Actualmente é do conhecimento público que os compartimentos ambientais estão em risco iminente devido ao elevado nível de xenobióticos que são libertados e que os ecossistemas aquáticos são, geralmente, o seu destino final. Mas, a presença de um composto químico e/ou dos seus metabolitos não indica, por si só, a presença de efeito deletérios. Para determinar e estabelecer relações fiáveis entre exposição, níveis internos nos organismos e efeitos adversos é necessário efectuar e desenvolver vários estudos sobre o assunto. Os compostos químicos, e principalmente os persistentes e hifrofóbicos, têm um elevado potencial de serem acumulados em organismos aquáticos através de diversas vias de entrada: directamente da água (ex. em peixes através das guelras ou pele), via partículas suspensas na água (ex. no caso de organismos filtradores) e via consumo de alimento contaminado. Mesmo quando não são determinados efeitos agudos ou crónicos nos organismos, o factor bioacumulação deve ser tido em conta como critério na Avaliação de Risco Ecológico, pois alguns efeitos poderão aparecer apenas em fases mais tardias do ciclo de vida do organismo, em gerações futuras ou em níveis mais elevados da cadeia trófica, onde pode ocorrer biomagnificação.
Nos dias de hoje, estudos sobre a toxicidade, bioacumulação e persistência de compostos químicos são de carácter obrigatório no âmbito da estratégia implementada pelo REACH, onde uma atenção especial é dirigida para substâncias que sejam (muito) persistentes, bioacumuláveis ou tóxicas (PBT). Tendo estes factores em conta, neste projecto temos como objectivo estudar o fluxo de químico(s) numa cadeia trófica aquática, e compreender o modo como os químicos se acumulam desde os produtores primários até aos consumidores secundários. Para estudar uma pequena cadeia trófica modelo, um organismo produtor deve ser incluído como base do estudo. As microalgas têm uma função importante na manutenção do equilíbrio dos sistemas aquáticos. Na bibliografia as algas têm também sido mencionadas como potenciais bioacumuladoras de compostos químicos, como metais ou pesticidas, sendo consideradas como a porta de entrada de poluentes nas cadeias tróficas aquáticas. Como segundo ponto da cadeia trófica, o cladócero Daphnia magna poderá ser uma boa escolha como consumidor primário. Estes organismos alimentam-se de algas unicelulares e podem fazer a ponte para o nível seguinte da cadeia trófica, os peixes, como consumidores finais, nesta cadeia trófica. Ter os peixes como consumidor final nesta cadeia trófica modelo, pode originar informação crucial. Testes de bioacumulação em peixes podem, num passo futuro, dar informação sobre a possível transposição dos compostos químicos do ambiente para os humanos, e avaliar os seus potenciais efeitos na saúde humana.
Tendo todos estes factores em conta, inicialmente neste projecto serão executados e desenvolvidos testes de bioacumulação com algas, dafnídeos e peixes, e como via principal de exposição dos compostos químicos o meio aquático. Após conhecermos as concentrações máximas que poderão ser bioacumuláveis dentro de um estado de equilíbrio, sem ocorrência de morte, novas experiências serão levadas a cabo onde a exposição será feita através de alimento contaminado biologicamente (predador/presa). Estes procedimentos serão feitos também para misturas de químicos. Finalmente, todos os passos seguidos serão compilados e experiências simultâneas serão efectuadas com todos os níveis da cadeia trófica presentes, com exposição a químicos isolados ou em misturas. Esta abordagem permitirá testar as hipóteses de que 1) a qualidade do plâncton (fito e zooplâncton) têm uma função crucial no controlo do equilíbrio das cadeias tróficas aquáticas e que 2) as abordagem com químicos isolados não conseguem, por si só, transpor resultados e conclusões para cenários reais.