UNTIE – Desvendar o papel das doenças parasitárias emergentes na estrutura e função das comunidades costeiras e dos ecossistemas

Coordenador

Luísa Virgínia de Sousa Magalhães

Programa

Prémio Science Award Atlantic 2022

Datas

01/01/2023 - 31/12/2025

Financiamento para o CESAM

300000 €

Financiamento Total

300000 €

Entidade Financiadora

Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento

Instituição Proponente

Universidade de Aveiro

Há uma elevada percentagem da biodiversidade que é composta por parasitas (estimativas de cerca de 40%) e arrisco-me a dizer que todos os seres vivos sem exceção estão, estiveram, ou vão estar infetados por algum parasita em algum momento da sua vida. É, portanto, inegável a sua importância para um mundo tal e qual o conhecemos, no entanto são muitas vezes negligenciados em estudos ecológicos e de conservação. Isto acontece muito provavelmente por estarmos na presença de seres muitas vezes vistos como repugnantes, viscosos e com uma beleza questionável que pode estar longe da atribuída aos animais mais carismáticos. Este trabalho de investigação vai estar focado em parasitas trematodes que infetam invertebrados marinhos, sobretudo bivalves de elevada importância ecológica e económica. Os trematodes são frequentemente considerados de baixa patogenicidade e por isso ainda menos estudados que outras classes de parasitas. No entanto, eles são dos parasitas mais prevalentes e dependendo da espécie, da intensidade da infeção e, da interação do parasita com os órgãos vitais do hospedeiro, um trematode pode ser extremamente pernicioso com efeitos conhecidos na reprodução, crescimento e sobrevivência. Ora, uma vez que o parasita altera o papel funcional do seu hospedeiro (seja com efeitos ao nível do seu comportamento, ou até da forma como se alimenta), esta alteração, porque influencia as condições do habitat, vai muito provavelmente ter efeitos ao nível da comunidade faunística onde este hospedeiro se insira, mas também no funcionamento do ecossistema. Isto é algo empiricamente aceite, mas as implicações não são conhecidas de forma precisa nem exploradas com métodos experimentais, particularmente em ambientes marinhos, onde há muitas vezes resultados inconsistentes dependendo dos processos estudados e dos modelos hospedeiro-parasita usados. Fica claro que a perda e/ou ganho de diversidade de parasitas numa comunidade pode ter efeitos em cascata na produtividade e estabilidade dos ecossistemas de maneiras imprevisíveis. Este projeto de investigação visa evidenciar isso mesmo, ou seja, os parasitas como componentes fundamentais dos ecossistemas, com verificação da hipótese de que o parasitismo está associado a mudanças na dinâmica hospedeiro-parasita, na comunidade envolvente e tem também influência nos processos que alteram o funcionamento do ecossistema. Para tal, serão realizadas experiências em mesocosmo com modelos parasita-hospedeiro comuns em dois pontos do Atlântico: Chesapeake Bay (Maryland, EUA) e Ria de Aveiro (Portugal), dois sistemas costeiros com ecologia semelhantes. Serão criados, em ambiente experimental, pequenos modelos que mimetizam os sistemas naturais onde serão inseridas diferentes espécies bentónicas e variações de carga parasitária com avaliação de efeitos ao nível da produção primária, regulação de nutrientes, armazenamento de carbono, e produção secundária (composição, abundância e biomassa da comunidade faunística). Os resultados esperados vão permitir avaliar as consequências que determinada carga de parasitas terá na saúde da comunidade e do ecossistema com identificação de condições que podem levar a risco elevado de doença, episódios de mortalidade e disrupção dos serviços do ecossistema fornecidos por um ambiente saudável. Estes estudos são cada vez mais importantes porque o efeito dos parasitas nos hospedeiros em sistemas naturais e de aquacultura está em fluxo. As descobertas que venham a ser geradas podem ajudar na tomada de decisões relacionadas com a monitorização e a gestão de doenças nas zonas costeiras transatlânticas. Este projeto tem ainda potencial para ajudar a desencadear mudanças comportamentais e sociais, promovendo práticas ambientalmente respeitosas para uma gestão mais sustentável dos recursos pesqueiros e dos ecossistemas.

membros do CESAM no projeto