Globalmente, as ratazanas são responsáveis por avultadas perdas económicas, incluindo danos em habitações humanas e contaminação de alimentos. São, também, importantes vectores de propagação de numerosas doenças a humanos e outros animais. A globalização das rotas comerciais facilita a dispersão das ratazanas e seus patógenos, sendo os portos marítimos pontos de entrada fulcrais e potenciais hotspots de doenças. Durante décadas, o controlo de roedores tem dependido de rodenticidas anticoagulantes, mas nos últimos anos têm sido relatados níveis crescentes de resistência associados a mutações específicas no gene Vkorc1. Este projeto visa avaliar a importância dos portos marítimos na chegada/invasão de ratazanas como hospedeiros de agentes patogénicos zoonóticos em Portugal. Esta avaliação basear-se-á numa inovadora abordagem multidisciplinar baseada em técnicas de nova geração, apoiada numa forte equipa multinacional com valências complementares em biologia de roedores: ecologia, avaliação de resistência a rodenticidas, doenças transmitidas por roedores, parasitologia, genómica e biologia da invasão. As ratazanas serão capturadas em 4 grandes portos portugueses (Lisboa, Funchal, Caniçal e Ponta Delgada) e num raio máximo de 20km, nas zonas urbanas circundantes a cada porto. O projecto apresenta, assim, os seguintes objetivos: i) avaliar os níveis de resistência a rodenticidas anticoagulantes; ii) identificar as comunidades de macroparasitas; iii) caracterizar a carga patogénica de bactérias, vírus e protozoários; iv) inferir as rotas de invasão e o fluxo genético com populações circundantes usando uma abordagem genómica; v) avaliar a penetrabilidade de ratazanas recém-chegadas nas populações residentes através de dados GPS. Este projeto encerra um significativo potencial aplicado, sendo que os parâmetros resultantes dos dados recolhidos serão fundamentais para futuras avaliações de risco zoonótico em gestão de Saúde Pública. Os resultados aumentarão largamente a compreensão dos impactos das invasões de ratazanas através dos portos, o que será crítico para o desenvolvimento de estratégias para monitorizar e mitigar esses impactos.