No passado dia 24 de março, a investigadora Goreti Pereira, do CESAM/DQ, regressou a Braga, a sua terra natal, para participar no programa “Cientista Regressa à Escola”, uma iniciativa promovida pela organização Native Scientists. A atividade teve lugar nas escolas EB do Bairro Económico e EB de Santa Tecla e proporcionou uma sessão muito especial, que procurou inspirar os alunos através da ciência e do exemplo de uma investigadora que, em tempos, frequentou escolas como as deles.

Durante a oficina, Goreti Pereira falou sobre um tema atual e de enorme relevância: a contaminação das águas por fármacos. Explicou de forma acessível como o uso generalizado de medicamentos – tanto na saúde humana como na veterinária – tem levado à presença recorrente de resíduos farmacêuticos em sistemas aquáticos, devido à eliminação incompleta destes compostos nas estações de tratamento de águas residuais. Muitos destes contaminantes não são completamente removidos pelos métodos tradicionais de tratamento, acumulando-se nos ambientes naturais e podendo afetar organismos aquáticos, ecossistemas e até a saúde humana, através da água que consumimos. A investigadora partilhou ainda os avanços do seu grupo de investigação no desenvolvimento de tecnologias mais eficazes e sustentáveis para remover estes poluentes emergentes da água, contribuindo para soluções inovadoras e ambientalmente seguras.

Esta iniciativa da Native Scientists visa aproximar a ciência das crianças, promovendo o diálogo entre cientistas e alunos em contexto escolar, e despertando o interesse pela investigação científica desde os primeiros anos de ensino. O envolvimento de cientistas como Goreti Pereira nestes projetos é essencial para fomentar uma sociedade mais informada, crítica e curiosa, além de reforçar o papel transformador da ciência na construção de um futuro mais sustentável.

A investigadora do CESAM Rosa Freitas, professora do Departamento de Biologia (DBIO) da Universidade de Aveiro (UA), é a convidada do mais recente episódio do podcast “Science Cast”, onde partilha a sua experiência e os avanços científicos na área da biologia marinha.

Sob o título “No Ritmo da Maré: Bivalves, Poluentes e Alterações Climáticas”, o episódio destaca o trabalho que Rosa Freitas tem desenvolvido ao longo dos últimos anos, focando-se no estudo de bivalves e a forma como estes organismos marinhos reagem à crescente pressão dos poluentes emergentes e das alterações climáticas.

A investigadora coordenou projetos de referência como o “BISPECIAI” e o “COCKLES”, que visaram avaliar os impactos de múltiplos fatores de stress ambiental nestas espécies. O objetivo da sua atividade é gerar conhecimento científico que sustente estratégias de conservação, promova soluções sustentáveis, e contribua para a resiliência dos ecossistemas marinhos.

Os bivalves são verdadeiros sentinelas do ambiente, afirma Rosa Freitas no podcast, destacando a importância destes organismos como indicadores da saúde dos ecossistemas costeiros. A sua investigação oferece pistas valiosas sobre como ecossistemas de transição, como as zonas estuarinas, estão a responder às atividades humanas e às mudanças climáticas.

O episódio está disponível nas principais plataformas de streaming e redes sociais do “Science Cast”, sendo uma oportunidade para o público conhecer de forma acessível e envolvente a ciência que se faz em Portugal.

Não perca este episódio e descubra como a ciência portuguesa está a enfrentar os desafios ambientais do nosso tempo.

Veja a entrevista completa aqui

No passado dia 1 de abril, a equipa do CESAM/DBIO, constituída pela investigadora Rita Tinoco Torres, por Eduardo Ferreira (estagiário de pós-doutoramento), Nuno Pinto (técnico superior) e Dário Hipólito (estudante de doutoramento), esteve em Vila Real numa reunião de trabalho organizada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). O encontro foi dedicado à análise e definição das principais medidas a implementar para melhorar o estado de conservação do lobo-ibérico em Portugal, no âmbito do Programa Alcateia 2025-2035.

