ver também http://www.cesam.ua.pt/bioemi
Os aerossóis são partículas minúsculas suspensas na atmosfera. Os componentes maioritários do aerossol incluem substâncias inorgânicas (e.g. sulfatos) e espécies carbonosas, as quais se subdividem em carbono orgânico (OC) e carbono elementar (EC). As partículas de aerossol atmosférico afectam profundamente o clima. Os efeitos directos e indirectos exercidos pelos aerossóis antropogénicos no balanço radiativo terrestre são comparáveis em magnitude, mas de sinal oposto, aos causados pelas emissões de gases com efeito de estufa. As partículas finas e os compostos a elas associados são motivo de preocupação pelos efeitos nefastos na saúde. Globalmente, a principal fonte de aerossóis carbonosos é representada pela queima de biomassa. Na Europa, o contributo desta fonte pode representar até 80% da massa do aerossol atmosférico, de acordo com as conclusões de um projecto de investigação recente. Em Portugal, estima-se que 390000 ton/ano de lenha sejam queimadas em lareiras e fogões. Adicionalmente, na última década, os fogos destruíram cerca de 110000 ha/ano de floresta, o que corresponde a uma perda anual de biomassa de aproximadamente 400000 ton. Estas combustões contribuem para a libertação de quantidades elevadas de poluentes tóxicos (radionuclídeos, dioxinas, HAP, etc.) que perturbam enormemente a química da atmosfera. A quantificação rigorosa, à escala regional e global, das emissões de gases e matéria particulada associadas aos fogos florestais e a outras fontes de queima de biomassa é fundamental para vários utilizadores, incluindo cientistas que investigam diversos processos atmosféricos, autoridades governamentais responsáveis a quem é exigida a apresentação de relatórios com as emissões de gases de estufa e todos aqueles que se interessam pela quantificação das fontes de poluição atmosférica que afectam a saúde humana. Na Europa, as bases de dados com factores de emissão detalhados são praticamente inexistentes. Os modelos climáticos, a modelização fotoquímica, os inventários de emissões e os estudos de identificação de fontes emissoras utilizam valores típicos obtidos para biocombustíveis norte-americanos, raros na Europa. Assim, é conveniente utilizar valores mais específicos obtidos localmente. Este estudo visa quantificar a contribuição para as concentrações de gases e aerossóis atmosféricos das fontes de queima de biomassa mais representativas da realidade nacional e determinar a variação sazonal e espacial destas emissões, combinando experiências de amostragem em laboratório e no campo. Com base em inventários existentes, seleccionar-se-ão as espécies vegetais e as fontes de combustão que mais contribuem para as emissões. Depois, estabelecer-se-á um programa de amostragem contemplando um sistema de diluição e envelhecimento para determinar as taxas de emissão de poluentes gasosos e particulados, incluindo a composição metálica e orgânica dos aerossóis. De forma a aplicar técnicas de identificação de fontes com traçadores químicos, as diferenças na composição da biomassa lenhosa queimada nas várias regiões deverá ser examinada. Será realizada uma avaliação à escala nacional dos gases de emissão e dos compostos orgânicos, metais e radionuclídeos na fase particulada resultantes da queima das espécies (pinheiros, eucalipto, etc.) e dos processos de queima mais representativas (fogos florestais e combustão doméstica). Os perfis de emissão de compostos orgânicos serão determinados pela análise por GC-MS das amostras representativas das várias fontes e processos de combustão. Serão estabelecidas as taxas de emissão de importantes traçadores de queima específicos de espécies lenhosas nacionais (e.g. celulose, ácidos resínicos termicamente alterados, compostos do tipo siringol e guaiacil, levoglucosano, ceras vegetais, radionuclídeos, etc.), cuja representatividade varia significativamente com a espécie lenhosa e o tipo de combustão. Ponderando os resultados das experiências de caracterização das emissões da queima em lareiras e fogões e das plumas dos incêndios florestais com a disponibilidade de cada espécie lenhosa em cada região, as quantidades de biomassa queimada no sector doméstico, as áreas e as coberturas vegetais ardidas, será possível produzir estimativas globais de emissão. Além de contribuir significativamente para o aperfeiçoamento dos inventários de emissões, as taxas de emissão estimadas para vários compostos traçadores, poderão ser aplicadas em modelos de balanço mássico de forma a avaliar a contribuição da queima de biomassa para os níveis de aerossóis atmosféricas e seus constituintes medidos em várias regiões europeias no decurso de projectos de investigação anteriores.