SCREEN and TOXIN – Interferência de protetores solares na acumulação de biotoxinas marinhas em conquilha (Donax trunculus) e procura de alternativas verdes: inovação para a sustentabilidade ambiental e socioeconómica

Coordenador

Patrícia A. Oliveira Pereira Kowalski

Programa

MAR2020

Datas

01/01/2021 - 30/06/2023

Financiamento Total

124367 € €

Instituição Proponente

Universidade de Aveiro

URL / WWW

https://screentoxin.wixsite.com/screen-toxin

A contaminação de moluscos bivalves por toxinas lipofílicas é responsável por intoxicações humanas com manifestações que podem ser severas. Em Portugal, as toxinas mais comuns são as do grupo do ácido ocadáico (AO), associadas a intoxicações diarreicas designadas de DSP (Diarrhetic Shellfish Poisoning ou intoxicação diarreica por molusco). Dada a perigosidade dessas intoxicações, várias espécies de bivalves com interesse comercial são analisadas semanalmente no Laboratório Nacional de Referência de Biotoxina Marinhas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) para avaliação da ocorrência de toxinas lipofílicas. A captura e comercialização de moluscos bivalves nos países pertencentes à União Europeia é interdita quando os níveis de toxinas do grupo AO é superior a 160 μg equivalentes de AO por kg de molusco. De acordo com dados do IPMA, a pesca e captura de conquilha (Donax trunculus) no Sotavento Algarvio pode ser interdita por cerca de 4 meses por ano, havendo maior incidência nos meses de Verão. O impacte desta interdição é elevado em termos económicos e sociais, considerando a grande dependência deste recurso na região do Sotavento Algarvio. De facto, a conquilha é emblemática no Algarve e uma iguaria regional, sendo que o seu consumo tem um impacte positivo no turismo da região. A contaminação de bivalves por toxinas do grupo AO está associada a muitos fatores, mas o fenómeno não está ainda completamente compreendido. No período estival, há um aumento da população local no Sotavento Algarvio que procura a região para veraneio, principalmente para usufruto das praias. Nesse período, o uso de protetores solares pelos veraneantes é recorrente com o propósito de protegerem a pele contra os raios UV, altamente nocivos para a saúde. Esse consumo conduzirá há introdução de uma elevada concentração de compostos orgânicos (com ação de filtro UV) nas águas costeiras, essencialmente pela entrada dos banhistas na água do mar. Assim, nos meses de Verão há novos (e mais) contaminantes nas águas costeiras do Sotavento Algarvio, nomeadamente ingredientes ativos de protetores solares, tais como a oxibenzona cuja toxicidade está reconhecida cientificamente para os organismos aquáticos. Neste projeto, equaciona-se que a conquilha (Donax trunculus) demorará mais tempo a eliminar o ácido ocadáico em cenários de co-exposição a oxibenzona, tal como ocorrerá no Verão nas praias do Sotavento Algarvio. Esse retardamento na eliminação do acido ocadáico conduzirá a um aumento do período de interdição e captura deste valioso recurso, com implicações muito negativas a nível socioeconómico. Está, ainda, previsto que protetores solares “mais verdes” (por exemplo, onde a oxibenzona e substituída por moléculas com origem em macroalgas marinhas) não tenham o mesmo efeito de retardar o metabolismo de AO. Por conseguinte, estes protetores solares alternativos não terão um impacto negativo nas atividades económicas dependentes da conquilha na região do Sotavento Algarvio (tais como a pesca, aquicultura, turismo). A verificarem-se estas duas hipóteses será recomendada a substituição de protetores solares com oxibenzona por outros “livres deste composto”, eventualmente com moléculas com origem em macroalgas marinhas (como a Ulva spp.) na sua constituição. Ações de sensibilização sobre os efeitos perniciosos de ingredientes de protetores solares no ambiente estão previstas no projeto, assim como iniciativas de disseminação.

membros do CESAM no projeto