Francesco Ventura e José Pedro Granadeiro estão entre os cientistas de duas universidades portuguesas que descobriram uma relação entre o aquecimento da temperatura da água do mar e a prevalência de divórcios numa população de albatrozes. A investigação, realizada nas ilhas Falkland, demostrou pela primeira vez uma influência direta do meio ambiente nas taxas de divórcio de uma espécie monogâmica. Esta descoberta destaca como as condições ambientais, nomeadamente as alterações ligadas ao aquecimento global, podem afetar o mundo vivo de formas que por vezes não imaginamos, com consequências nas populações de animais selvagens.

 A monogamia social é comum em aves. Os albatrozes são conhecidos por formarem dos casais mais fiéis e longevos do reino animal. Contudo, embora a uma taxa reduzida, os divórcios são uma realidade e, no caso do albatroz-de-sobrancelha de New Island, nas ilhas Falklands, são mais frequentes em anos com temperaturas da superfície do mar mais elevadas. Este resultado decorre de um estudo de longo prazo recém-publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society B (https://doi.org/10.1098/rspb.2021.2112).

 Usando uma base de dados onde se foi registando o destino de cerca de 500 casais de albatrozes ao longo de quase duas décadas, os investigadores foram capazes de monitorizar a ocorrência de eventos de divórcio, ou seja, quando ambos os membros de um par previamente estabelecido estavam vivos na colônia, mas pelo menos um deles se encontrava a nidificar com um novo parceiro. Os investigadores descobriram que a taxa anual de divórcio variou substancialmente no tempo, flutuando entre 1% a 8%.

 “Quando percebemos que uma mesma população tinha taxas de divórcio diferentes em anos diferentes, perguntámo-nos se essas flutuações seriam explicadas por mudanças nas condições ambientais enfrentadas pelos albatrozes reprodutores”, descreve Francesco Ventura, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM-Ciências) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). “E, de facto, desde o início que os resultados da nossa análise sugeriram que era mesmo isso que estava a acontecer”.

O estudo da monogamia social e do divórcio em aves tem uma longa história e têm sido propostas muitas hipóteses para explicar a razão que leva esses animais a divorciarem-se. Em geral, o divórcio é considerado uma estratégia para corrigir as parcerias subótimas, sendo desencadeado por falhas em tentativas de reproduções anteriores. Em geral o divórcio é iniciado pelas fêmeas, que deixam o ex-parceiro para se reproduzirem com um parceiro “melhor”. “Não é uma regra estrita”, diz-nos Paulo Catry, professor e investigador no Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) do ISPA – Instituto Universitário, que desde 2003 iniciou e coordena o estudo dos albatrozes nas Falkland. “É verdade que casais que falham uma tentativa de reprodução são cinco vezes mais propensos a divorciarem-se. No entanto, muitos casais que não tiveram sucesso permaneceram juntos e alguns que tiveram sucesso divorciaram-se de qualquer forma. O sucesso reprodutor não explica tudo “.

 Na verdade, os modelos estatísticos usados nesta investigação mostram que independentemente do sucesso anterior, os casais de albatrozes são consistentemente mais propensos a divorciarem-se em anos caracterizados por temperaturas da superfície do mar mais elevadas. As temperaturas da superfície do oceano são consideradas indicadores úteis da disponibilidade de alimento para as aves marinhas, com temperaturas mais baixas propiciando águas ricas em nutrientes e mais produtivas, e temperaturas mais altas indicando condições de poucos recursos. “Isto não foi uma surpresa total, pois sabíamos, através de estudos anteriores, que os albatrozes-de sobrancelha de New Island têm mais dificuldade em reproduzir-se com sucesso em temporadas com águas mais quentes”, explica Ventura. “Contudo, o nosso estudo representa a primeira evidência quantitativa de um impacto direto do meio ambiente no divórcio… Isto fez-nos pensar sobre as várias formas, não imediatamente óbvias, pelas quais as mudanças ambientais e climáticas podem afetar as populações selvagens. Quando as aves se divorciam, isso também pode ter implicações negativas para o seu sucesso reprodutor, pelo que o aumento das taxas de divórcio não é inconsequente”.

