MIGRATAGIS – Aves limícolas migradoras e invernantes como indicadoras da qualidade de ambientes estuarinos

Coordenador

José Pedro Granadeiro

Datas

01/10/2008 - 31/03/2012

Financiamento para o CESAM

135870 €

Financiamento Total

163000 €

Instituição Proponente

Fundação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Instituições Participantes

  • * Instituto Superior de Psicologia APlicada

URL / WWW

http://sites.google.com/site/migratagis

Durante o Inverno, muitas espécies de aves limícolas alimentam-se de macro-invertebrados nos sedimentos intertidais dos estuários que ficam expostos durante a baixa-mar, e procuram refúgio em zonas adjacentes durante a preia-mar, onde repousam e cuidam da sua plumagem. Desse modo, as aves estuarinas podem actuar como indicadores da qualidade dos estuários, reflectindo não só a qualidade das áreas intertidais, das quais dependem para a alimentação, como também dos habitats circundantes, que procuram para descansar. Alguns estuários são também usados por grandes números de aves em migração. Todos os anos, o destino de centenas de milhares de aves depende da existência de uma rede de locais de paragem de boa qualidade ao longo das suas rotas migratórias (denominados de stopover), onde as aves recuperam a sua condição entre as várias etapas do seu percurso migratório.

O estuário do Tejo localiza-se na via migratória conhecida como “Rota do Atlântico Este”, e alberga várias espécies de limícolas durante o Inverno e durante as passagens migratórias. Embora exista investigação recente acerca da invernada de limícolas neste estuário, muitas questões estão ainda por esclarecer. Os factores que condicionam a variação espacio-temporal das aves nas áreas de alimentação e a escala a que eles operam estão ainda mal compreendidos. Estas questões requerem por um lado, séries temporais longas sobre a distribuição, a abundância e sobre os processos de recrutamento das suas presas e por outro, de investigação avançada sobre a sua influência nas estratégias alimentares das limícolas.

A falta de conhecimento é particularmente grave em relação às aves que utilizam o Tejo durante a migração. A dimensão das populações de migradores, o seu tempo de permanência, as principais zonas de alimentação, as taxas de recuperação de peso e muitos outros parâmetros são totalmente desconhecidos, impedindo a avaliação da qualidade do estuário do Tejo como zona de paragem e reabastecimento de energia durante a migração. Assim, os objectivos principais deste projecto são (1) examinar de forma aprofundada os factores que influenciam o uso da áreas intertidais e dos refúgios de maré alta, (2) desenvolver métodos de avaliação quantitativa da qualidade dos refúgios de preia-mar, utilizando indicadores eco-fisiológicos de stress (corticosterona) e (3) obter a primeira estimativa dos parâmetros de stopover de aves migradoras no estuário do Tejo.

Neste projecto iremos definir e implementar um esquema de monitorização das principais presas de limícolas, dando ênfase à variação intra- e inter-anual nos períodos de recrutamento. A utilidade destes dados está muito além dos objectivos do presente projecto, pois poderão ser usados para a quantificação de impactos humanos ou naturais no estuário. Ao mesmo tempo, serão efectuadas contagens e observações do comportamento das aves limícolas nas áreas de alimentação e nos refúgios. Algumas aves serão marcadas e equipadas com rádio-transmissores e monitorizadas durante o dia e durante a noite, com equipas móveis. Este trabalho irá fornecer dados precisos sobre a variação tidal, diária, e sazonal das zonas de alimentação e refúgio, que serão correlacionadas com dados comportamentais. Assim, será possível produzir mapas das zonas de alimentação e dos refúgios mais importantes no estuário.

Iremos também avaliar a qualidade dos diferentes refúgios de preia-mar através da análise dos níveis séricos de corticosterona das aves. Concentrações elevadas desta hormona estão correlacionadas com níveis de stress elevados, que podem ter diversas causas. Estes factores serão quantificados em cada refúgio estudado. Tencionamos ainda utilizar técnicas muito recentes que permitem obter doseamentos de corticosterona nas fezes. Este procedimento, para além de inovador, permite uma recolha de dados não intrusiva, evitando enviesamentos nos dados. No final do projecto, esperamos ter desenvolvido standards eco-fisiológicos para avaliar a qualidade dos refúgios para as aves.

O estudo das passagens migratórias será feito através de uma monitorização intensiva de aves nos refúgios de preia-mar e nas zonas de alimentação, de modo a detectar as datas de passagem. Será efectuada uma monitorização intensiva de aves equipada com rádio-transmissores, utilizando “Estações Automáticas de Rádio-Tracking”. Este equipamento efectua o registo contínuo de diversas frequências, permitindo monitorizar a presença das aves em determinadas localizações, e desse modo calcular os tempos de permanência no estuário. Esperamos obter as primeiras estimativas de número total de aves em migração no estuário, dos seus tempos de residência, utilizando avanços nos modelos de sobrevivência. Deste modo, será possível identificar as zonas prioritárias de conservação para as aves migradoras.

membros do CESAM no projeto

José Pedro Granadeiro

Professor Associado com Agregação

Teresa Catry

Investigadora Auxiliar