Os membros do equipa participaram em várias reuniões sectoriais, intervindo ativamente e contribuindo, em conjunto com representantes de diversos sectores, para a definição do Programa Alcateia 2025-2035. O seu envolvimento teve como objetivo salvaguardar os interesses de todos os atores envolvidos e promover a coexistência entre o lobo-ibérico e as comunidades humanas em toda a área de distribuição da espécie.

Esta participação insere-se no trabalho continuado da Unidade de Vida Selvagem (CESAM/DBIO) em projetos de monitorização, conservação e investigação sobre o lobo-ibérico, nomeadamente da Monitorização do lobo ibérico a sul do Douro (ACHLI), que conta com 13 anos em contínuo, e as mais recentes participações no Censo Nacional de Lobo-ibérico (2019-2021) e nos projetos LIFE WOLFLUX e LIFE LUPI-LYNX.

Na sessão, foram apresentados também os resultados do Censo Nacional de Lobo-ibérico 2019/2021, e feito um ponto de situação da execução dos objetivos operacionais do Plano de Ação para a Conservação do Lobo em Portugal (PACLobo).

O Ministério do Ambiente e Energia identificou a necessidade de definição de um novo ciclo de medidas dirigidas com vista a alcançar um estatuto favorável da população de Lobo-Ibérico em Portugal, no horizonte temporal de 10 anos, devendo ser previsto financiamento para iniciativas e projetos neste período, no âmbito do Programa Alcateia 2025-2035.

Rosário Domingues, investigadora no CESAM e professora no Departamento de Química da Universidade de Aveiro, participou como oradora convidada no webinar internacional “Food Lipidomics: New Trends and the EpiLipidNET Community”, promovido pela prestigiada American Oil Chemists’ Society (AOCS), no passado dia 28 de março de 2025.

Na sua apresentação, intitulada “EpiLipidNET Community and the Growing Interest in Food Lipids and Lipidomics for Healthier and More Sustainable Diets”, a investigadora abordou o crescente reconhecimento da lipidómica alimentar como ferramenta fundamental para compreender o papel dos lípidos nos alimentos, tanto do ponto de vista nutricional como funcional, com impacto direto na saúde humana e na sustentabilidade dos sistemas alimentares.

A lipidómica, ramo da ciência que se dedica à caracterização abrangente dos lípidos, numa dada amostra biológica, tem ganho particular relevância no estudo de alimentos complexos, permitindo a identificação de milhares de substâncias lipídicas com potenciais implicações metabólicas, inflamatórias ou antioxidantes. Neste contexto, a Professora Rosário Domingues destacou os avanços tecnológicos recentes na análise do lipidoma alimentar, bem como os principais desafios analíticos e interpretativos, nomeadamente a variabilidade natural das amostras alimentares, a complexidade estrutural dos lípidos e a integração com outras áreas da ómica, como a metabolómica e a proteómica.

Durante a intervenção, foi também apresentada a comunidade científica da COST Action EpiLipidNET, rede europeia interdisciplinar dedicada ao avanço da epilipidómica e lipidómica, atualmente composta por mais de 460 investigadores de 52 países. Esta iniciativa que decorreu entre 2020 e 2024 teve como principal objetivo fomentar a colaboração entre grupos de investigação, indústria e autoridades reguladoras, criando sinergias para a normalização de metodologias e o desenvolvimento de novas aplicações em saúde, nutrição, ambiente e indústria alimentar. A Professora Rosário Domingues foi coordenadora desta ação COST ao longo dos seus quatro anos de atividade, e destacou que, mesmo após o término oficial da ação, a rede continua ativa, com novas colaborações e projetos em curso.

O webinar promovido pela AOCS reuniu especialistas internacionais em lipidómica alimentar, oferecendo um espaço privilegiado para a partilha de conhecimento e debate sobre as novas tendências científicas, os desafios regulatórios e as perspetivas futuras da investigação lipídica aplicada à alimentação e nutrição. A participação da investigadora da Universidade de Aveiro neste evento reflete o papel ativo e reconhecido da academia portuguesa na construção de conhecimento de fronteira em áreas estratégicas para a saúde pública e a sustentabilidade alimentar.

