Vesa Havurinne, Heta Mattila, Paulo Cartaxana e Sónia Cruz, investigadores do CESAM/DBIO, e, colaboradores da Universidade de Turku, Finlândia, publicaram um estudo na revista Communications Biology que mostra que um mecanismo comum de aclimatação à luz, designado “State Transitions”, que permite às algas verdes ajustar a absorção de luz em resposta às mudanças espectrais da luz incidente, está ausente numa ordem de macroalgas verdes – as Bryopsidales.

As Bryopsidales fazem parte de um grupo maior de algas, as Ulvophyceae, que contêm espécies frequentemente usadas como fonte de alimento por animais muito peculiares, as lesmas-do-mar fotossintéticas (Sacoglossa). Estes animais roubam cloroplastos das algas de que se alimentam, que por isso se passam a designar cleptoplastos, e mantêm estes organelos funcionais dentro das suas células por semanas ou até meses – um processo conhecido como cleptoplastia. Embora a ausência de “State Transitions” em lesmas-do-mar contendo cleptoplastos derivados de Bryopsidales não tenha sido inesperada, a sua ausência em lesmas-do-mar que se alimentam de outra Ulvophyceae, que apresentou fortes “State Transitions”, foi uma descoberta surpreendente.

Investigações posteriores revelaram que a perda de “State Transitions” nas lesmas-do-mar ocorre imediatamente após a incorporação dos cleptoplastos. Usando microscopia confocal, foi possível verificar que a transição cloroplasto-cleptoplasto alterou drasticamente a sua estrutura; os cloroplastos da alga Acetabularia acetabulum exibiram formas e tamanhos diversos, enquanto os cleptoplastos da lesma-do-mar Elysia timida foram sempre altamente esféricos e aparentemente mais pequenos.

A manipulação experimental de cloroplastos de A. acetabulum para uma forma mais esférica também resultou na perda de “State Transitions”, o que sugere que as mudanças estruturais nos cloroplastos são a principal razão por trás da perda deste mecanismo de aclimatação à luz nas lesmas-do-mar. Várias combinações de lesmas-do-mar e algas foram examinadas ao microscópio, o que revelou que todas as lesmas-do-mar impõem uma forma notavelmente esférica aos cloroplastos roubados, indicando que esta poderá ser uma propriedade fundamental da cleptoplastia funcional em lesmas-do-mar.


Legenda da figura: Principais diferenças nas formas dos cloroplastos entre as macroalgas Ulvophyceae e as lesmas-do-mar com cleptoplastos funcionais e não funcionais.

No início de 2025, os investigadores José Alves e Camilo Carneiro, ambos do CESAM/DBIO, foram contactados pelo IBAP (Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau) para apoiar a candidatura em curso do Arquipélago dos Bijagós à Lista do Património Mundial da UNESCO.

Os locais designados como Património Mundial devem possuir Valor Universal Excecional, ou seja, um valor cultural e/ou natural fundamental, cumprindo critérios de seleção rigorosos. O Arquipélago dos Bijagós é um dos locais de invernada mais importantes em África para as aves limícolas migradoras que utilizam a Rota Migratória do Atlântico Leste, e possui diversos outros valores culturais e naturais que merecem ser preservados para as gerações futuras. Após uma visita ao terreno no final de 2024, o IBAP recebeu uma série de questões da UICN, em nome do painel de avaliação, relacionadas com a distribuição de espécies e a utilização de diferentes zonas na área proposta para designação.

José Alves, investigador do CESAM/DBIO, refere que essa participação teve duas vertentes complementares: “por um lado, através da produção e disseminação, ao longo dos últimos anos, de diversas publicações científicas sobre os macrobentos , as aves limícolas e as suas interações com as populações locais ; por outro, com a resposta rápida a solicitações da UICN após a missão técnica de avaliação, que incluiu a compilação e análise de dados ainda não publicados sobre a utilização espacial do arquipélago por aves limícolas migradoras equipadas com dispositivos de localização, como aparelhos GPS”.

