Os impactos das alterações climáticas (AC) em praticamente todas as atividades humanas são talvez o maior desafio que a humanidade já enfrentou. O último relatório do IPCC (IPCC 2021), divulgado recentemente, alertou mais uma vez que a zona Sudoeste da Europa, onde Portugal está localizado, é uma das áreas mais vulneráveis às AC e respetivos impactos devido à sua localização e características climáticas, sendo uma das áreas onde é mais provável que no futuro se assista a um aumento da intensidade e frequência de ocorrência de episódios climáticos extremos, incêndios florestais, degradação da qualidade do ar e saúde da população, secas, impactos na agricultura, etc. Para mitigar os impactos das AC no meio ambiente, população, economia e sociedade em geral, é fundamental investigar detalhadamente os cenários climáticos futuros mais recentes para planear e adotar estratégias de adaptação e resiliência efetivas. Tais estratégias devem ser estudadas a nível nacional e regional devido à heterogeneidade da variabilidade espacial das AC e vulnerabilidades específicas de cada país em lidar e se adaptar às AC.
O ClimACT propõe realizar a primeira investigação completa e integrada sobre os cenários climáticos futuros para Portugal usando as projeções de clima futuro de última geração do CMIP6, que serviram de base ao último relatório do IPCC, realizando um downscalling dinâmico das mesmas para território português a alta resolução espacial que irão permitir um estudo detalhado e realista dos padrões e impactos das AC em Portugal. Dado que o ClimACT é um projeto exploratório, o seu principal produto será o Atlas de Clima Futuro para Portugal, que consiste num site que compila e disponibiliza publicamente todos os dados e produtos climáticos produzidos no ClimACT, com o objetivo de serem usados pela comunidade científica, stakeholders e decision-makers na avaliação dos impactos das AC nos setores mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas em Portugal: eventos meteorológicos extremos, incêndios florestais, qualidade do ar, saúde humana, gestão de recursos hídricos, energias renováveis e agricultura. Para atingir estes objetivos, quatro tarefas foram delineadas:
T1 – Aquisição e pré-processamento de dados climáticos do CMIP6 para três cenários de clima futuro: SSP5-8.5, um cenário business-as-usual, o SSP1-2.6, um cenário sustentável que permite o cumprimento das metas do Acordo de Paris, e o SSP2-4.5, um cenário intermédio entre o SSP5-8.5 e SSP1-2.6.
T2 – Realizar um downscaling de alta resolução (5 km) das projeções climáticas globais do CMIP6 para o território português com o modelo WRF para os 3 cenários de clima futuro
T3 – Caracterização dos cenários climáticos futuros de Portugal a partir do downscaling feito na tarefa anterior
T4 – Produção de um Atlas de Clima Futuro de alta resolução para Portugal que disponibiliza os resultados e dados do projeto, especialmente direcionados para serem utilizados pela comunidade científica, stakeholders e decision-makers ligados aos setores mais vulneráveis aos impactos das AC em Portugal. Análise integrada e disseminação de todos os resultados obtidos.
Este projeto irá usar os novos cenários climáticos futuros do CMIP6, ainda não investigados em detalhe para Portugal. Assim, esta proposta mostra elevado mérito científico e um caráter inovador, uma vez que contribuirá substancialmente para o estado da arte da ciência climática em termos de investigação publicada e conhecimento científico. O trabalho desenvolvido diretamente no ClimACT e subsequentes investigações realizadas pela comunidade científica usando dados do Atlas de Clima Futuro podem ter uma forte relevância social e ser uma ferramenta importante para as partes interessadas e tomadores de decisão nacionais, através de um processo cientificamente apoiado, para desenvolver e implementar estratégias eficazes de mitigação e adaptação às AC considerando três diferentes projeções de clima futuro: um worst case scenario, baseado no uso intensivo de combustíveis fósseis; um cenário sustentável que permite o cumprimento das metas do Acordo de Paris; e um cenário intermédio que considera alguma mitigação de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A equipa científica do ClimACT e consultores, com colaborações internacionais do SMHI e Universidade de Vigo, possui uma extensa experiência em investigação e know-how em todas as áreas científicas investigadas no ClimACT: ciência climática, modelação atmosférica e climática, impactos das AC em energias renováveis, qualidade do ar, ambiente e população, incêndios florestais, gestão de recursos hídricos, agricultura e saúde humana. Estas competências multi-disciplinares terão um papel fundamental no sucesso do ClimACT e na promoção da aplicação e uso dos resultados deste projeto na investigação de impactos específicos das AC e estratégias eficazes de adaptação e resiliência para o clima futuro.
