Durante as suas viagens entre as áreas de reprodução e de invernada, muitas aves migradoras fazem paragens estratégicas ao longo da rota migratório, que lhes permitem descansar e repôr energia para completar a migração com sucesso. Estas paragens são designadas por “stopover”.
Este novo estudo compara a ecologia de stopover do Pilrito-comum (Calidris alpina) entre a migração primaveril e outonal, no estuário do Tejo – uma importante zona húmida da rota migratória do Atlântico-Este.
O Pilrito-comum é uma ave limícola migradora de longa distância, que usa o estuário do Tejo na época não reprodutora, mas também como área de stopover tanto na migração outonal como na primaveril. Durante a migração primaveril cerca de 30 000 Pilritos-comuns usam o estuário do Tejo como área de stopover por um período médio de 7.5 dias. O tamanho da população e duração do stopover das aves durante a migração outonal é desconhecido, mas os números estimados em programas de monitorização de longo termo, baseados em contagens de aves durante a maré cheia, sugerem que o número de indivíduos que usa o estuário é semelhante durante as duas migrações.
Neste trabalho, as concentrações de metabolitos do plasma e vários parâmetros hematológicos foram combinados de forma a comparar as taxas de reabastecimento energético e o estado fisiológico dos Pilritos-comuns entre períodos migratórios. Adicionalmente, como indicador de qualidade da área de stopover para as aves, foram avaliadas e comparadas a disponibilidade e performance alimentar entre a migração outonal e primaveril.
As taxas de reabastecimento energético e perfis hematológicos dos Pilritos-comuns foram de forma geral semelhantes entre a migração primaveril e outonal, o que sugere estratégias migratórias semelhantes.
A maioria dos Pilritos-comuns que usam o estuário do Tejo como stopover têm provavelmente uma estratégia migratória de “skipping”, fazendo voos de distâncias curtas a médias enquanto vão reabastecendo as energias em várias áreas de stopover ao longo da sua migração. No entanto, os migradores outonais mais precoces mostraram taxas de reabastecimento de energia mais altas e maior capacidade de transporte de oxigênio no sangue, o que sugere que estes se poderão comportar como “jumpers” em vez de “skippers”.
Este estudo foi realizado por Teresa Catry (CESAM-UL), José Pedro Granadeiro (CESAM-UL), Jorge Sánchez Gutiérrez (Universidade da Extremadura) e Edna Correia (CESAM-UL), como parte do projecto MigraWebs (FCT, PTDC/BIA-ECO/28205/2017).
Artigo científico: Catry T, Granadeiro JP, Gutiérrez JS, Correia E (2022) Stopover use of a large estuarine wetland by dunlins during spring and autumn migrations: Linking local refuelling conditions to migratory strategies. PLoS ONE 17(1): e0263031. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0263031