Neste projecto propomo-nos examinar extensivamente uma zona híbrida entre duas raças metacêntricas do ratinho caseiro na ilha da Madeira. Nesta ilha existem seis raças metacêntricas, duas das quais entram em contacto e hibridam ao longo de faixa de 4Km na zona oeste da ilha. Dadas as suas diferenças cromossómicas, é esperado que estas raças produzam híbridos metacêntricos de baixo fitness. Curiosamente, tais híbridos são extremamente raros na zona híbrida,que é por sua vez dominada por uma forma telocêntrica composta pelos cromossomas específicos de cada uma das raças na sua condição telocêntrica ancestral. Essencialmente, em vez de uma única zona de contacto entre raças metacêntricas existem dois pontos de contacto entre a forma telocêntrica e a raça metacêntrica de cada um dos lados, tendo qualquer um deste híbridos um fitness muito superior ao dos híbridos metacêntricos.
Como resultado esta 'zona híbrida dupla' pode de facto não costituir tanto uma barreira ao fluxo genético em termos de fitness dos híbridos, mas funcionar mais em termos de supressão da recombinação do que uma única zona híbrida entre raças metacêntricas. Tal situação levanta diversas questões: i) Será a dupla zona híbrida mais ou menos eficiente que uma zona híbrida única (standard) relativamente à redução de fluxo genético entre raças cromossómicas? ii) Qual é a importância relativa dos híbridos de baixo fitness versus a supressão da recombinação relativamente à barreira de fluxo genético? iii) Pode o isolamento reprodutor desenvolver-se neste sistema? Em suma, estarão as duas raças em processo de especiação na presença de fluxo genético ou a 'despeciar'? A zona híbrida formada por estas duas raças representa um sistema fascinante para investigar aspectos fundamentais do processo de especiação envolvendo rearranjos cromossómicos.
Este projecto constrói-se sobre um vasto número de trabalhos anteriormente conduzidos no sistema madeirense, relativamente à variação cromossómica do ratinho caseiro.