Em menos de uma semana, esta equipa científica que conta também com Camilo Carneiro, forneceu a informação necessária, demonstrando que entre 80% a 95% das localizações das aves seguidas com transmissores ocorriam dentro da zona central proposta para proteção. Esta evidência foi decisiva para a recomendação da UICN quanto à inscrição do Arquipélago dos Bijagós na Lista do Património Mundial, o que constitui, nas palavras de José Alves, “uma conquista importante para a conservação da biodiversidade na África Ocidental. Este reconhecimento internacional garante um estatuto legal de proteção elevado para este ecossistema costeiro, particularmente relevante para as aves limícolas, que enfrentam nesta região da rota migratória declínios populacionais mais severos do que noutras zonas”.

Com esta designação, os Bijagós tornar-se-ão o quinto local da Rota Migratória do Atlântico Leste a integrar a lista de sítios da UNESCO com valor universal excecional. A inclusão nesta rede internacional reforçará os esforços de preservação das aves limícolas migradoras, contribuindo para inverter tendências de declínio populacional em várias espécies.

Os Diretores das Unidades de Investigação / Laboratórios Associados CCMAR (Centro de Ciências do Mar do Algarve), CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, Universidade de Aveiro), CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental), MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) e OKEANOS (Instituto de Investigação em Ciências do Mar/Universidade dos Açores) publicaram, no jornal Público, a seguinte carta aberta:

Portugal é uma nação historicamente e profundamente ligada ao mar. Herdámos um oceano vasto, rico em biodiversidade e cheio de potencial, mas também repleto de desafios. Gerir este património exige mais do que vontade, exige conhecimento sólido, investimento consistente e visão estratégica de longo prazo.

O que no passado constituía uma barreira intransponível, é atualmente a via de transporte de mercadorias mais importante a nível global. Aquilo que era uma fonte inesgotável de alimento, é presentemente um ecossistema onde uma boa parte dos estoques de peixes estão à beira do colapso devido à pesca excessiva. O que antigamente era longínquo e pristino, recebe resíduos produzidos pela atividade humana. O mar exerce a sua influência constante sobre as nossas vidas, nomeadamente, através da atmosfera, da hidrosfera e da biosfera.

A área oceânica de Portugal é muito superior à sua área terrestre e é considerada por muitos como a gema por explorar, o tesouro escondido em grande parte ainda por descobrir. Esta importância é notória no peso crescente das atividades económicas marítimas no produto interno bruto nacional, agora em cerca de 5%.

Mas o Oceano é muito mais do que o seu valor económico mais tangível. É o Oceano que rege o nosso clima. Foi no Oceano que a vida na Terra começou e se encontra a maior biodiversidade, muita dela ainda desconhecida para a ciência. Do Oceano vem oxigénio, energia, alimentos, e muito mais. O Oceano absorve grande parte do dióxido de carbono que produzimos através da queima de combustíveis fósseis. Sem a Corrente do Golfo, o clima em Portugal seria muito mais frio e rigoroso. Sem o Oceano, a temperatura na Terra seria insuportável e não permitiria a vida.

Portugal tem à sua guarda uma parte importante deste capital natural, o Oceano Atlântico, que é essencial preservar para assegurar o bem-estar das gerações vindouras. Trata-se de uma responsabilidade que não é possível ignorar. E para se poder gerir é preciso conhecer e educar.

Apesar dos avanços significativos das últimas décadas, a ciência em Portugal continua a enfrentar limitações estruturais e de financiamento, em parte devido às conhecidas restrições orçamentais do país, o que dificulta a sua consolidação e a sua competitividade à escala internacional.

À semelhança de outros domínios científicos, também as Ciências do Mar em Portugal evoluíram muito, como o atesta a produção científica por milhar de habitantes que já é a segunda da Europa, só atrás da Noruega. Contudo precisamos de conhecer melhor os nossos mares, para o que é necessário uma política científica e recursos que permitam que nos coloquemos ao mesmo nível de instituições estrangeiras de topo que atuam no mesmo domínio.

Investigar o Oceano tem as suas especificidades

Se compararmos com o meio terrestre, a água é muito mais viscosa do que o ar, e a pressão aumenta uma atmosfera por cada 10 metros de profundidade (uma atmosfera é a pressão exercida pela massa de ar ao nível do mar), o que faz com que sejam necessários navios, submersíveis e outros veículos aquáticos para nos podermos deslocar no mar. Além disso, a água salgada corrói, deteriorando  mais rapidamente os materiais, comparativamente com o que se passa em água doce e no ambiente terrestre.  Isto faz com que a investigação no mar, tal como no espaço, tenha custos mais elevados do que nos ambientes terrestres.