O Serviço de Monitorização da Atmosfera Copernicus (CAMS) é uma iniciativa fundamental do programa de observação da Terra da União Europeia, que fornece dados fiáveis e de alta qualidade sobre a poluição do ar e saúde, energia solar, gases com efeito de estufa e forçadores climáticos a nível mundial.Estas iniciativas são apoiadas por um consórcio de entidades nacionais, incluindo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o CoLAB +ATLANTIC e o Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), da Universidade de Aveiro.


Gerido pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo (ECMWF), em nome da Comissão Europeia, o CAMS integra observações por satélite e in situ com modelos de previsão avançados, fornecendo informações valiosas para empresas, decisores políticos e investigadores que enfrentam desafios atmosféricos.

Portugal utiliza ativamente os produtos do CAMS para melhorar a gestão da qualidade do ar a nível nacional e regional. A Parceria Nacional CAMS (NCP) em Portugal centra-se na integração das previsões do CAMS no sistema nacional de informação da qualidade do ar, o QualAr, com o objetivo de melhorar a resolução dos dados e a sua acessibilidade para autoridades e partes interessadas.

Os principais objetivos da Parceria Nacional CAMS em Portugal incluem:

  • Integração dos Produtos CAMS: Incorporar as previsões de qualidade do ar do CAMS no QualAr, para melhorar o acesso a dados fiáveis por parte do público e dos decisores políticos.
  • Previsão Localizada da Qualidade do Ar: Implementar modelos de alta resolução para adaptar as previsões às condições regionais e urbanas.
  • Promoção de Decisões Baseadas na Ciência: Reforçar o diálogo entre decisores políticos, cientistas e autoridades locais, para desenvolver soluções operacionais robustas que melhorem a saúde pública e o bem-estar ambiental.

Domínios de simulação de alta resolução para a redução dinâmica da escala das previsões regionais da qualidade do ar — exemplo dos níveis de PM2.5 em Portugal continental, disponível em https://atmosphere.copernicus.eu/portugal

Como parceiro português-chave na iniciativa CAMS, o CESAM está empenhado em aproximar a ciência atmosférica das aplicações práticas na gestão da qualidade do ar em Portugal. O CESAM tem um papel central em:

  • Redução da Escala das Previsões da Qualidade do Ar: Liderar a redução dinâmica da escala das previsões do CAMS, para disponibilizar previsões de qualidade do ar de alta resolução adaptadas a zonas urbanas e pontos críticos de poluição em Portugal.
  • Promoção do Envolvimento das Partes Interessadas: Desenvolver materiais educativos para promover a utilização dos produtos CAMS por parte das autoridades públicas.
  • Reforço da Colaboração Nacional: Trabalhar com a sua rede de parceiros e associados para alinhar as prioridades nacionais e locais com os serviços do CAMS.

Através do seu envolvimento ativo, o CESAM assegura que os produtos do CAMS sejam não só cientificamente rigorosos, mas também operacionalmente acessíveis, contribuindo para um ambiente mais limpo e saudável para os cidadãos portugueses.

Para mais informações sobre o CAMS e o seu impacto em Portugal, visite o website oficial.

A 10.ª edição da conferência Coastal Dynamics realizar-se-á na Universidade de Aveiro, entre 7 e 11 de abril. A conferência contará com a presença de cerca de 350 especialistas mundiais na área da Dinâmica Costeira, representando 35 países e os cinco continentes.

A Comissão Organizadora Local integra representantes da Universidade de Aveiro (Departamentos de Engenharia Civil, Física e Geociências, das Unidades de Investigação RISCO e CESAM), da Administração do Porto de Aveiro, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil e da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

O CESAM está representado na Comissão Organizadora pelo professor Paulo Silva (CESAM/DGEO) e pelo investigador Paulo Baganha (CESAM/DGEO), e na Comissão Científica pelo professor João Miguel Dias (CESAM/DFIS), pela professora Fátima Alves (CESAM/DAO) e pela investigadora Cristina Bernardes (CESAM/DGEO).

