A poluição do ar continua a ser um problema ambiental e de saúde na Europa, devido à degradação da qualidade do ar e aos impactos na saúde dos cidadãos. O conhecimento consolidado sobre o impacto dos poluentes atmosféricos, especialmente das partículas ultrafinas (UFP) e do carbono negro (BC), que não estão ainda regulamentados, continua a ser insuficiente. Além disso, em Portugal, ainda não foi realizada uma avaliação direta das associações entre a exposição de longo prazo à poluição do ar e os efeitos na saúde utilizando dados clínicos individuais, principalmente devido à falta de harmonização dos dados clínicos individuais.
Para colmatar estas lacunas de investigação, o projeto HEART tem como objetivo desenvolver uma metodologia integrada e holística para avaliar os impactos da poluição do ar na saúde, baseada na monitorização e modelação da qualidade do ar e num estudo epidemiológico com dados clínicos individuais harmonizados, contribuindo para um conhecimento mais aprofundado e detalhado sobre as relações entre qualidade do ar, exposição e incidência de diferentes doenças.
Para atingir este objetivo, o projeto HEART está estruturado em 6 atividades principais:
A1 – Gestão do projeto, comunicação e disseminação
A2 – Monitorização da qualidade do ar e avaliação da exposição
A3 – Modelação e mapeamento da qualidade do ar e exposição
A4 – Dados de saúde e articulação de bases de dados
A5 – Estudo epidemiológico
A6 – Ciência aberta e reutilização de dados
A metodologia e os resultados do projeto baseiam-se na aplicação de métodos estabelecidos, ferramentas emergentes e abordagens inovadoras, nomeadamente:
– Utilização de um veículo “Air View” equipado para medir concentrações de poluentes atmosféricos, nomeadamente dióxido de azoto (NO₂) e partículas em suspensão (PM2.5, UFP e BC), com elevada resolução espacial e temporal;
– Aplicação de modelos de regressão de uso do solo e de modelação de dispersão, incluindo a identificação de fontes (source-apportionment), para mapear os níveis de qualidade do ar para avaliação da exposição de longo prazo;
– Desenvolvimento e implementação de um módulo de programação para simular a dispersão de partículas ultrafinas e carbono negro;
– Utilização de registos clínicos eletrónicos (EMR) de duas unidades de saúde da área de estudo, com atribuição das concentrações de poluição do ar a cada indivíduo através da morada de residência, permitindo assim a realização de um estudo epidemiológico multicêntrico, para avaliar os impactos da poluição do ar em indicadores de morbilidade e mortalidade;
– Elaboração de recomendações baseadas em evidência científica, construídas em colaboração contínua com partes interessadas e decisores ao longo do projeto, assegurando uma consciencialização efetiva sobre a necessidade de ação relativamente à qualidade do ar e saúde pública, promovendo a reutilização da metodologia HEART e apoiando o desenvolvimento de estratégias para melhorar a saúde e o bem-estar;
– Produção e disponibilização de métricas valiosas de exposição a poluentes atmosféricos e indicadores epidemiológicos, que permitam a Portugal colaborar em estudos europeus internacionais sobre os efeitos da exposição ambiental na saúde (urbana) humana;
– Comunicação e disseminação da metodologia e dos resultados do HEART junto de partes interessadas e da população através de plataformas de redes sociais, bem como junto da comunidade científica através de publicações e apresentações em conferências.
Os membros da equipa do HEART possuem um conhecimento científico e experiência notáveis em áreas multidisciplinares e complementares como a modelação e monitorização da qualidade do ar, epidemiologia ambiental e estatística médica.
Assim, este é o primeiro projeto em Portugal que irá produzir um mapa de exposição à poluição do ar hiperlocal para uma grande área urbana portuguesa, abrangendo vários poluentes atmosféricos, à semelhança do que já foi realizado noutras grandes cidades europeias. Este trabalho fornecerá informações valiosas aos decisores políticos para orientar medidas de mitigação da exposição e informar os cidadãos sobre a sua exposição individual. Adicionalmente, os resultados do HEART pretendem evidenciar o potencial dos dados clínicos detalhados e individualizados na promoção da saúde e bem-estar dos doentes, bem como incentivar a disponibilização e harmonização de dados de saúde nos hospitais e unidades de saúde em Portugal.
