As partículas em suspensão na atmosfera contêm uma fracção importante de matéria carbonácea, a qual é geralmente classificada em dois componentes principais: carbono negro (CN) e carbono orgânico (CO). O CN é considerado um poluente primário, produzido em resultado da queima incompleta de combustíveis fósseis e biomassa, sendo emitido directamente para a atmosfera na forma particulada. Por esse motivo, é considerado um bom traçador do aerossol carbonáceo com origem em processos de combustão. O CO tanto apresenta uma origem primária como secundária. Enquanto o CO primário é emitido na forma particulada, o CO secundário é formado na atmosfera a partir de compostos orgânicos voláteis, através de processos de conversão gás-partícula.
É hoje um dado praticamente adquirido que o aumento das concentrações de aerossóis de carbono na atmosfera se traduz em impactes climáticos significativos. Na verdade, para além da elevada capacidade de absorção da radiação solar apresentada pelo aerossol de CN, as partículas carbonáceas em geral parecem promover a dispersão da radiação solar, podendo ainda actuar como núcleos de condensação das nuvens. Não obstante as importantes implicações resultantes da presença de partículas de carbono na atmosfera, pouca atenção tem sido prestada ao seu principal sorvedouro: a remoção por deposição húmida. Assim, através deste projecto pretende-se realizar medições a longo prazo das concentrações de partículas de carbono em amostras de água da chuva colhidas simultaneamente num local remoto de características marinhas (Ilha Terceira, Arquipélago dos Açores) e num local costeiro (Aveiro, costa oeste de Portugal Continental) com os seguintes objectivos: obter uma base de dados sobre a deposição húmida de carbono particulado que seja representativa da atmosfera sobre o Atlântico Nordeste; ampliar o conhecimento actual sobre os processos de remoção das partículas de carbono da atmosfera; avaliar diferenças no conteúdo em carbono na precipitação em função da origem das massas de ar e definir a contribuição relativa das fontes de matéria carbonácea de tipo natural e antrópico; avaliar diferenças nos teores de carbono na precipitação entre os dois locais (remoto impoluto e costeiro contaminado), com o intuito de se perceber a extensão dos impactes humanos sobre a troposfera.
Este projecto de investigação será sustentado em dois anos de colheitas diárias de precipitação em ambos os locais, usando colectores de deposição húmida, e na subsequente análise quanto ao conteúdo em CN/CO particulado, através de um método termo-óptico. As colheitas na Terceira tirarão partido das excelentes condições de trabalho actualmente disponíveis no Observatório Experimental da Serreta, pertencente à Universidade dos Açores, localizado na costa ocidental da ilha, numa área isolada de fontes de poluição local. As amostragens em Aveiro serão realizadas num local tão perto quanto possível da linha costeira, com o intuito de se minimizar a contaminação local ou regional de amostras associadas ao transporte de massas de ar sobre o Oceano Atlântico. Em termos globais, este projecto permitirá chegar a novas descobertas sobre os impactes das actividades humanas na atmosfera do Atlântico Nordeste. Mais especificamente, a informação a reunir na sequência destes estudos permitirá aumentar a ainda limitada base de dados sobre os fluxos de deposição húmida da atmosfera global, a qual poderá vir a ser usada para testar modelos do clima, de âmbito regional e global, e assim produzir estimativas mais precisas sobre os efeitos climáticos das partículas de carbono.