Até recentemente, os efeitos dos fogos nas comunidades lóticas dulceaquícolas têm sido mal documentados. Apesar do progresso verificado nos últimos anos, os dados publicados referem-se principalmente a estudos efectuados na América do Norte, sendo escassa a informação relativa aos rios Europeus. Dada a importância do contexto geográfico regional, quer nos efeitos do fogo no meio ambiente quer na resiliência das comunidades, a lacuna no conhecimento biogeográfico representa uma limitação à implementação de medidas de gestão sensíveis ao meio ambiente em áreas susceptíveis ao fogo. Esta falta de informação representa um risco acrescido para os ecossistemas lóticos afectados, podendo ser um impedimento à recuperação ecológica e, consequentemente, enfraquecer os esforços de uma gestão sustentável do ambiente. Mais de 36% do território Português está coberto por floresta, perfazendo uma área de aproximadamente 3 milhões de hectares. Os fogos de verão não controlados representam um importante processo de perturbação paisagística, tendo sido mais de 228,739 os fogos registados em Portugal na última década (1990-2000). 2006 foi um dos piores anos, com 215,000 hectares de floresta queimados, ao mesmo tempo que as previsões apontam para um aumento dos fogos florestais como resultado das alterações climáticas. Apesar da escala e frequência deste factor anual de perturbação ambiental e do seu devastador impacto ecológico e económico, os seus efeitos nos ecossistemas de rios portugueses permanecem desconhecidos. O projecto proposto providenciará um estudo sistemático dos efeitos do fogo nos ecossistemas de rios de Portugal. Serão usadas metodologias de análise padronizadas com base em peixes e macroinvertebrados, para descrever as respostas das comunidades ecológicas e do habitat às mudanças associadas com o fogo. Através de levantamentos numa série de locais, os investigadores documentarão a resposta inicial de peixes e macroinvertebrados ao fogo e a subsequente dinâmica das comunidades associada a perturbações adicionais, tais como “eventos de precipitação” que são, na maioria das vezes, mais nefastos do que o fogo propriamente dito. Enquanto estes levantamentos irão cobrir os estádios iniciais da recuperação ecológica, serão também usados dados históricos para identificar sítios afectados pelo fogo numa escala temporal (até há 20-30 anos) providenciando informação cronológica sobre a recuperação ecológica a longo prazo. Para além de fornecer provas que podem ser usadas para pôr hipóteses sobre os processos mecanísticos associados aos impactos pelo fogo, a informação obtida irá ser usada para criar uma série de ferramentas de diagnóstico com a intenção de identificar rios mais sensíveis ao fogo, prever a gravidade da perturbação ecológica após um determinado fogo e fornecer uma medida relativa da degradação induzida pelo fogo.