SHIFT – Avaliação do potencial de ensaios alternativos para a integração nas baterias de análise de risco de poluentes em sistemas lóticos

Coordenador

Tânia Daniela da Silva Vidal

Programa

Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico - 2014 (PTDC/ATP-EAM/0063/2014)

Datas

01/01/2016 - 31/07/2019

Financiamento para o CESAM

160944 €

Financiamento Total

160944 €

As comunidades de perifíton têm sido largamente utilizadas em programas de avaliação da qualidade da água, seguindo as recomendações da legislação aplicável, que, no caso da Europa, consiste na Diretiva Quadro da Água (DQA). Nos sistemas lóticos, as comunidades de microalgas bentónicas são de facto unidades ecológicas relevantes, já que estão na base da rede trófica, são bioestabilizadoras dos sedimentos e regulam os ciclos de nutrientes bentonico-pelágicos; neste contexto, são assumidamente bioindicadoras da qualidade da água de cursos de água. Por outro lado, não tem sido dada muita atenção à integração de diatomácias perifíticas nas baterias normalizadas de avaliação ecotoxicológica características dos programas de análise de risco ecológico de contaminantes, sendo que têm sido dada prioridade às macrófitas e às microalgas verdes planctónicas, cujo papel nos ecossistemas lóticos é negligenciável. Este enquadramento justifica a necessidade de investir no estabelecimento de protocolos de teste que considerem microalgas bêntonicas ecologicamente relevantes e sensíveis. Têm sido feitas algumas tentativas neste sentido; no entanto, a variabilidade dos resultados dependendo da espécie testada, das condições de cultura e dos parâmetros de teste, e a inconsistência entre respostas dadas por ensaios monoespecíficos laboratoriais e comunidades experimentais têm impedido o estabelecimento de protocolos fidedignos.
Espera-se que o presente projeto produza avanços significativos neste campo e, para o efeito, foi estabelecida uma abordagem por etapas que permite comparar de forma abrangente as respostas a poluentes modelo dadas por espécies de diatomáceas em ensaios monoespecíficos com as dadas por comunidades de diatomáceas, em ambos os casos em ensaios laboratoriais. Foram então estabelecidas cinco tarefas, cada uma com objetivos específicos delineados. A tarefa 1 considera a seleção e caracterização (DQA) dos locais de estudo que suportarão a amostragem de comunidades perifíticas e a seleção dos poluentes modelo que serão utilizados nos procedimentos experimentais previstos nas tarefas subsequentes. A tarefa 2 compreende a avaliação ecotoxicológica dos poluentes modelo selecionados, com enfoque em organismos representativos do compartimento ‘sedimento’. Tal plano incluirá ensaios com organismos bentónicos normalizados e testes monoespecíficos com diatomáceas representativas das comunidades perifíticas recolhidas nos locais de estudo selecionados, assim contemplando a variabilidade ambiental natural. O conjunto de dados resultante desta tarefa permitirá comparar a sensibilidade das diatomáceas bentónicas com a dos organismos normalizados, assim permitindo concluir acerca do potencial da sua integração em baterias ecotoxicológicas de análise de risco ecológico. A tarefa 3 constitui um passo intermédio de preparação para os ensaios laboratoriais previstos na tarefa 4. Pretende-se otimizar as condições de cultura e teste de modo a facilitar o estabelecimento de desenhos experimentais robustos na tarefa 4. A tarefa 4 compreende bioensaios com as comunidades perifíticas, utilizando as comunidades íntegras ou raspadas da superfície dos substratos, com o objetivo de avaliar as respostas destes modelos experimentais aos poluentes selecionados. Da integração destas respostas com o conjunto de dados derivado do trabalho efetuado na tarefa 2 espera-se a reunião de informação relevante para contribuir na discussão acerca da possibilidade de simplificar metodologias de teste para facilitar a inclusão das diatomáceas bentónicas nas baterias de análise de risco. A tarefa 5 complementa a tarefa 4, estendendo a avaliação toxicológica aí realizada às estratégias de recuperação das comunidades no período pós-exposição. Aqui pretende-se esclarecer a sugerida capacidade destas comunidades de rapidamente recuperar de uma exposição pulsada a um agente de stress quando condições mais favoráveis se re-estabelecem, o que é um cenário típico nos ecossistemas lóticos dada a dinâmica do fluxo de água o caráter intermitente da maior parte dos pulsos de contaminação.
Este projeto beneficia da integração das competências da equipa de investigação, que reúnem conhecimentos nas áreas de ecologia, avaliação da qualidade da água e ecotoxicologia, suportando de forma robusta o sucesso da abordagem integradora proposta. Os resultados do projeto ajudarão a preencher lacunas no conhecimento existente acerca dos efeitos de poluentes comuns nos ecossistemas lóticos, assim como contribuirão para o desenvolvimento de bioensaios com diatomáceas bentónicas, logisticamente simples e incorporando parâmetros relevantes de fácil registo e análise. Assim será promovida a inclusão do perifíton, enquanto agente de análise ecotoxicológica, nas rotinas de avaliação da qualidade da água e nos programas de análise de risco ecológico aplicados a sistemas lóticos.

membros do CESAM no projeto

Fernando J. Mendes Gonçalves

Professor Catedrático

Guilherme de Abreu Jeremias

Bolseiro de Investigação

Mário Pereira

Professor Auxiliar

Tânia Daniela da Silva Vidal

Investigadora Doutorada