Os fogos destroem todos os anos cerca de 100 000 ha das zonas rurais Portuguesas (Pereira et al., 2005), na sua maioria florestas. Espera-se que a frequência de fogos florestais se mantenha ou aumente no futuro, devido tanto à natureza da floresta Portuguesa, como a possíveis cenários de alterações climáticas que poderão aumentar a ocorrência de condições meteorológicas propícias a fogos (Pereira et al., 2006). Estes factores sublinham a importância de avaliar e mitigar as consequências dos fogos.
Nas regiões Mediterrânicas húmidas, como é o caso do noroeste e do centro de Portugal, as zonas incendiadas sofrem um aumento do escoamento superficial de água e da erosão (Shakesby et al., 1993) com o consequente aumento dos riscos de cheia e de degradação do solo. O Instituto da Água (INAG) efectuou uma tentativa de avaliação das consequências dos fogos de 2003 para a erosão do solo, utilizando a equação universal de perda do solo (USLE). No entanto, esta aproximação tem três grandes desvantagens:
1) os métodos utilizados (USLE) são inadequados para avaliar a erosão do solo a curto prazo, e até mesmo como indicadores de erosão (Morgan, 2005), sendo que neste caso o método não foi avaliado com dados de campo para assegurar a sua aplicabilidade;
2) referiu-se apenas às condições imediatamente após os fogos, quando estas tendem a modificar-se com o tempo à medida que as caracteristicas do solo, nomeadamente a repelência à água, se alteram, e o coberto vegetal recupera;
3) referiu-se unicamente a riscos e consequências para as encostas ardidas, ignorando efeitos a jusante como o aumento da erosão por ravinas e nos cursos de água, ou o aumento do sedimento exportado para os rios e estuários.
Os problemas 1 e 2 estão neste momentos a ser respondidor por um outro projecto de investigação, o EROSFIRE I (POCI/AGR/60354/2004). Este projecto testou uma série de métodos para avaliar a erosão em encostas ardidas contra medições em zonas incendiadas do centro de Portugal, as quais começaram a ser efectuadas imediatamente após fogos florestais e continuaram durante vários meses, à medida que a vegetação voltou a crescer e os impactos sobre o escoamento e erosão se tornaram menos severos. O objectivo do projecto é produzir uma ferramenta de avaliação do risco de erosão para áreas ardidas baseada no estado-da-arte da ciência, bem como em observações no terreno.
O projecto EROSFIRE II pretende:
1) testar esta ferramenta de avaliação com mais dados, desta vez focando-se também nas diversas práticas de gestão florestal e medidas de mitigação da erosão;
2) responder ao 3º problema do método INAG – avaliar as consequências dos fogos florestais para o risco de erosão do solo a jusante das áreas ardidas, construindo para tal uma ferramenta espacialmente distribuída e baseada em modelação.
A ferramenta desenvolvida nos projectos EROSFIRE I e II contribuirá de forma significativa para informar os gestores de áreas ardidas sobre as medidas necessárias à minimização dos impactos de fogos florestais nos terrenos ao seu cuidado. Também dará informação sobre alterações ao escoamento de água e sólidos suspensos transportados para rios e estuários aos gestores de recursos hídricso, contribuindo desta forma para a gestão integrada de bacias hidrográficas.