Na realidade, em Portugal não temos os meios para investigar como seria necessário a nossa zona económica exclusiva, sejam navios, submarinos ou meios de observação fixos. Os navios nacionais raramente estão acessíveis às universidades e centros de investigação, não sendo possível desenvolver estratégias e programas que vão para além do curto prazo. Os meios que existem são também, em parte, obsoletos, com elevados custos de manutenção e reparações frequentes, exigindo paragens prolongadas, tornando-se insuficientes. Em países vizinhos, como Espanha, têm sido adotados modelos de gestão mais integrados e colaborativos, que facilitam o acesso da comunidade científica aos navios de investigação e promovem sinergias entre diferentes entidades. A frota oceanográfica espanhola é coordenada pela Comissão de Coordenação e Acompanhamento das Atividades dos Navios Oceanográficos (COCSABO), garantindo a colaboração entre diferentes entidades e o alinhamento com os objetivos científicos nacionais e europeus. É crucial garantir aos cientistas nacionais o acesso a navios de investigação, o chamado “tempo de navio”, sendo para tal fundamental a colaboração com os laboratórios do Estado, como é o caso do IPMA.

A humanidade enfrenta grandes desafios que só pode superar atuando conjuntamente e em que é essencial a preservação dos oceanos. Portugal tem a seu cargo uma área oceânica que lhe confere responsabilidades acrescidas no contexto internacional, mas também oportunidades na economia do futuro.

Ao longo das últimas décadas, Portugal tem vindo a afirmar-se como um país com vocação científica e compromisso com o conhecimento. É importante que, mesmo perante contextos globais desafiantes, Portugal mantenha o seu compromisso com o investimento em ciência, reconhecendo o seu papel essencial na construção de respostas sustentáveis e eficazes. A meta de atingir 3% do PIB em investimento em I&D até ao final da década deverá ser encarada como um objetivo estratégico nacional, não apenas para garantir maior competitividade global, mas para assegurar uma base sólida de desenvolvimento sustentável.

No caso das Ciências do Mar, este esforço assume uma dimensão ainda mais urgente e relevante. Trata-se de um domínio onde a investigação exige meios tecnológicos avançados e complexos com custos operacionais elevados e infraestruturas especializadas. Um investimento mais consistente nesta área permitirá não apenas aprofundar o conhecimento sobre o nosso oceano, como também permitir a Portugal um posicionamento como um parceiro de referência no combate às alterações climáticas, assim como na preservação da biodiversidade marinha e na potencialização e valorização dos recursos naturais.

Garantir esse futuro passará por colocar a ciência no centro das decisões estratégicas e estruturais e, por sua vez, reconhecer o oceano como um ativo nacional que merece ser estudado, protegido e valorizado com base no melhor conhecimento disponível.

Hoje, 5 de junho de 2025, o Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro associa-se às comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, reforçando o compromisso com a investigação científica de excelência orientada para a sustentabilidade ambiental, a conservação dos ecossistemas e a mitigação das alterações globais.

Este dia, instituído pelas Nações Unidas em 1972, constitui uma oportunidade para reforçar a necessidade urgente de proteger o planeta, promovendo políticas públicas e práticas sustentadas em conhecimento científico sólido — missão central do CESAM ao longo das suas duas décadas de atividade como Laboratório Associado.

Com uma abordagem integrativa e transdisciplinar, o CESAM estrutura a sua investigação em três Linhas Temáticas e em seis Clusters de Investigação que abordam áreas críticas da sustentabilidade ambiental e marinha.

Entre os muitos projetos em curso, hoje destacamos os seguintes representativos da abrangência do CESAM:

O projeto FONDA – Fostering Nitrogen Deposition Assessment tem como objetivo principal fortalecer a capacidade nacional na modelação e mapeamento das emissões, transporte, transformação e deposição de compostos de azoto reativo, através de parcerias estratégicas com o TNO (Países Baixos) e a Freie Universität Berlin (Alemanha), visando posicionar o CESAM como referência na modelação da qualidade do ar em Portugal.

