O longo período de ocupação do território de Timor-Leste teve como consequência, além de todo o sofrimento e destruição causados pela guerra, um desconhecimento da actual situação ambiental do país. De facto, sabe-se muito pouco acerca dos seus ecossistemas, diversidade biológica e mesmo o impacte ambiental de espécies eventualmente introduzidas.
Neste momento, Timor encontra-se num processo de re-organização a vários níveis, nomeadamente na gestão dos seus recursos naturais e humanos, para o qual a Universidade de Aveiro está bastante empenhada em contribuir no processo de formação dos timorenses, nomeadamente a nível das licenciaturas e pós-graduações no domínio das ciências biológicas. Por outro lado, encontrando-se este povo num estado de extrema pobreza, é fundamental e urgente estabelecer estratégias neste território, no sentido de inventariar, explorar e rentabilizar os seus recursos ambientais com o intuito de fazer frente a diversas carências básicas da população, como sejam a alimentação, saúde e mesmo gestão dos seus recursos florestais que, segundo a Missão Agrícola Portuguesa em Timor, estão a ser objecto de extensas queimadas.
Desde sempre o povo timorense tem tentado tirar partido da luxuriante vegetação desta ilha aproveitando-a na sua alimentação, medicina tradicional e produção de madeiras preciosas como o relatam os diversos trabalhos elaborados sobre a vegetação vascular destas paragens, por investigadores estrangeiros e portugueses, dos quais se destaca Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes como o português, embora botânico amador, que melhor deu a conhecer a flora timorense, não só pelas herborizações realizadas entre 1946-1947, como pelos vários trabalhos publicados.
Num esforço para uma gestão sustentada dos recursos florísticos e humanos da região, propõe-se com este projecto elaborar um levantamento junto da população indígena, com a colaboração de timorenses, eventualmente estudantes, das plantas por eles utilizadas com fins alimentares, medicinais e florestais. Deste inquérito junto da população resultará, com certeza, uma colecção de plantas que serão devidamente identificadas e posteriormente seleccionadas, consoante as características apresentadas, no sentido de serem estudados aspectos relacionados com o seu potencial valor alimentar, medicinal e florestal. Serão elaborados estudos ao nível mineral, vitamínico, proteico, etc., bem como ao nível das condições bióticas e abióticas do solo (ex: stresse salino, interacções simbióticas de micorrizas) e transporte membranar nas plantas, importantes em estudos de propagação de plantas com vista à reflorestação.
Este estudo multidisciplinar será, sem qualquer dúvida, uma mais valia no aproveitamento e gestão dos recursos florísticos e humanos de Timor-Leste, bem como uma contribuição importantíssima para o conhecimento da flora da região e suas potencialidades a nível medicinal, alimentar e florestal, bem como um ponto de partida em investigações futuras nestes domínios, ou mesmo uma base para futuros desenvolvimentos biotecnológicos e industriais aproveitando e rentabilizando os recursos humanos da região entretanto formados.
