Quais as zonas da Ria do Alvor mais adequadas à aquacultura de bivalves e de douradas face às alterações climáticas? Uma equipa de investigação do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro (UA) deu resposta à pergunta levantada por muitos dos produtores de uma zona particularmente sensível ao aquecimento e subida das águas do mar. Nesse cenário, o estudo deixa o aviso de que a produção de bivalves pode ser muito afetada.
Situada na costa algarvia, a Ria do Alvor oferece atualmente muito boas condições para o desenvolvimento de uma aquicultura ecológica e sustentável de marisco e peixe. Mas, ao contrário de outras zonas costeiras, ainda não existiam estudos que avaliassem o impacto das alterações climáticas a médio e longo prazo na viabilidade da Ria para a aquacultura. Até agora.
O trabalho do Núcleo de Modelação Estuarina Costeira do Departamento de Física da UA, assinado pelos investigadores Ana Picado, Humberto Pereira, Magda Sousa e João Miguel Dias, identifica quais as zonas, em condições atuais e em contexto de alterações climáticas, mais adequadas para o cultivo em aquacultura de bivalves, como ostras e mexilhões, bem como de peixes, nomeadamente a dourada. O trabalho foi feito através de um modelo numérico que foi capaz de simular as principais características biogeoquímicas deste sistema estuarino.
João Miguel Dias, investigador do DFIS e do CESAM e um dos autores do estudo, indica que “este trabalho resulta de uma linha de investigação em curso no Núcleo de Modelação Estuarina Costeira que visa promover o crescimento sustentável da atividade aquícola em sistemas estuarinos e lagunares portugueses”.
Esta linha de investigação surgiu com o financiamento conseguido através do projeto AquiMap, que juntamente com várias teses de doutoramento no âmbito desta temática, resultou em vários trabalhos publicados em revistas científicas indexadas de elevado impacto sobre o potencial de exploração aquícola da Ria de Aveiro, do Estuário do Sado, das Rias Baixas ou da Ria de Alvor.
Segundo a investigadora Ana Picado, também do DFis/CESAM, os resultados desta investigação indicam que “as regiões mais propícias para aquacultura se situam no eixo do canal principal da Ria do Alvor, embora se verifique uma variabilidade sazonal nos resultados obtidos, dependendo da espécie considerada”. Durante o inverno e o outono, “os bivalves são mais suscetíveis às condições ambientais do que os peixes”. Por outro lado, “a primavera apresenta as condições ambientais mais favoráveis para a produção das espécies consideradas”.
A investigadora salienta ainda que as projeções futuras apontam para “uma diminuição geral do potencial da Ria de Alvor para a produção das duas espécies de bivalves em aquacultura durante o inverno, e do mexilhão durante o verão, principalmente devido ao aumento previsto da temperatura da água”. Por outro lado, “não se espera que os impactos induzidos pelas alterações climáticas afetem a produção de dourada”.
Texto por: Notícias UA on-line