PASTURE+, projeto que tem como objetivo melhorar a sustentabilidade e resiliência de pastagens mediterrânicas semeadas, através do uso de biochar, pretendendo otimizar a interação entre solo, plantas e biota, aumentando a produtividade e qualidade das pastagens e reforçando serviços ecossistémicos essenciais, como a retenção de água e carbono.

RESTORE4Cs, que analisa como a restauração de zonas húmidas costeiras contribui para a mitigação das alterações climáticas. Um dos objetivos é avaliar o potencial de armazenamento de carbono, a redução de emissões e os benefícios para os ecossistemas. Desenvolve metodologias para orientar ações de restauro com base em dados ecológicos e socioeconómicos e cria ferramentas de apoio à decisão para melhorar políticas de clima e biodiversidade.


«A nossa dinâmica científica, articulada com a existência de linhas transversais estruturadas de investigação, o dinamismo e qualidade dos nossos membros e a crescente interação com os diversos atores, permite ao CESAM enfrentar de forma integrada os desafios ambientais contemporâneos», afirma Amadeu Soares, Diretor do CESAM. «A nossa atuação está alinhada com as necessidades da sociedade, contribuindo, mesmo por via de investigação fundamental, para além de outra mais dirigida, para a formulação de políticas sustentáveis baseadas em evidência científica sólida, com o objetivo de promover a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.», conclui o Diretor do CESAM.

No dia 28 de maio teve lugar a segunda edição do concurso “Pitch or Perish”, uma iniciativa do Grupo de Estudantes de Doutoramento do CESAM (GED-CESAM).

O evento contou com a participação de vários estudantes de doutoramento do CESAM, que apresentaram os seus projectos de investigação num formato de pitch curto e directo. O objectivo foi promover a capacidade de comunicar ciência de forma clara e acessível.

Durante as apresentações, houve espaço para interação com o público, que colocou questões e contribuiu para o debate. O painel de avaliadores destacou a qualidade e originalidade dos trabalhos apresentados.

A iniciativa procurou fomentar boas práticas de comunicação científica e promover a troca de ideias entre estudantes e investigadores da comunidade CESAM.

Um importante esforço científico internacional está em curso para estudar água doce subterrânea armazenada sob o fundo do mar ao largo da costa do Massachusetts, EUA. Esta água, descoberta pela primeira vez na década de 1960, há muito intriga os cientistas devido à sua presença inesperada sob o oceano. A Expedição 501 “New England Shelf Hydrogeology” é a primeira a recolher e analisar diretamente estas reservas de água doce offshore.

Davide Gamboa, investigador do CESAM e professor no DGEO da Universidade de Aveiro, é o cientista líder da equipa de sedimentologia na expedição. No CESAM, integra o Cluster de Investigação RC1 – Mar Profundo, Oceano e Ecossistemas de Transição, que tem como missão avançar o conhecimento acerca dos ecossistemas marinhos, incluindo os do mar profundo, e de transição e as respetivas interações com as atividades humanas.

Liderada pela Prof. Karen Johannesson (Universidade de Massachusetts Boston) e pelo Prof. Brandon Dugan (Colorado School of Mines), a expedição reúne 41 cientistas de 13 países. A equipa iniciou as operações no mar em maio de 2025 a bordo do L/B Robert, uma plataforma elevatória equipada com um sistema de perfuração, que partiu do porto de Bridgeport, Connecticut, a 19 de maio.

Os investigadores procuram responder a questões-chave: Qual a idade desta água subterrânea? Qual a sua quantidade? Como chegou ali? E como interage com a água do mar? As hipóteses sugerem que a água poderá ter-se infiltrado nos aquíferos durante períodos de nível do mar mais baixo ou sob antigos glaciares. A equipa irá também investigar comunidades microbianas e o papel destas águas nos ciclos de nutrientes e de carbono.


