Existe a perceção geral de que os cloroplastos e a fotossíntese são exclusivos de plantas e algas. No entanto, algumas lesmas-do-mar são capazes de incorporar cloroplastos funcionais das algas que lhes servem de alimento. Ao conseguirem lidar com os riscos de incorporar cloroplastos, locais de produção de espécies reativas de oxigénio (https://www.ua.pt/pt/noticias/0/59547), beneficiam dos compostos orgânicos resultantes da fotossíntese para superarem períodos de escassez de alimento (https://www.ua.pt/en/noticias/0/51709). Um estudo publicado esta semana na revista Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, liderado por investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Biologia (DBio) da UA, demonstra que estas lesmas marinhas utilizam também compostos resultante da fotossíntese para potenciar o seu investimento reprodutor (https://doi.org/10.1098/rspb.2021.1779).
Utilizando carbono e azoto inorgânico marcado, os autores localizam produtos da fotossíntese nos órgãos reprodutores das lesmas e em ácido gordos polinsaturados com funções na reprodução. O estudo mostra ainda que a fecundidade dos animais é menor quando a fotossíntese é inibida. Este trabalho confirma a relevância desta associação improvável entre um animal e um organelo vegetal para o sucesso evolutivo destas lesmas marinhas e teve destaque na seção Highlights da revista Nature (https://www.nature.com/articles/d41586-021-02631-2).
O trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto KleptoSlug: Kleptoplasty – The sea slug that got away with stolen chloroplasts, liderado pela investigadora Sónia Cruz e financiado pelo European Research Council (https://www.ua.pt/pt/noticias/16/64194).
Foto: Lesma-do-mar da espécie Elysia timida. A coloração verde deve-se à presença de cloroplastos roubados à alga Acetabularia acetabulum. Credits: Paulo Cartaxana.