 Os autores concluem o artigo especulando sobre dois mecanismos potenciais que vinculam diretamente o divórcio a condições ambientais mais adversas. “Em anos maus, os custos de reprodução são maiores e isso pode fazer com que os albatrozes precisem de mais tempo para se prepararem para a estação reprodutora seguinte, chegando mais tarde e de forma assíncrona à colónia de nidificação o que, em última instância, leva a que se divorciem com maior frequência”, afirmou o Prof José Pedro Granadeiro do CESAM – Ciências, co-autor do estudo. “Outra possibilidade pode ser representada pelo stress fisiológico. Em anos mais difíceis, as aves têm mais dificuldades em encontrar alimento, e podem ter níveis mais elevados de hormonas de stress. Se um membro do casal, provavelmente a fêmea, atribuir erroneamente o seu próprio stress elevado a um mau desempenho do parceiro nos cuidados parentais, isso pode também levar à rutura de uma relação de casal”.

 Com espécies de vida longa, como os albatrozes, realizar estudos de longo prazo é de fundamental importância para compreender a ecologia da população e, em última instância, para promover sua conservação.

 

Artigo científico:

Ventura F, Granadeiro JP, Lukacs PM, Kuepfer A, Catry P. 2021 Environmental variability directly affects the prevalence of divorce in monogamous albatrosses. Proc. R. Soc. B Biol. Sci. 288, 20212112. (doi:10.1098/rspb.2021.2112)

Em destaque nos Media: Altmetric – Environmental variability directly affects the prevalence of divorce in monogamous albatrosses

Foto: JP Granadeiro

2 de Dezembro de 2021, quinta-feira, 15h:30min

Luís Bonifácio. INIAV

Viver com a Doença da Murchidão do Pinheiro (DMP) em Portugal

https://videoconf-colibri.zoom.us/j/89561009738

 

9 de Dezembro de 2021, quinta-feira, 15h:30min

Jorge Faria. INIAV, MED

Os recursos naturais vegetais no combate aos nemátodes fitoparasitas: o nemátode da madeira do pinheiro e os nemátodes radiculares

https://videoconf-colibri.zoom.us/j/87516209052

 

Cartaz

Dia 5 de dezembro de 2021, comemora-se o Dia Mundial do Solo, este ano sob o lema “Parar a salinização do solo e aumentar a sua produtividade”. Esta campanha visa aumentar a consciência da importância de manter ecossistemas saudáveis e o bem-estar humano, abordando os crescentes desafios na gestão do solo, combatendo a salinização do solo, aumentando a consciência sobre as ameaças do solo, encorajando governos, organizações, comunidades e indivíduos em todo o mundo a comprometerem-se com a proteção e conservação da biodiversidade e função dos solos.

Para assinalar esta data, o CESAM encontra-se a organizar dois eventos, que terão lugar no dia 3 de dezembro, a saber:

Os projetos LIFE Reflorest, FEMME e EPyRIS promovem em conjunto um webinar, das 09h30 às 12h50. A participação é gratuita e as inscrições podem ser efetuadas aqui.

A linha temática Ecologia e Biodiversidade Funcional (EFB) encontra-se a organizar um workshop híbrido, entre às 14h e as 18h, no anfiteatro do Departamento de Geociências, da Universidade de Aveiro. O evento é gratuito, mas sujeito a inscrição para o formato presencial até ao dia 30 de novembro aqui. A participação pode também ser por ZOOM.

Programa (manhã)

Programa (tarde)

Para comemorar os 35 anos do Programa Bandeira Azul, a Associação Bandeira Azul da Europa realizou uma Conferência, no passado dia 19 de novembro. Nesta conferência celebrou-se a crescente sustentabilidade das Praias, Marinas e Embarcações, as condições de segurança, serviços, proteção e conservação ambiental e social. Este encontro proporcionou um momento de reflexão sobre o futuro das praias da orla costeira Portuguesa e de partilha dos resultados dos estudos mais recentes sobre Análise, Gestão e Planeamento de Sistemas Sócio-Ecológico e Erosão Costeira, no que respeita a utilização futura das praias portuguesas, com os interlocutores que legislam, implementam e fiscalizam.

