A biogeoquímica dos elementos é influenciada pelas propriedades físicas e químicas do sedimento e espera-se que sejam modificadas devido às alterações climáticas, como a acidificação da água do mar, variações de salinidade e aumento da temperatura. Como os sistemas costeiros costumam servir como sumidouros para elementos tóxicos, esses fatores ambientais podem ter efeitos intrincados sobre a especiação dos elementos e na sua solubilidade química, sendo difícil prever o impacto na biogeoquímica dos elementos, bem como a influência combinada de todos esses fatores ambientais nas comunidades estuarinas, especialmente nas espécies que vivem em contato direto com sedimentos. Os poliquetas, invertebrados que vivem enterrados no sedimento e que normalmente são o grupo mais abundante nos ecossistemas estuarinos, estão muito expostos a mudanças na geoquímica dos sedimentos, podendo-se tornar um grupo vulnerável. Em conjunto, essas alterações podem afetar a dimensão biológica dos sistemas costeiros, alterando as características fisiológicas, bioquímicas e comportamentais das espécies marinhas. Apesar de vários estudos investigarem os efeitos das alterações climáticas na geoquímica de elementos, ainda é pouco conhecido os impactos que as alterações geoquímicas podem induzir nos organismos marinhos, dificultando a previsão dos efeitos das alterações climáticas nos sistemas marinhos. Assim, é muito importante avaliar os efeitos das alterações climáticas na geoquímica dos sistemas estuarinos e o impacto sobre os poliquetas, que suportam grande parte da diversidade de níveis tróficos superiores e que são intensamente explorados (pelo menos algumas espécies) para serem usados como isco na pesca desportiva, constituindo uma importante fonte de rendimento familiar.
O BIOGEOCLIM pretende estudar como as variações esperadas de pH, salinidade e temperatura irão: i) influenciar a biogeoquímica de oligoelementos e ii) impactar os poliquetas, isoladamente e em combinação com a concentração e disponibilidade dos elementos. Toda a informação adquirida ajudará a prever os fatores condicionantes da geoquímica, a resiliência das populações de poliquetas e pode ser usada para gerar diretrizes regulatórias e práticas de manejo que possam mitigar os impactos das alterações climáticas, preservar as populações de poliquetas e contribuir para a sustentabilidade deste recurso biológico.