Os mamíferos marinhos são um grupo chave como sentinelas de perturbação do ambiente marinho, representando o estado geral e sanitário de outras espécies de níveis tróficos inferiores. Estudos de longa duração sobre estes predadores de topo de vida longa produzem informação sobre a exposição a xenobióticos e efeitos no ecossistema. No caso do roaz corvineiro e do boto, ambas as espécies estão incluídas no Anexo II da Directiva Habitats e assim, tanto Espanha como Portugal estão obrigados a definir e aplicar medidas de conservação para estas espécies, o que é dificultado pela falta de dados científicos.
Várias doenças emergentes, algumas com potencial epizoótico e zoonótico, têm patogénese complexa envolvendo vários cofactores (condição corporal, nível de contaminantes, genética e disfunção imunológica). Neste tipo de estudos nunca foi possível propor um desenho experimental típico, porque não podemos estimar o número de amostras a analisar ou definir populações controlo e tratadas, escolher a dose de exposição ou agente patogénico, ou controlar parâmetros ambientais.
Este projecto será o primeiro esforço sistemático para avaliação do estado da população em termos sanitários, não só para monitorizar os riscos das próprias populações mas também para podermos usá-las como sentinelas da saúde dos ecossistemas marinhos da bacia Atlântica da Peninsula ibérica. A abordagem metodológica, baseada na Medicina da Conservação, é inovadora uma vez que a amostragem dos mamíferos marinhos será baseada na aplicação do método clássico de organismo tratado versus controlo, numa tentativa de validar o uso do método epidemiológico para determinar níveis de efeitos potenciais nas populações de fauna marinha