Coastal Dynamics é um dos encontros mais importantes para cientistas na área da dinâmica costeira. A 1.ª edição teve lugar em 1994, em Barcelona. Desde então, a conferência realizou-se em Gdansk, Polónia (1995); Plymouth, Reino Unido (1997); Lund, Suécia (2001); Barcelona, Espanha (2005); Tóquio, Japão (2009); Arcachon, França (2013); Helsingør, Dinamarca (2017); e Delft, Países Baixos (2021).

O tema da conferência de 2025 é “Living with a Dynamic Coast”. Serão apresentados trabalhos de investigação recentes sobre a dinâmica e as mudanças dos sistemas costeiros, incluindo observações de campo (remotas e in situ), trabalhos laboratoriais e abordagens numéricas.

A conferência inclui um programa científico completo, complementado por atividades sociais e três visitas técnicas. No primeiro dia, três minicursos abordarão os seguintes temas: Resiliência costeira; Incorporação de dados científicos e do clima na engenharia costeira; e Reabilitação costeira sob o efeito da subida do nível do mar. A conferência contará ainda com duas sessões plenárias, com dois oradores convidados (Bregje van Wesenbeeck e Alec Torres-Freyermuth), uma reflexão sobre o passado, presente e futuro da gestão do litoral português, conduzida pela APA, e a atribuição do Coastal Award, um prémio de reconhecimento mundial atribuído a Andrew Short (Austrália), pelos seus contributos na área.

Durante o evento, terão lugar 38 sessões paralelas, onde serão apresentados 223 trabalhos, complementados por 51 posters. A semana será concluída com a realização de três visitas técnicas aos seguintes locais: Trecho costeiro de Esmoriz-Furadouro e Porto de Aveiro; Sul da Figueira da Foz e respetivo porto;  Reserva Natural de São Jacinto e Ria de Aveiro.

Pode consultar aqui o programa completo da conferência.

Notícia originalmente publicada em: UA Notícias, 2 de abril de 2025.

O trabalho de Niedja Santos (aluna de doutoramento) e Sara Reis (aluna de mestrado), coordenado por Inês Domingues e Miguel Oliveira, investigadores do CESAM/DBIO foi recentemente destacado na capa da edição de março da revista científica Toxics (MDPI, Volume 13, Edição 3).

O artigo, intitulado “Does Personality Modulate the Sensitivity to Contaminants? A Case Study with Cadmium and Caffeine”, explora de forma inovadora como a personalidade dos peixes-zebra (Danio rerio) designadamente, o grau de timidez ou ousadia pode afetar a sua sensibilidade à exposição a contaminantes comuns no ambiente aquático, como o cádmio e a cafeína.

Os investigadores avaliaram o comportamento dos peixes antes e depois da exposição a concentrações realistas destes dois contaminantes. Com base em testes padronizados, os peixes foram classificados como “tímidos” ou “extrovertidos”. Após a exposição, observou-se que os indivíduos tímidos demonstraram maior sensibilidade, com alterações comportamentais mais evidentes, como redução da atividade locomotora e maior tempo de imobilidade.

Estes resultados indicam que a personalidade é um fator relevante na forma como os organismos aquáticos respondem à poluição, e que esta variabilidade individual pode ter implicações importantes em estudos de avaliação de risco ambiental. Tradicionalmente, a ecotoxicologia tem assumido que todos os indivíduos de uma espécie reagem da mesma forma à contaminação, mas este estudo reforça a necessidade de considerar a diversidade comportamental intraespecífica para obter avaliações mais realistas e representativas.

O cádmio é um metal tóxico, associado a atividades industriais, enquanto a cafeína é considerada um contaminante emergente, frequentemente detetado em águas residuais. Ambos os compostos têm efeitos reconhecidos sobre a saúde dos organismos aquáticos, mesmo em baixas concentrações.

Este trabalho mostra que, além dos fatores químicos e ambientais, as características individuais dos organismos podem desempenhar um papel central na sua vulnerabilidade à poluição. A integração de traços de personalidade em estudos ecotoxicológicos poderá, assim, melhorar a compreensão dos riscos associados aos contaminantes e contribuir para estratégias mais eficazes de monitorização e proteção dos ecossistemas aquáticos.

Artigo completo disponível aqui.