Serão recolhidas amostras de sedimentos e de água até profundidades de 550 metros em três locais da plataforma continental da Nova Inglaterra. Estes locais marinhos pouco profundos foram selecionados com base em estudos geofísicos anteriores. O trabalho no mar decorrerá até ao início de agosto, sendo seguido por uma fase de análise em terra, em janeiro de 2026, no MARUM – Centro de Ciências Ambientais Marinhas da Universidade de Bremen, Alemanha.


A investigação é conduzida pelo Consórcio Europeu para Perfuração Científica Oceânica (ECORD), no âmbito do Programa Internacional de Perfuração Oceânica (IODP³), com o apoio da Fundação Nacional para a Ciência dos EUA (NSF). Os resultados contribuirão para o avanço do conhecimento global sobre sistemas aquíferos offshore e para a gestão sustentável de recursos de água doce.


Todos os dados e amostras recolhidas serão tornados públicos após um período de moratória de um ano.


Mais informações:
Visão geral da expedição
Prospecto científico
FAQ

Press release completo [aqui]

Foto: Everest@ECORD_IODP3_NSF – O L/B Robert, base da equipa científica até agosto.

Para proteger a felosa-aquática, a ave passeriforme mais ameaçada da Europa continental, foi este mês lançado o novo projeto internacional LIFE AWOM (Aquatic Warblers on the Move). Em Portugal, o projeto conta com a participação da SPEA e do CESAM/UA, que se juntam a parceiros de quatro países e dois continentes para garantir a sobrevivência desta espécie ao longo da sua rota migratória.

José Alves, investigador do CESAM/DBIO, refere que, “Este projeto é também uma oportunidade para chamar a atenção para a conservação das aves migradoras, que deve ser feita de forma coordenada pelos vários países a que chamam “casa”. Só assim é possível salvaguardar espécies que no seu ciclo anual dependem de locais e habitats que distam milhares de quilómetros”.

O LIFE AWOM é um dos mais abrangentes projetos alguma vez realizados para garantir a sobrevivência da felosa-aquática ao longo da sua rota migratória, e reforça o papel da Rede Natura 2000 como eixo vital para a conservação da biodiversidade na Europa.

“A SPEA orgulha-se de integrar este esforço conjunto, que permitirá restaurar habitats vitais em Portugal e reforçar o nosso papel na conservação de aves migradoras globalmente ameaçadas”, afirma Julieta Costa, Coordenadora do nosso Departamento de Conservação.

A felosa-aquática, que pesa apenas 10 gramas, realiza todos os anos uma migração de milhares de quilómetros entre a Europa Central e Oriental e a África Subsariana. Ao longo deste trajeto, a espécie depende de zonas húmidas saudáveis para repousar e alimentar-se — ecossistemas que enfrentam crescentes ameaças devido à drenagem, poluição e alterações climáticas. A sua conservação exige, por isso, uma abordagem internacional coordenada.

Com cofinanciamento do programa LIFE da União Europeia, o projeto LIFE AWOM junta entidades de Portugal, Espanha, França, Bélgica e Senegal para identificar e restaurar 20 zonas húmidas prioritárias ao longo da rota migratória da felosa-aquática. A maioria destas zonas está integrada na Rede Natura 2000, sublinhando o papel vital desta rede europeia na conservação da biodiversidade.

Além do restauro ecológico de habitats, o projeto contempla ações de monitorização, formação técnica e integração com políticas públicas como a Política Agrícola Comum, promovendo soluções sustentáveis a longo prazo. Cada país participante irá também desenvolver um plano de ação nacional dedicado à conservação da espécie.

“Através do LIFE AWOM, a SPEA reforça o seu compromisso com a proteção das aves e habitats em zonas húmidas naturais em Portugal, contribuindo para um futuro mais resiliente e biodiverso”, diz Julieta Costa.

O arranque oficial do projeto teve lugar em Madrid, nos dias 21 e 22 de maio, com a Conferência Internacional Pública, no Auditório da MITECO, Madrid (Ministério para la Transición Ecológica y Reto Demográfico) coincidindo com os Dias da Rede Natura 2000 e da Biodiversidade. O evento inaugural reuniu representantes de administrações públicas, ONGs de conservação nacionais e internacionais, centros de investigação, reforçando o compromisso coletivo com a cooperação transnacional e a proteção de espécies migradoras ameaçadas.

