COACH – Uma abordagem cooperativa aplicada à conservação e gestão de berbigões

Coordenador

Luísa Virgínia de Sousa Magalhães

Programa

Fundo para a Conservação dos Oceanos

Datas

01/03/2020 - 31/12/2022

Financiamento para o CESAM

56.775 € €

Financiamento Total

56.775 € €

Entidade Financiadora

Oceanário de Lisboa e Fundação Oceano Azul

Instituição Proponente

Universidade de Aveiro

URL / WWW

http://coach.web.ua.pt/

Os bivalves constituem uma componente essencial dos ecossistemas estuarinos e costeiros uma vez que representam uma proporção elevada da fauna bentónica total. Esta classe de organismos inclui muitas espécies-chave que desempenham um papel importante nas comunidades ecológicas e no funcionamento do ecossistema. Os bivalves são considerados engenheiros do ecossistema porque através do seu hábito de alimentação por filtração e da sua atividade de escavação, criam, modificam e mantêm habitat para outras espécies viverem. Para além disso, eles fornecem condições estruturais para outros invertebrados se estabelecerem e ocupam uma posição crucial dentro da cadeia alimentar. Os bivalves estão ligados aos produtores primários através do seu hábito suspensívoro e relacionados com os níveis tróficos mais elevados como presa de muitas espécies de aves, peixes, crustáceos e equinodermes. Algumas espécies de bivalves são ainda a base de importantes atividades comerciais e por isso a fonte de diversos serviços do ecossistema. Devido a todas estas características, os bivalves contribuem significativamente para a biodiversidade e resiliência dos ecossistemas. Desta forma, a identificação dos fatores que podem modular a sua dinâmica populacional e consequentemente a sua conservação revela ser de importância extrema. O berbigão Cerastoderma edule (Bivalvia: Cardiidae) é um bivalve que vive em sistemas marinhos semi-abrigados ao longo da costa nordeste do Oceano Atlântico, do Mar de Barents à Mauritânia onde é nativo e muitas vezes dominante. Os berbigões desempenham um papel crucial no ecossistema, sendo um elo importante entre cadeias alimentares. Estes organismos são ainda responsáveis por vários serviços do ecossistema, como o armazenamento de carbono e a participação no ciclo de energia. Em várias regiões, C. edule é uma espécie intensivamente explorada com alto valor económico. Em Portugal, a apanha de berbigão tem particular relevância socioeconómica, tendo representado 20% do total de capturas Europeias de 2015 o que correspondeu a 5 mil toneladas capturadas e 4,5 milhões de euros em receitas. Na Ria de Aveiro (Portugal), a apanha de berbigão é tradicionalmente realizada por profissionais licenciados. No entanto, a colheita ilegal levada a cabo por mariscadores não licenciados e turistas também ocorre. Para muitas famílias, esta atividade é mesmo a principal fonte de rendimento pelo que representa uma importante questão socioeconómica para esta região. A produção de berbigão a longo prazo apresenta uma variabilidade alta e Portugal não é exceção, onde têm vindo a ocorrer episódios de mortalidade em massa com crescente frequência e intensidade nas últimas décadas e com consequentes efeitos severos nos stocks naturais. Fatores como doenças emergentes, sobrepesca, gestão ineficiente e degradação das condições ambientais têm sido apontados como os principais impulsionadores do declínio da produção de berbigão, o que tem levado a elevados impactos económicos e ecológicos. Este cenário tem graves consequências no fornecimento de serviços do ecossistema, culturais e sociais por parte desta espécie com impactos na estrutura social das comunidades costeiras. Os stocks de bivalves são recursos renováveis desde que seja assegurada a sua capacidade de auto-renovação. Isto requer uma gestão de recursos eficiente; ou seja, um controlo do limite da quantidade de recurso que é colhida, que deve corresponder a um valor que permita a sua sustentabilidade a longo prazo. Apesar da importância da apanha de berbigão na Ria de Aveiro, há ainda uma considerável falta de dados primários inerentes a esta atividade pesqueira (por exemplo, esforço de pesca, distribuição e abundância da espécie-alvo, composição das capturas e capturas não declaradas) e ao seu caráter socioeconómico. Paralelamente, a falta de conhecimento sobre a biologia de C. edule dificulta a implementação de planos de gestão efetivos, comprometendo a exploração sustentável deste recurso vivo a médio prazo. Este estudo surge neste contexto e tem como objetivo recolher informações multifatoriais sobre a pesca de berbigão, a biologia do berbigão e as características físico-químicas dos bancos de berbigão. Esta informação permitirá o desenvolvimento, a curto prazo, de um plano de gestão dinâmico que promova um regime cooperativo de conservação e exploração sustentável deste importante recurso e respetiva atividade pesqueira. Os objetivos específicos deste projeto são: avaliar o desempenho e aptidão da população de berbigões, através da determinação da sua distribuição, abundância, dinâmica e saúde reprodutiva; identificar os principais impulsionadores do declínio e/ou sucesso das populações de berbigão após uma análise exaustiva do esforço de pesca, fatores abióticos e doenças; estimar a distribuição potencial da população de berbigão na Ria de Aveiro e prever tendências futuras de distribuição sob diferentes cenários de alterações climáticas através de um mapeamento preditivo de habitats baseado na modelação de nicho ecológico; criar uma ferramenta de apoio para auxiliar a gestão de berbigão e ações de conservação; promover o desenvolvimento sustentável da pesca de berbigão e a consequente melhoria dos serviços económicos, sociais e ambientais para a região, por meio de atividades de comunicação e disseminação e a fundação de uma cooperativa da pesca do berbigão. Estes objetivos serão alcançados combinando trabalho de monitorização, modelação e uma abordagem cooperativa, utilizando metodologia padrão e adaptada, cujo plano estratégico é composto por cinco atividades diferentes. Estas atividades serão realizadas por uma equipa de investigação jovem e multidisciplinar, apoiada por consultores especializados. A ferramenta de assistência que vai ser desenvolvida para apoiar um plano de gestão dinâmico e a criação da cooperativa de pescadores constituem os principais indicadores deste projeto, resultando em iniciativas sustentáveis que contribuirão para a conservação da população de berbigão na Ria de Aveiro.

membros do CESAM no projeto

Rosa de Fátima Lopes de Freitas

Professora Auxiliar com agregação

Simão Pedro Domingues Correia

Estudante de Doutoramento