Alexandra Monteiro, investigadora no Departamento de Ambiente e Ordenamento e no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro, foi entrevistada no programa “A Prova dos Factos”, da RTP1, sobre o tema “Crematórios em Portugal sem regras e sem fiscalização”. Na entrevista, a especialista deu a sua perspetiva enquanto investigadora na área da qualidade do ar, abordando o que se sabe atualmente sobre o impacto das cremações na poluição atmosférica.

Segundo os dados apresentados, o número de cremações em Portugal aumentou 50% nos últimos cinco anos, mas a atividade continua a ser pouco estudada e praticamente isenta de regulamentação específica. As cremações ocorrem, na sua maioria, em cemitérios ou crematórios localizados junto a zonas residenciais, o que levanta sérias preocupações de saúde pública, dada a inexistência de fiscalização e a ausência de obrigatoriedade legal para a análise das emissões poluentes resultantes deste processo.

Atualmente, existe apenas uma estimativa nacional que considera exclusivamente a cremação do corpo, sem contabilizar a queima da urna nem os restantes aspetos do processo. Mesmo assim, os resultados indicam que, para a maioria dos poluentes, as emissões são pouco significativas. Contudo, o mercúrio, proveniente de amálgamas dentárias, revelou-se um elemento preocupante, surgindo com uma contribuição mais expressiva. Este metal pesado tem a particularidade de se acumular no ecossistema, o que o torna especialmente perigoso a longo prazo.

A investigadora alertou para o risco de libertação de dioxinas, compostos altamente tóxicos com potencial cancerígeno, uma vez que as cremações são, na prática, processos de incineração, e reforçou que a fiscalização dos processos de cremação é essencial para garantir o cumprimento das normas ambientais e proteger a saúde pública, numa área que permanece largamente desregulada em Portugal.

Entrevista completa na RTP no programa A Prova dos Factos. Crematórios em Portugal sem regras e sem fiscalização

As candidaturas à edição de 2025 do Prémio Fundação Belmiro de Azevedo – Conservação, Restauro e Monitorização da Biodiversidade em Portugal decorrem entre 1 e 30 de abril de 2025. Este prémio resulta de uma colaboração entre a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e a Fundação Belmiro de Azevedo (FBA), com o objetivo de apoiar projetos científicos de excelência que contribuam significativamente para a conservação, restauro ecológico e monitorização da biodiversidade em Portugal.

Valorizando a aplicação de conhecimento científico ao serviço da conservação da natureza, o prémio tem vindo a distinguir projetos de elevada qualidade técnica e científica, que apresentam abordagens inovadoras, sustentadas por metodologias robustas e com impacto real no território nacional. Este reconhecimento assume particular relevância num contexto de crescente pressão sobre os ecossistemas, em que a ciência desempenha um papel crucial na definição de estratégias eficazes para a mitigação da perda de biodiversidade. Ao apoiar projetos com forte componente aplicada, o prémio contribui para a integração do conhecimento científico na tomada de decisão, fomentando a ligação entre investigadores, gestores e decisores políticos. Além disso, valoriza a investigação desenvolvida em Portugal e promove a sua internacionalização, posicionando o país na linha da frente dos esforços globais de conservação.

Na edição de 2023, o primeiro lugar foi atribuído ao projeto ” CCforBio- Corredores ecológicos em plantações florestais: benefícios para a biodiversidade, produção de madeira e sequestro de carbono”, liderado por Bruna Raquel Figueiredo Oliveira, investigadora do CESAM/DAO, da Universidade de Aveiro. Este projeto propõe a implementação de corredores de conservação em paisagens florestais, conciliando objetivos ecológicos e económicos através da promoção simultânea da biodiversidade, da produção sustentável de madeira e do sequestro de carbono. Com um financiamento de 207.698 euros, o projeto destaca-se pela sua abordagem integrativa e pela relevância na gestão multifuncional dos ecossistemas florestais em Portugal.

A atribuição deste prémio à investigadora reforçou o reconhecimento do CESAM na área da biodiversidade e sustentabilidade. Para além do reconhecimento do mérito científico, este prémio permite potenciar a aplicação prática da investigação e reforçar a visibilidade da ciência produzida em Portugal no contexto europeu e internacional.

