Novos arbovírus isolados em Portugal. Determinação do risco e potenciais aplicações em Saúde Pública.

Coordenador

Maria João Pereira Figueira Alves

Investigador Responsável CESAM

Mª da Conceição Proença

Programa

PTDC/SAL-SAP/119199/2010

Datas

01/03/2012 - 27/02/2015

Financiamento para o CESAM

4890 €

Financiamento Total

124755 €

Instituição Proponente

Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSARJ)

Instituições Participantes

  • Robert Koch Institute (RKI),
  • Nordurfer 20,
  • 13353Berlim,
  • Germany

Os arbovírus são vírus transmitidos por artrópodes. O artrópode durante a refeição de sangue inocula no hospedeiro vírus que podem provocar um síndrome febril, sinais e sintomas neurológicos como encefalites e meningites e, mais raramente, febres hemorrágicas. Entre os arbovírus neurotrópicos está o vírus West Nile (WNV, flavivírus) e o vírus Toscana (TOSV, flebovírus) cuja presença em Portugal tem sido bem documentada nas últimas décadas. Só no último ano, diagnosticamos laboratorialmente um caso humano de infecção por WNV, no concelho de Setúbal, e vários casos de infecção por TOSV em doentes com sintomas neurológicos na região do Algarve. Como vírus transmitidos por artrópodes, os arbovírus têm a sua distribuição relacionada com a distribuição geográfica das espécies vectoras e com as condições e alterações ambientais que influenciam essa distribuição. Com o objectivo de conhecer as espécies e a sua distribuição, o Instituto Nacional de Saúde (INSA) e as autoridades de saúde regionais e nacionais portuguesas têm a decorrer, desde 2008, e por mais cinco anos, um programa nacional de vigilância de mosquitos. Em 2007 e 2008, o INSA realizou um estudo em flebótomos em vários concelhos a sul de Lisboa com objectivos semelhantes.

A equipa do CEVDI/INSA coordena e participa na execução destes dois programas de vigilância, onde para além dos insectos colhidos vivos por diferentes métodos, são reunidos dados ecológicos, climáticos e de georeferência para cada um dos locais. No laboratório os insectos são identificados taxonomicamente e pesquisados para a presença de vírus, tendo sido identificados, até agora, flavivírus específicos de insecto em mosquitos e flebótomos e flebovírus em flebótomos (com taxas mínimas de infecção que variam entre 0,5 e 5,0. Com base nos dados, estirpes virais e know-how obtidos nestes programas de vigilância, pretende-se neste projecto estudar os insectos vectores e arbovírus transmitidos do ponto de vista de saúde pública.

A parceria com investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) é essencial para a determinação do risco para a presença dos vectores, onde se pretende caracterizar as variantes ecológicas e criar cenários de abundância e distribuição de espécies tendo em vista alterações climáticas, nomeadamente as variações de temperatura. Em relação aos arbovírus isolados pretende-se fazer a sua caracterização molecular e estudos de transmissão e competência, tendo como base para além do know-how dos investigadores do CEVDI, a parceria com o Robert Koch Institute (RKI) com uma vasta experiência nesta área. Apesar dos flavivírus de insecto não serem considerados patogénicos e portanto com impacto reduzido em saúde pública, vários autores propõem a possibilidade de, em cenários de co-infecção, ocorrer impedimento ou promoção da transmissão de vírus patogénicos. Em flavivírus estes estudos permitirão clarificar se há ou não interferência dos flavivírus específicos de insecto com a infecção dos vectores por flavivírus patogénicos para o Homem como por exemplo o WNV, uma vez que os flavivírus de insecto parecem ser frequentes e comuns, especialmente no centro e sul do país e o WNV têm sido detectado muito esporadicamente.

Em flebovírus, nomeadamente o TOSV, estudos recentes da equipa CEVDI/INSA provam a circulação de várias estirpes em Portugal, uma vez que em diferentes populações portuguesas identificamos indivíduos com contacto prévio com vírus Toscana, e sem qualquer episódio neurológico, por outro lado identificamos infecções activas em indivíduos com meningites e meningoencefalites, o que indica a probabilidade da circulação de diferentes estirpes. Assim, na identificação molecular e estudos de transmissão de flebovírus, nomeadamente TOSV, pretende-se avaliar se temos de facto duas estirpes em circulação em Portugal. Com este projecto, pretende-se também desenvolver um método de detecção que permita a ao laboratório identificar rapidamente o agente etiológico, para isso as estirpes virais já caracterizadas serão aplicadas ao diagnóstico laboratorial humano em amostras positivas e negativas, com e sem suspeita clínica, já disponíveis no laboratório do CEVDI/INSA para determinação do seu potencial de utilização e respectiva padronização no laboratório.

Todos os investigadores e instituições envolvidas têm competências e aptidões específicas e complementares para assegurar a conclusão com êxito dos objectivos propostos. Como resultado global deste projecto espera-se contribuir para a aplicação em saúde pública de um sistema de alerta para a presença de vectores, conhecer exactamente quais os riscos de transmissão de flavivírus e flebovírus e aplicar esse conhecimento ao diagnóstico laboratorial.

membros do CESAM no projeto