ClimVineSafe – Estratégias de curto prazo para mitigação das alterações climáticas na viticultura mediterrânica

Investigador Responsável CESAM

Maria Celeste Pereira Dias

Programa

PTDC/AGR-ALI/110877/2009

Datas

01/04/2011 - 31/03/2014

Financiamento para o CESAM

23.988 €

Financiamento Total

163.582 €

Instituição Proponente

Centro de Investigação e de Tecnologias Agro-Ambientais e Biológicas (CITAB/UTAD)

Instituições Participantes

  • Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID)

Em Portugal, a fileira da vitivinicultura tem uma elevada importância económica, social e cultural, sobretudo nas regiões do interior do país. Uma delas é a região do Alto Douro Vinhateiro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo (desde 1756). A paisagem cultural desta região, designada por Região Demarcada do Douro (RDD), combina a natureza monumental do vale do Rio Douro, feito de encostas íngremes e solos pobres, com a acção ancestral do Homem. Esta relação íntima permitiu criar um ecossistema vitícola ímpar e reconhecido em 2001 pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Nesta região produz-se o famoso vinho do Porto e vinhos de mesa de elevada qualidade. Em termos económicos, o Vinho do Porto representa mais de 60% do valor total da exportação de vinho bem como cerca de 12% do volume de produção de vinhos nacionais (IVV 2008). Nas últimas écadas o sector vitivinícola nacional tem-se modernizado, criando regulamentos mais apertados para a garantia da tipicidade dos vinhos, adoptando práticas culturais mais amigas do ambiente e tecnologias de fabrico de vinho mais controladas, as quais se repercutiram na melhoria significativa da qualidade dos vinhos. Todavia, na RDD ocorrem frequentemente períodos de seca severa em simultâneo com picos de radiação e calor. Nestas condições, a vinha sofre danos irreparáveis. Em geral, a superfície foliar tende a diminuir por escaldão das folhas mais expostas ao Sol, enquanto nas restantes a produção de fotoassimilados cai significativamente. Nestas condições, os cachos, para além de ficarem demasiado expostos ao Sol, acabam por receber menos fotoassimilados, com reflexos negativos no seu potencial enológico. Decorrente da mudança climática global, é cada vez mais consensual que num futuro próximo o clima estival das regiões vitícolas mediterrânicas vai tornar-se mais adverso, acentuando os efeitos negativos atrás referidos. Ao nível da RDD, onde parte do território está já no limite de resistência ao stresse estival, este agravamento poderá comprometer a viabilidade económica da cultura. Como medida de mitigação a estes stresses, em algumas explorações tem-se investido no regadio. Contudo, dadas as fortes limitações naturais em recursos hídricos e a acidentada topografia da região, os sistemas de captação e distribuição de água em larga escala acarretam elevados custos e são dificilmente sustentáveis. Assim, sem desmerecer a utilidade que a rega pode ter na viticultura, é crucial para esta fileira a implementação de medidas de mitigação alternativas, não só em termos económicos mas também em termos de qualidade das uvas e de sustentabilidade ambiental. Entre essas medidas, tem havido um grande esforço para estudar o efeito de substâncias inorgânicas na optimização do microclima luminoso e das relações hídricas das folhas. Na vinha, a informação existente sobre esta temática é ainda escassa e muitas vezes inconclusiva devido às inúmeras variáveis ambientais e fitotécnicas envolvidas.
Este projecto propõe em primeiro lugar desenvolver um modelo que perspective as alterações climáticas à escala da RDD, usando outputs de modelos de circulação regional da atmosfera, de acordo com os cenários do IPCC e em combinação com séries históricas de elementos climáticos da região. Só por si, este estudo permitirá conhecer como deverá reajustar-se, no curto e longo prazo, a fileira vitivinícola para fazer face às supostas alterações climáticas. Em segundo lugar, entre as medidas de curto prazo, o projecto tem como principal motivação avaliar os efeitos da Calda Bordalesa (BM) e do Caulino (K), como agentes protectores das folhas nos períodos de maior insolação e calor, e do Silício (Si) como micronutriente benéfico na indução fisiológica de tolerância ao stress estival. Num 1º ensaio em videiras envasadas pretende-se avaliar a dose mais eficiente de BM, K e/ou de Si a aplicar, em função do estado hídrico e fenológico das plantas e do respeito pelo meio ambiente. Num 2º ensaio, em vinha comercial com pelo menos 3 cultivares tintas representativas da RDD, pretende-se utilizar as formulações que evidenciaram melhores resultados no 1º ensaio. Nestes ensaios serão utilizadas metodologias centradas fundamentalmente na avaliação do comportamento fisiológico, vitícola e enológico das videiras. As tarefas propostas nesta candidatura têm potencial para gerar publicação científica relevante. A modelação atmosférica proposta permitirá a identificação temporal e espacial de tendências, ciclos e extremos climáticos de toda a RDD, podendo isso vir a ser um instrumento fundamental para toda a fileira vitivinícola. As práticas de mitigação propostas, uma vez afinadas e demonstrada a sua viabilidade técnica e económica, têm potencial para se generalizar nas várias regiões vitícolas com clima tipicamente mediterrânico. São também práticas culturais que, com poucas modificações, se podem aplicar a outras culturas mediterrânicas, como a amendoeira e a oliveira.

membros do CESAM no projeto