Uma investigação liderada pela bióloga Sílvia Monteiro, do CESAM/DBIO e do ECOMARE da Universidade de Aveiro (UA), identificou uma alteração temporal na dieta da baleia-anã em águas atlânticas da Península Ibérica, possivelmente associada à variação na abundância de sardinha.

estudo analisou a dieta desta espécie de cetáceo, entre 2005 e 2024, e revelou que, durante o período de escassez de sardinha (2005-2015), resultante de prolongado baixo recrutamento associado a pesca acima de níveis sustentáveis, a dieta da baleia-anã foi mais diversificada, incluindo espécies como carapau, cavala e sardinha. Já nos anos seguintes, quando o stock de sardinha começou a recuperar (2016-2024), esta espécie-presa passou a dominar a alimentação das baleias.

A relação entre a dieta da baleia-anã e a abundância de sardinha sugere que as medidas de gestão da pesca implementadas em Portugal tiveram um impacto positivo na recuperação dos stocks desta espécie-presa, garante Sílvia Monteiro que, a par dos investigadores Andreia Torres Pereira, Alfredo López, Maria Inês Azevedo e Catarina Eira, assina o estudo. No entanto, os investigadores alertam para o facto de que cetáceos com elevado custo metabólico, como a baleia-anã, são altamente dependentes de espécies-presa de elevada qualidade nutricional. A sua condição física pode ser comprometida quando há uma redução na disponibilidade dessas presas, o que poderá afetar a resiliência da população, atualmente classificada como Vulnerável na Península Ibérica.

trabalho do CESAM/DBIO evidencia ainda uma potencial sobreposição entre os recursos explorados pela pesca comercial e a alimentação da baleia-anã, em termos de espécies e tamanhos explorados, bem como qualidade nutritiva. Embora a simples sobreposição não seja necessariamente um indicador de competição direta, os investigadores alertam para o risco de impacto negativo quando os stocks de peixe diminuem e são sujeitos a uma elevada pressão pesqueira. Nestas situações, a pesca pode representar uma ameaça direta, através da captura acidental, ou indireta, devido à sobreexploração das presas fundamentais para a sobrevivência da baleia-anã.

O conhecimento dos hábitos alimentares das baleias-anãs é essencial para os esforços de cogestão e conservação, especialmente face às alterações nos stocks de peixe. Para garantir a sustentabilidade dos ecossistemas marinhos e minimizar os impactos sobre esta espécie, os investigadores defendem a necessidade de reforçar a monitorização dos stocks de peixe e de implementar medidas que reduzam a captura acidental de cetáceos. Além disso, salientam a importância da colaboração internacional e do fortalecimento das redes de arrojamento, para recolher mais dados sobre a ecologia e a condição física da baleia-anã nesta região.

Ao compreender o papel ecológico das baleias-anãs, aponta Sílvia Monteiro, “podemos contribuir para estratégias de conservação adaptadas a espécies múltiplas, garantindo a sua coexistência, e melhorar soluções baseadas na natureza, destinadas a restaurar os ecossistemas marinhos. As baleias desempenham um papel no sequestro de carbono através do ciclo de nutrientes, que é muito importante para a produtividade marinha e, em geral, para a sustentabilidade do meio marinho e para a resiliência climática”.

Este estudo representa a primeira descrição da dieta da baleia-anã no sul da sua área de distribuição no Atlântico Norte e foi realizado em colaboração com investigadores do Centro Oceanográfico de Vigo (COV, IEO-CSIC), do Instituto de Investigacións Mariñas (IIM-CSIC) e das redes de arrojamento de Portugal (coordenada a nível nacional pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas ICNF) e da Galiza (coordenada regionalmente pela Coordenadora para o Estudo de Mamíferos Marinhos CEMMA). O conhecimento adquirido poderá contribuir para estratégias de gestão pesqueira baseadas nos ecossistemas, promovendo a coexistência sustentável entre a pesca e os predadores marinhos.

Originally published in: UA News, March 28, 2025