O rato-cego (Microtus lusitanicus Gerbe, 1879) e o rato-cego-mediterrânico (Microtus duodecimcostatus de Selys-Longchamps, 1839), de hábitos subterrâneos, são as espécies de Microtus mais comuns em Portugal e Espanha (Madureira & Ramalhinho 1981, Mathias 1999). Ambas as espécies têm uma área de distribuição restrita, que corresponde à Península Ibérica e sul de França (Cotilla & Palomo 2002, Mira & Mathias 2002). Em Portugal, o rato-cego ocorre no norte e centro, enquanto o rato-cego-mediterrânico é encontrado no centro e sul do país (Madureira & Magalhães 1980, Madureira & Ramalhinho 1981). Contudo, apesar de numa escala nacional se estimar uma área de simpatria entre as duas espécies no centro de Portugal (Madureira & Magalhães 1980, Madureira 1981), não é claro se, numa escala regional ou local, as espécies coexistem ou, pelo contrário, se excluem, em consequência de preferências ecológicas diferenciais ou competição interespecífica baseada, por exemplo, em semelhantes hábitos alimentares. Neste sentido, é fundamental um estudo que, não só delimite a área de distribuição geográfica das duas espécies com uma maior precisão, como identifique as suas preferências ecológicas a diferentes escalas.
Ambas as espécies habitam sistemas de túneis, construídos a diferentes profundidades, preferencialmente em prados, pastagens e áreas cultivadas (Mathias, 1999). Apesar de relacionadas, estas espécies diferem no tamanho do corpo – M.lusitanicus é a espécie de menores dimensões, com um peso corporal que varia entre 14g e 19g, enquanto que em M.duodecimcostatus, com maiores dimensões, o peso do corpo pode variar entre 19 e 34g (Palomo & Gisbert, 2002) – tipo de solo colonizado, características ambientais das áreas de ocorrência e dependência ao meio subterrâneo. O rato-cego-mediterrânico foi considerado como a mais fossadora das espécies de Microtus na Península Ibérica e a mais tolerante às temperaturas elevadas e seca (Palomo & Gisbert, 2002).
Foram os seguintes os objectivos do trabalho realizado:
i) caracterização do ambiente ocupado e sua relação com a abundância das espécies, utilizando três escalas de análise (nacional, regional e local)
ii) determinação do dispêndio energético na Natureza, durante o Verão, em ambas as espécies
iii) caracterização dos padrões de termorregulação de M.duodecimcostatus