As gravuras rupestres do Vale do Côa evidenciam uma ligação ancestral dos ungulados ao Homem. Com o advento da tração animal, o Homem alterou as paisagens mediterrânicas durante séculos; a agricultura intensiva conduziu à degradação dos ecossistemas naturais e ao declínio da biodiversidade, incluindo a redução em número e distribuição de ungulados silvestres. O Vale do Côa, atualmente caracterizado por um êxodo rural sem precedentes, é visto como uma oportunidade para a renaturalização e restauração dos ecossistemas, através do ‘rewilding’ trófico, i.e., processo através do qual herbívoros de médio/grande porte são reintroduzidos em áreas das quais desapareceram devido à ação humana. Este conceito é controverso, pois não existem evidencias significativamente robustas que apoiem a sua implementação. O Vale do Côa constitui um laboratório natural, onde o papel dos ungulados como “engenheiros de ecossistemas” pode ser testado e quantificado. O projeto rWILD-COA fornecerá o conhecimento necessário à implementação de ecossistemas sustentáveis. Integrando valências de várias disciplinas (e.g. ecologia, microbiologia, veterinária), o rWILD-COA tem como objetivos i) determinar o papel direto e/ou indireto dos ungulados na atenuação ou intensificação das alterações na riqueza e diversidade das espécies face a cenários de perturbações ambientais (e.g. aquecimento global), ii) prever o impacto dos ungulados nos processos ecológicos e funcionais do solo (e.g. atividade microbiana, ciclos biogeoquímicos), e estudar como estas atividades influenciam a estrutura da vegetação e a comunidade de invertebrados através da medição do ciclo de nutrientes, iii) avaliar os efeitos da pastorícia extensiva e intensiva na mitigação do risco de incêndio, e iv) analisar os efeitos da competição por recursos na qualidade da dieta e parâmetros fisiológicos dos animais reintroduzidos. O projeto rWILD-COA, contribuirá para a restauração dos ecossistemas Mediterrânicos e para a emergência de economias baseadas nos recursos naturais.