Miguel Oliveira (CESAM/DBIO) aborda a temática da poluição por plásticos

O Dia Mundial do Meio Ambiente celebra-se a 5 de junho. O ano de 2023 marca o 50º aniversário do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), que é o organismo responsável pela celebração anual do Dia Mundial do Meio Ambiente. Ao longo dos anos, a celebração desta data tem aproximado organizações da sociedade civil, academia, indústria e poder político, transformando-se numa das maiores plataformas globais para a sensibilização ambiental.

Em 2023, a celebração deste dia foca-se na temática da poluição por plásticos, sob o lema “Combata a poluição por plásticos”. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, no seu website, refere que “o rápido crescimento dos níveis de poluição por plásticos representa uma séria ameaça global, impactando negativamente as dimensões ambiental, social e económica do desenvolvimento sustentável. Mantendo-se o rumo atual, a quantidade de resíduos plásticos que vão entrar nos ecossistemas aquáticos pode quase triplica até 2040”.

No âmbito da celebração deste dia, fomos conversar com Miguel Oliveira (CESAM/DBIO), cujo trabalho se relaciona com a temática da poluição por plásticos.

Comunicação CESAM: Se tivesse de selecionar apenas um, qual seria o risco da poluição por plásticos que salientaria?

Miguel Oliveira: Diria que o principal risco são os efeitos a longo prazo e questão dos aditivos. Os plásticos têm diferentes constituintes, mas são estas substâncias químicas, os aditivos, que lhes vais permitir, por exemplo, que tenham a sua cor característica, a sensação de plasticidade, ou resistência térmica, por exemplo.

O que acontece, muitas vezes, é que com o envelhecimento dos plásticos, em determinadas condições, começa-se a libertar esses produtos químicos e esses produtos químicos, sabe-se que são perigosos para os organismos aquáticos e para os humanos. Uma questão muito conhecida é o bisfenol A, onde agora vemos, especialmente nos produtos para crianças, que essa substância foi retirada. No ambiente, um dos principais riscos é a capacidade de as partículas adsorverem os contaminantes. Os microplásticos podem adsorver à sua superfície ou no seu interior, por exemplo fármacos, e que quando ingeridos pelos organismos podem libertar essas substâncias ativas, cumprindo assim um efeito conhecido por “cavalo de tróia”.

Mas é necessário esclarecermos que a presença não indica necessariamente efeito. Ou seja, temos de ter algumas precauções, é certo e nós já detetamos, nos nossos estudos, alguns efeitos dos plásticos nos organismos – como alterações imunológicas, ao nível de reprodução dos organismos – mas apenas em concentrações muito elevadas. São necessários mais estudos e principalmente é necessário perceber quais os efeitos a longo prazo da presença e ingestão destes plásticos pelos organismos.

Comunicação CESAM: “Quais as principais problemáticas [relacionadas com plásticos], que a sua investigação atual procura responder?

Miguel Oliveira: Nós temos diferentes linhas de investigação no nosso laboratório, mas numa dessas linhas estamos a testar polímeros alternativos – os biopolímeros. A ideia é que os biopolímeros são mais seguros (…) substituindo os polímeros derivados do petróleo, como polietileno por exemplo, por outros de origem natural e que são sintetizados, por algas ou por bactérias.” O que nós estamos a testar, em colaboração com outros grupos de investigação, são possíveis novos polímeros que representem um menor perigo para os organismos aquáticos e para os humanos e que se degradem mais facilmente. Isto com o objetivo de promover alterações, de forma a diminuir a libertação destas substâncias para o meio ambiente.

Sendo que, para além das linhas de investigação, outra área de ação em que apostamos é na divulgação científica. Nós estamos também a desenvolver estudos, em colaboração com pessoas da área da psicologia social, que tentam analisar as perceções do público sobre os plásticos – se estes são inócuos, se vêm diferenças entre tipos de plásticos, etc. Isto para possamos desenvolver ferramentas para uma comunicação mais eficaz com o público.

Comunicação CESAM: Que tipo de ação ou comportamento, recomendaria a um cidadão comum para ajudar neste ‘combate’ à poluição por plásticos?

Miguel Oliveira: Eu diria a utilização consciente dos plásticos e a reutilização dos plásticos. Porque se todos nós tivermos em conta o destino dos plásticos e o fim de vida, isso vai ajudar muito. Não podemos ignorar o facto de que os plásticos são muito úteis e podem ser benéficos, e temos exemplos, como na biomedicina, onde os materiais plásticos são muito mais baratos, eficazes e facilmente esterilizáveis.

A questão deve ser então limitar a utilização de plásticos de uso único. E como podemos nós, consumidores, fazer isso? Podemos, por exemplo, escolher produtos que requeiram menos plástico – utilizar sacos de pano em vez de plástico, comprar cosméticos que não tenham este tipo de polímeros ou comprar produtos a granel, entre outros. São pequenos gestos, mas que podem ajudar a limitação da presença destas substâncias no meio ambiente.