O programa Bandeira Azul é um programa de educação para o desenvolvimento sustentável, promovido em Portugal pela Associação Bandeira Azul da Europa, secção portuguesa da Fundação para a Educação Ambiental, reconhecida pela UNESCO e pelo PNUMA como líder mundial nas áreas de Educação Ambiental e Educação para o Desenvolvimento Sustentável.

Neste evento, que reuniu muitos dos municípios da orla costeira galardoados com a Bandeira Azul pela manutenção consecutiva desde indicador de qualidade, estiveram presentes como oradores o presidente da Associação Bandeira Azul da Europa, o Vice-Presidente da Fundação para a Educação Ambiental; a Diretora do Departamento do Litoral e Proteção Costeira da Agência Portuguesa do Ambiente. O CESAM esteve representado por Paulo Baganha Baptista, como Key Note Speaker, tendo apresentado os resultados dos estudos mais recentes do CESAM na temática da erosão costeira, segurança marítima em portos, segurança balnear e uso recreativo das praias.

O CESAM pretende reforçar a cooperação com os end-users a nível local e com os municípios costeiros, através de serviços operacionais de disponibilização de indicadores de erosão costeira, obtidos por técnicas de deteção remota (estando previsto que em 2022 cerca de 50% do território já esteja coberto por este serviço); de serviços de deteção automática de agueiros e galgamentos costeiros, recorrendo a estações de vídeo-monitorização costeira. Atualmente encontram-se duas estações piloto em fase de testes nas Praia de Mira e Praia da Vagueira, estando prevista uma nova estação na Praia do Furadouro. A nível regional, o CESAM colabora com as administrações portuárias, nas componentes da segurança marítima, em embocaduras com serviços operacionais de estimativa em tempo real de indicadores batimétricos e oceanográficos. Presentemente, o CESAM tem duas estações piloto nos Portos da Figueira da Foz e na Ericeira em fase de implementação.

No próximo dia 2 de dezembro, pelas 14h30, a Direção-Geral de Política do Mar (DGPM) vai promover a IV Sessão de Apresentação dos Projetos aprovados pelo Programa Crescimento Azul dos EEA Grants 2014-2021, na área da Literacia do Oceano.

Esta iniciativa, em formato virtual, pretende dar a conhecer os projetos que proporcionem, através de campanhas e atividades, a tomada de consciência da sociedade para as principais problemáticas que o Oceano enfrenta.

Este evento conta com a participação de Catarina Eira, que irá apresentar o projeto Ecomare: SOS Animais Marinhos.

Consulte o programa.

Inscrições gratuitas, mas obrigatórias.

A webtalk “Emerging Contaminants in the Environment: Behaviour and Screening Methodologies” terá lugar no dia 6 de dezembro, às 14h

Os certificados de participação podem ser solicitados. 

Evento gratuito, mas sujeito a registo:  https://forms.gle/YxcPCfxsETCtQCft5

 

Oradores:

Joana Prata (UA)

Aleksandra Tubi? (University of Novi Sad, Serbia)

Damià Barcelò (Catalan Institute for Water Research, Spain & Editor-in-chief of the Science of the Total Environment journal)

Programme

 

 

Os resultados provisórios da 4ª edição do Concurso Estímulo ao Emprego Científico Individual já são conhecidos. Foram atribuídos 14 contratos a investigadores do CESAM: 6 contratos de Investigador Júnior, 7 de Investigador Auxiliar e 1 de Investigador Principal, com a taxa de sucesso de 11.1%. 

Mais informação em: https://bit.ly/3cKk6ds

O “ECOMARE: SOS Animais Marinhos”, projeto liderado pelo CESAM da Universidade de Aveiro (UA) sobre literacia do Oceano, foi lançado num workshop inaugural que decorreu a 15, 16 e 17 de novembro, no formato online.

