Um dos mais recentes e fascinantes desenvolvimentos da Biologia é a perceção da importância do microbioma na saúde humana e animal e na função dos ecossistemas. Em ambientes marinhos, as esponjas têm sido consideradas um dos modelos de eleição para estudar a relação hospedeiro-microbioma. Estes organismos estão entre os animais mais antigos do planeta e são consideradas um dos maiores reservatórios de diversidade microbiana nos oceanos. No entanto, até agora, não era claro até que ponto os microrganismos associados a esponjas ocorriam noutros biótopos, nem qual era a contribuição de outros hospedeiros para a diversidade microbiana nos recifes de coral.
Vários membros do CESAM e dBio, em colaboração com investigadores de diferentes instituições de Taiwan, Tailândia e Holanda, realizaram um extenso e ambicioso estudo com o objetivo de investigar os microbiomas de mais de 200 biótopos em recifes de coral na região do Indo-Pacífico. Utilizando sequenciação em massa de DNA e o cluster de computação ARGUS da Universidade de Aveiro, foram caracterizadas, pela primeira vez, as comunidades microbianas de algas, corais, pepinos-do-mar, ouriços-do-mar, esponjas, nudibrânquios, quítons, platelmintes, água e sedimento. Os investigadores observaram que um grande número de populações microbianas são compartilhadas entre os diferentes biótopos, suportando a hipótese de Baas Becking que “tudo está em todo lugar, mas o ambiente seleciona”. Ao contrário do que se pensava até agora, as esponjas não são os principais biótopos a contribuir para a diversidade microbiana total dos recifes de coral; outros organismos hospedam comunidades procarióticas mais diversas. Afinal, as esponjas são apenas um componente, embora interessante, de uma metacomunidade muito maior.
Além das implicações ecológicas, este estudo mostra que muito do potencial biotecnológico das esponjas, pode também ser inerente a outros organismos de recifes de coral, abrindo assim as portas para novas fontes para prospeção de recursos microbianos.
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