Luís Vaz de Camões escreveu, no século XVI, dois poemas que nos dias de hoje podem ser interpretados com novos significados.
“Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades”
Poderá ser interpretado, passados cinco séculos, como uma alusão às alterações climáticas [1].
Também, no Canto I, o poeta escreveu [2]:
“As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;”
Luís Vaz de Camões (c.1524 – 1580)
Poderá é certo, num mesmo contexto de Descoberta, desta vez com novos significados, os da ciência oceânica, relevar o papel que o Mar sempre teve na nossa identidade.
Os Oceanos, outrora caminhos de descoberta de “gente remota” e de novos mundos são fontes de vida e fornecedores de serviços de ecossistema, debatem-se nos dias de hoje com problemas ambientais graves. Da escrita de Fernão Mendes Pinto, Padre António Vieira e relatos de naufrágios de Bernardo Gomes de Brito transmutamos o que de trágico encerra um naufrágio para as dimensões ecológicas e ambientais, difíceis na abordagem, contudo essenciais a um novo paradigma de sustentabilidade oceânica. As iniciativas no quadro da “Agenda 2030”, nomeadamente dos seus “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS) 14 (e também 13), a “Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável” e a “Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas” demonstram uma preocupação internacional na resolução dos problemas emergenciais que enfrentamos.
A investigação oceânica assume um papel fundamental na prossecução do ODS 14 (“Proteger a Vida Marinha: Conservar e usar de Forma Sustentável os Oceanos, Mares e os Recursos Marinhos para o Desenvolvimento Sustentável”) assim como, os objetivos e resultados pretendidos com as ações da “Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável”.
O CESAM tem vindo a desempenhar o seu papel nesta área sendo uma instituição preparada para os desafios que vivemos. Destaco os projetos “ValorMar – Integral Valorization of Marine Resources: Potential, Technological Innovation and New Applications Programas Mobilizadores – PI: SONAE SA” e “HACON – Hot vents in an ice-covered ocean: the role of the Arctic as a connectivity pathway between ocean basins FRINATEK call in the FRIPRO programme of the Research Council of Norway” como demonstradores de valências, valor societal e internacionalização.
“O Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), com o estatuto de Laboratório Associado desde 2005, é uma das unidades de investigação da Universidade de Aveiro, tendo sido avaliada como ‘Excelente’ pela FCT desde 2014. O CESAM tem como missão desenvolver investigação internacional de excelência, em Ciências do Ambiente e do Mar.” O Mar está bem presente na sua matriz fundadora, constitutiva e funcional.
No próximo ano de 2022 teremos o “Ano Internacional da Pesca e Aquicultura”. O CESAM desenvolve projetos nestas áreas. Destaco os projetos “AquaMMIn – Development and validation of a modular integrated multitrophic aquaculture system for marine and brackish water species Mar2020”, “NutriMo – Development and implementation of community-based aquaculture projects in developing countries in Africa FCT – AKDN” e “FISHAQU – Knowledge Exchange in sustainable Fisheries management and Aquaculture in the Mediterranean region Erasmus+ Programme” como demonstradores da missão do CESAM enquadrada nas necessidades societais e de desenvolvimento sustentável.
O Mar faz parte da nossa cultura e identidade. Possamos nós, pela ciência, dar continuidade a uma história que nos vincula ao Mar.
Coordenador no CESAM da Linha Temática “Ecossistemas & Recursos Marinhos (MER)”
[1] Dias, João. (2016). “Todo o mundo é composto de mudança”. Considerações sobre o clima e a sua história. I – O Sistema Climático Terrestre.
[2] Os Lusíadas – Luís Vaz de Camões – 1572