Biólogos da equipa do Centro de Reabilitação de Animais Marinhos do ECOMARE (CRAM-ECOMARE), deram a conhecer o seu trabalho a várias turmas das designadas “Escolas Azuis” do agrupamento de escolas da Gafanha da Encarnação e da Gafanha da Nazaré (concelho de Ílhavo), parceiras deste projeto. Uma Escola Azul envolve ativamente a comunidade escolar na compreensão da influência do Oceano nos humanos e da influência dos humanos no Oceano. Integra a comunidade local nas suas ações e interage com os parceiros da rede Escola Azul.

Os alunos puderam assim conhecer o papel do CRAM-ECOMARE e a sua importância na resposta a animais marinhos (como aves, tartarugas e mamíferos marinhos) que são direta ou indiretamente afetados pelas atividades humanas e ainda, descobrir etapas e histórias de reabilitação de alguns animais marinhos admitidos no Centro.

Este projeto de Literacia do Oceano, financiado através do programa Crescimento Azul dos EEA Grants, visa transformar a consciência das pessoas, sobretudo as crianças e jovens em idade escolar, sobre o impacto das atividades humanas no Oceano, na expectativa de alterar as suas atitudes e aumentar a sua participação em atividades que contribuam para um Oceano mais saudável.

Deste modo, o projeto “ECOMARE: SOS Animais Marinhos” irá realizar sessões em colaboração com várias escolas, utilizando tecnologias como a realidade aumentada e Live streaming, nas quais os alunos poderão conhecer melhor os animais marinhos e as suas ameaças, perceber como a poluição e o lixo marinho os pode afetar e aprender sobre o Boto (Phocoena phocoena), um mamífero marinho da costa portuguesa com estatuto de conservação Vulnerável.

As atividades podem alargar-se a outras escolas da região, classificadas ou não como “escolas azuis”, através de eventos online, ou ainda presenciais, desde que salvaguardadas as despesas e os meios de deslocação dos grupos escolares

Sobre a entidade financiadora do Projeto

“Através do Acordo sobre o Espaço Económico Europeu (EEE), a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega são parceiros no mercado interno com os Estados-Membros da União Europeia.

Como forma de promover um contínuo e equilibrado reforço das relações econo?micas e comerciais, as partes do Acordo do EEE estabeleceram um Mecanismo Financeiro plurianual, conhecido como EEA Grants.

As EEA Grants te?m como objetivos reduzir as disparidades sociais e econo?micas na Europa e reforc?ar as relac?o?es bilaterais entre estes tre?s pai?ses e os pai?ses beneficia?rios.

Para o peri?odo 2014-2021, foi acordada uma contribuic?a?o total de 2,8 mil milho?es de euros para 15 pai?ses beneficia?rios. Portugal beneficiara? de uma verba de 102,7 milho?es de euros.

 Saiba mais em eeagrants.gov.pt 

José Alves, membro do DBIO/CESAM, é um dos organizadores da conferência temática da BOU “Developments in monitoring science”, que irá decorrer em paralelo nas plataformas on-line Zoom e Twitter, nos dias 24 e 25 de Novembro, com seis sessões sobre vários tópicos: métodos de monitorização; gestão e ordenamento; tecnologias emergentes; bioacústica; demografia e ciência cidadã. A equipa organizadora é ainda composta por investigadores de outras duas instituições de investigação e conservação: a Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) e o British Trust for Ornithology (BTO).

A monitorização das populações de aves é a base sob a qual se estabelecem as prioridades de conservação e as atividades de investigação e conservação que advém dessas prioridades. Apesar dos métodos tradicionais serem essenciais para os programas de monitorização que decorrem em muitos países de forma uniformizada, o rápido desenvolvimento de novas tecnologias, comunicação on-line e avanços estatísticos oferecem muitas possibilidades que podem permitir melhorar os atuais programas de monitorização e também expandir os mesmos a novas espécies, regiões e habitats.

Para mais informações ver a página da conferência aqui.

 

De 22 a 28 de novembro acontece a semana da ciência e da tecnologia 2021 e o CESAM marca presença com diversas atividades de comunicação de ciência dirigidas ao público em geral e a estudantes de vários níveis de ensino.

Mais informação aqui.