Ecologia alimentar, movimentos e abundância de uma ave consumidora de presas mesopelágicas: novas técnicas e ideias para desvendar mistérios profundos

Coordenador

Maria Dias

Investigador Responsável CESAM

José Pedro Granadeiro & Teresa Catry

Datas

01/04/2012 - 31/03/2015

Financiamento Total

124250 €

Instituição Proponente

ISPA - Instituto Universitário, Lisboa

Instituições Participantes

  • Parque Natural da Madeira

As aves marinhas apresentam uma ampla distribuição pelos vários oceanos, e desempenham um importante papel como consumidores nas teias tróficas marinhas. Na última década, o desenvolvimento das tecnologias de seguimento dos movimentos destas aves em ambientes pelágicos, a par com informação relativa à dieta, demografia e parâmetros oceanográficos, resultaram num enorme progresso no estudo da sua ecologia espacial. Por serem relativamente fáceis de estudar e monitorizar, as aves marinhas são cada vez mais utilizadas como indicadores do ambiente oceânico. Muitas destas espécies encontram-se também actualmente ameaçadas, pelo que o estudo da sua ecologia é também relevante no auxílio à definição de medidas de conservação, no planeamento e gestão das pescas e na criação de áreas marinhas protegidas.
Até ao momento, a grande maioria dos estudos relacionados com a ecologia alimentar das aves marinhas incidiram sobre predadores epipelágicos. Com a excepção do Pinguim-rei Aptenodytes patagonicus, nenhuma outra ave marinha predadora de espécies mesopelágicas foi estudada em detalhe. Isto deve-se ao facto da maioria destes predadores serem procelariformes de pequenas dimensões os quais, apesar da sua abundância, são difíceis de estudar por motivos variados. Por um lado, os seus conteúdos estomacais estão frequentemente muito digeridos, dificultando a identificação morfológica das presas. Devido ao reduzido tamanho destas aves, o estudo dos seus movimentos tem estado limitado pela capacidade de miniaturização dos aparelhos de seguimento. Por último, mesmo a estimativa da sua abundância tem-se revelado uma tarefa problemática, devido ao facto de nidificar em cavidades de difícil acesso.
Aproveitando os mais recentes desenvolvimentos tecnológicos, pretendemos realizar o primeiro estudo detalhado da ecologia de uma ave predadora de espécies mesopelágicas, a Alma-negra Bulweria bulwerii. Esta espécie distribui-se pelos mares
tropicais e sub-tropciais dos oceanos Atlântico e Pacífico; no Atlântico NE, nidifica nas ilhas dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. No arquipélago da Madeira, e em particular nas Desertas e nas Selvagens, é extremamente abundante, mas muito pouco se sabe acerca da sua ecologia. Os poucos estudos feitos apontam para uma dieta constituída sobretudo por peixes (sobretudo Myctophidae e Sternoptychidae) e cefalópodes mesopelágicos; não existe, no entanto, qualquer estudo detalhado da sua dieta no Atlântico. As suas principais áreas de alimentação e destinos migratórios são completamente desconhecidos.
Os peixes da família Myctophidae são extremamente abundantes, desempenhando muito provavelmente um papel bastante importante na teia trófica marinha. No entanto, por não serem explorados comercialmente e por serem difíceis de amostrar, muito pouco se sabe acerca da sua ecologia e distribuição. Ao estudar um predador especialista nestas espécies, esperamos também contribuir para o aumentar o conhecimento sobre a distribuição e disponibilidade destes organismos. A abordagem genética ao estudo da dieta constitui um campo de investigação em franco desenvolvimento. Apesar do seu grande potencial para a análise da dieta de aves marinhas, comprovada por alguns testes experimentais, muito poucos estudos até ao momento tiraram proveito deste método. Neste projecto iremos, pela primeira vez, aplicar esta técnica para estudar a dieta de uma ave pelágica. Para tal contamos com a participação de peritos mundiais na aplicação destes métodos. Os resultados obtidos serão comparados e complementados com dados recolhidos pelas técnicas convencionais e pela análise de isótopos estáveis. Para além de fornecer dados pioneiros acerca da dieta das almas-negras, esta abordagem irá também contribuir para o próprio teste e desenvolvimento da aplicação de técnicas moleculares no estudo da dieta das aves.
O estudo dos movimentos de alimentação e migratórios das almas-negras será efectuado através do seguimento individual das aves, recorrendo para tal aos recém-criados micro-GPS e geolocators. Os dados da dieta e dos movimentos serão ainda combinados com informação referente ao crescimento das crias e a variáveis ambientais, de forma a estudar a influência da variabilidade espacio-temporal das condições oceanográficas na disponibilidade de alimento e abundância relativa de diferentes espécies-presa. Uma perspectiva mais ampla desta questão será abordada ao comparar dados recolhidos em ambientes sub-tropicais (Selvagens e Desertas) e tropicais (Ilhéu Raso, Cabo Verde).
Outra grande inovação deste projecto será a tentativa pioneira de estimar a abundância de aves marinhas que nidificam em cavidades. Usando como modelo a (extremamente abundante) população de almas-negras que nidifica na ilha Deserta Grande, iremos idealizar novos métodos para estimar a abundância deste tipo de aves, baseados em 1) modelos de captura-recaptura e 2) modelos baseados em informação sobre a densidade relativa e distribuição das aves no mar.

membros do CESAM no projeto

José Pedro Granadeiro

Professor Associado com Agregação

Teresa Catry

Investigadora Auxiliar