Notícia original em: spea.pt, 27 maio 2025


Rosário Domingues, investigadora do CESAM e docente no DQUA, colaborou recentemente, na publicação do artigo científico intitulado “Technical recommendations for analyzing oxylipins by liquid chromatography–mass spectrometry, uma contribuição importante para a comunidade científica envolvida em estudos de lípidos bioativos.

Publicado por uma equipa internacional de especialistas, o artigo oferece diretrizes práticas e técnicas para a análise rigorosa de oxilipinas – metabólitos derivados de ácidos gordos poli-insaturados que desempenham papéis cruciais na inflamação, imunidade e homeostasia. Através da cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa (LC-MS), estas moléculas podem ser medidas com elevada sensibilidade, sendo essencial padronizar metodologias para garantir a reprodutibilidade e comparabilidade entre laboratórios.

A contribuição da investigadora do CESAM/DQUA foi essencial para o desenvolvimento e revisão crítica das recomendações técnicas apresentadas no artigo, refletindo o seu envolvimento ativo em investigação de ponta na área da lipidómica.

Este trabalho pretende servir como referência para investigadores, laboratórios clínicos e industriais que utilizam LC-MS na análise de oxilipinas, promovendo a qualidade dos dados e o avanço da investigação biomédica.

Ana Lillebø, investigadora do CESAM/DBIO e coordenadora do projeto A-AAGORA, participou no Surfing the Blue: Navigating Ocean-Funding Opportunities, um evento organizado pela ANI – Agência Nacional de Inovação e pelo CNDO – Comité Nacional para a Década do Oceano.

Durante um painel dedicado a iniciativas bem-sucedidas na investigação oceânica e costeira, apresentou o A-AAGORA, destacado como um exemplo de boas práticas no restauro de ecossistemas marinhos e na adaptação às alterações climáticas, reforçando a sua relevância nos contextos políticos tanto a nível nacional como europeu.

O demonstrador português do projeto (Demo PT) também esteve representado no evento pelo parceiro CCDRC, sublinhando o papel ativo da região na resiliência costeira e na promoção de mudanças transformadoras.

Concebido para alinhar os objetivos da Missão Oceano com a Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica e os mecanismos de financiamento nacionais, o Surfing the Blue reuniu os principais intervenientes do ecossistema de inovação marinha. O evento destacou projetos liderados por entidades portuguesas com impacto na sustentabilidade do oceano.

A visibilidade do A-AAGORA no Surfing the Blue reforça o seu papel na construção de um futuro azul sustentável, impulsionado pela ciência, pelo envolvimento das comunidades e por um alinhamento estratégico com as políticas para o Oceano.

Mais informações aqui.

A investigadora Alexandra Monteiro, do CESAM/DAO, integra o grupo de peritos responsável pela elaboração do documento técnico da União Europeia, recentemente publicado, e que servirá de guia para a utilização da modelação na nova Diretiva da Qualidade do Ar (Diretiva UE 2024/2881). Com um papel fundamental na produção deste documento, Alexandra Monteiro é responsável por um dos capítulos deste guia, que detalha os avanços científicos e as melhores práticas na avaliação dos modelos da qualidade do ar.

O documento técnico oferece suporte essencial à implementação da modelização da qualidade do ar na Europa, consolidando conhecimentos científicos e orientações práticas para autoridades ambientais e decisores políticos. Ao longo das últimas décadas, os sistemas de modelação evoluíram significativamente, permitindo uma avaliação mais precisa da poluição atmosférica e suas implicações para a saúde e o meio ambiente. Agora, com a revisão da diretiva, a modelação assume um papel mais importante na gestão da qualidade do ar, em particular na elaboração de planos de qualidade do ar, identificação de fontes emissoras e prognóstico/cenários futuros.

A participação de Alexandra Monteiro reforça o contributo da investigação portuguesa para a definição de políticas ambientais europeias e demonstra a relevância do CESAM na vanguarda da ciência climática e atmosférica, em especial na área da modelação numérica da qualidade do ar. Com a implementação da nova diretiva, espera-se que as orientações resultantes deste trabalho técnico sejam determinantes na melhoria da qualidade do ar e na proteção da saúde pública em toda a Europa.

Consulte o documento aqui.