Uma das principais preocupações ambientais relativamente aos incêndios florestais é o facto de estes constituírem uma fonte de contaminação difusa para os ecossistemas aquáticos. Em áreas ardidas, o aumento da escorrência superficial e a perda de sedimentos associada promove a exportação de contaminantes como metais e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), que são reconhecidos pela sua toxicidade, persistência ambiental e capacidade de bioacumulação. Apesar da relevância deste tópico, existe atualmente uma lacuna na investigação relativamente à mobilização destes contaminantes após incêndio e os seus efeitos nos organismos aquáticos. Sendo os metais e HAPs substâncias altamente hidrofóbicas, transportadas preferencialmente na forma particulada, é expectável que os efeitos adversos destes contaminantes se façam sentir sobretudo ao nível das espécies bentónicas. A avaliação da qualidade do sedimento torna-se por isso crucial na análise de risco ecológico das massas de água afetadas. No entanto, as entidades responsáveis pela gestão dos recursos hídricos tendem a focar-se especialmente nos contaminantes na coluna de água, em conformidade com a Diretiva Quadro da Água. Dado que as escorrências provenientes de áreas ardidas são um cocktail de metais e HAPs, torna-se premente o estudo da toxicidade de misturas complexas destes químicos por forma a avaliar o risco efetivo associado aos incêndios. Contudo, como não é exequível testar experimentalmente todas as combinações possíveis destes compostos no ambiente aquático, torna-se necessário desenvolver modelos matemáticos que permitam fazer extrapolações. O objetivo primordial do projeto FIREMIX consiste no desenvolvimento de um modelo ecotoxicológico para prever os efeitos de misturas complexas de metais e HAPs em organismos bentónicos, por forma a auxiliar os gestores de recursos hídricos na avaliação do risco ecológico associado aos incêndios florestais.