Um estudo inovador revela a complexidade da diversidade funcional das copas das árvores nas florestas tropicais do mundo, destacando variações significativas entre as regiões das Américas, África e Ásia. Investigadores analisaram mais de 1.800 parcelas de vegetação, combinando dados de campo com imagens de satélite, informações climáticas, topográficas e do solo, para mapear, pela primeira vez, a distribuição detalhada dos traços funcionais das copas das árvores a nível global.
Os resultados mostram que as florestas tropicais das Américas possuem uma riqueza funcional 40% superior à das florestas africanas e asiáticas, refletindo uma maior diversidade de estratégias ecológicas. Em contrapartida, as florestas africanas apresentam a maior divergência funcional, sugerindo que suas espécies ocupam nichos ecológicos mais distintos. As florestas asiáticas, por sua vez, são marcadas pela predominância da família Dipterocarpaceae, o que influencia diretamente sua estrutura funcional.
O estudo evidencia que fatores como clima, relevo e composição do solo desempenham um papel determinante na variação dos traços morfológicos, estruturais e químicos das copas, afetando processos ecológicos essenciais como a transpiração e a fotossíntese. Estes dados desafiam a visão tradicional das florestas tropicais como ecossistemas homogéneos, expondo um nível de diversidade funcional que os modelos globais atuais ainda não capturam de forma adequada.
Para além de contribuir para o avanço da modelação dos ecossistemas globais, as previsões obtidas oferecem uma base científica robusta para estratégias de conservação e adaptação às alterações climáticas. O mapeamento detalhado da funcionalidade das copas permite identificar regiões prioritárias para novos estudos, fornecendo informações essenciais para a gestão sustentável das florestas tropicais e para a mitigação dos impactos ambientais decorrentes das mudanças climáticas.
Este estudo é fruto de uma extensa rede de colaboração internacional, utilizando uma ampla base de dados sobre os traços funcionais dos dosséis florestais. Wagner Tadeu, Doutor em Biologia e Ecologia das Alterações Globais pela UA e atual embaixador CESAM, um dos investigadores envolvidos, destaca que a publicação resulta da sua experiência como doutorando da Universidade de Aveiro, onde se doutorou sob orientação do Professor Carlos Fonseca, que teve na origem o incentivo do Professor Amadeu Soares, que o encorajou, mais um grupo de colegas investigadores do Tocantins, a integrar um convénio de intercâmbio com a UA. A publicação na prestigiada Nature representa um marco inesperado na sua trajetória científica.
Para o Professor Amadeu Soares, este trabalho reflete a capacidade da Universidade de Aveiro, do CESAM e do DBIO em formar cientistas provenientes de contextos diversos, permitindo-lhes alcançar resultados de alto impacto. A colaboração com a Universidade Federal do Tocantins e o Governo do Estado do Tocantins, através de protocolos liderados pelo Prof Amadeu Soares, viabilizou a capacitação de um apreciável número de estudantes, investigadores e docentes do Estado do Tocantins, Brasil, incluindo Wagner Tadeu, que conciliou a academia com a sua atividade empresarial no setor ambiental. De facto, o primeiro edital internacional para bolsas de doutoramento no exterior, lançado em 2012 pela então Fundação de Apoio à Pesquisa do Tocantins, teve como objetivo «conceder bolsas de estudo a alunos matriculados no Programa Doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais, da Universidade de Aveiro (Portugal), cuja área de conhecimento desenvolverá estudos de interesse para o Estado do Tocantins».
Este estudo representa um avanço significativo no conhecimento sobre as florestas tropicais, reforçando a necessidade de políticas baseadas em evidências científicas para a sua preservação e gestão sustentável.
Publicação Revista Nature, 5 de março de 2025, aqui.