A exposição a contaminantes químicos nos primeiros 1000 dias de vida tem sido associada a alterações de saúde, constituindo um domínio emergente de pesquisa, fundamental para o conhecimento do exposoma humano.
Os contaminantes químicos presentes nos alimentos, como as micotoxinas, são compostos tóxicos com efeitos carcinogénicos, nefrotóxicos, hepatotóxicos e imunossupressores. A mucosa intestinal é a primeira barreira biológica encontrada pelos alimentos após a ingestão, sendo pouco conhecidos os potenciais efeitos decorrentes de uma exposição humana precoce a estes contaminantes. Estudos recentes evidenciaram que as crianças portuguesas até aos 3 anos estão expostas a múltiplas micotoxinas através da alimentação, o que constitui um risco potencial para a sua saúde. Neste contexto, questiona-se qual o impacto de uma exposição precoce a micotoxinas (EPM) na saúde da criança e do futuro adulto. Por forma a avaliar esta hipótese, o projeto earlyMYCO pretende responder a várias questões: estarão as grávidas e lactentes até aos 6 meses de idade expostos a micotoxinas? Esta exposição representa um risco para a sua saúde? A exposição precoce a micotoxinas produz alterações no desenvolvimento do sistema imunitário gastrointestinal (SIG)? Qual é a carga de doença (burden of disease) atribuída a esta exposição?
Para responder a estas questões, serão desenvolvidos estudos em cinco domínios: i) recrutamento de grávidas e lactentes, colheita de alimentos e amostras biológicas, liderado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), em colaboração com o Agrupamento de Centros de Saúde Lisboa Central (ACES); ii) avaliação da exposição a micotoxinas na população recrutada, através de biomarcadores de exposição, liderada pelo Instituto Ricardo Jorge (INSA); iii) ensaios experimentais in vivo para avaliar os efeitos da EPM no SIG, liderado pela Fundação Champalimaud (FC); iv) abordagem metagenómica usando amostras obtidas em iii) para avaliar os efeitos da EPM na microbiota intestinal, liderada pela Universidade de Évora (UE); e v) integração final dos dados epidemiológicos e experimentais para caracterizar o risco associado à EPM, liderado pelo INSA. A colaboração multidisciplinar será o suporte fundamental para o desenvolvimento deste projeto promovendo a comunicação eficaz entre as ciências médicas, saúde pública e toxicologistas. Pela primeira vez em Portugal, será criada uma rede que reúne domínios complementares para avaliar a exposição precoce a micotoxinas, que poderá ser alargada ao estudo de outros contaminantes químicos. Será também iniciada uma estrutura preliminar de um biobanco de base populacional, que permitirá a avaliação da exposição das crianças a outros contaminantes, contribuindo para a criação de uma plataforma nacional de biomonitorização humana. A nível internacional, o earlyMYCO permitirá a obtenção de resultados originais e de elevado impacto sobre os efeitos da EPM no intestino e o consequente impacto na saúde.