).

Seila Díaz continua a estudar estes cancros marinhos, através do projeto de investigação denominado ShipClones. Este projeto é financiado pela União Europeia, através do programa Marie Curie, um dos mais prestigiados e competitivos programas de pós-doutoramento da Europa. Este projeto dedica-se ao estudo da dinâmica de contágio destes cancros e procura desenvolver novas técnicas de diagnóstico mais rápidas, para assim minimizar os efeitos destes cancros nas populações de bivalves.

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Texto por: Seila Díaz em colaboração com CESAM