No passado domingo, dia 22 de outubro, no “Telejornal da tarde” da RTP1, foi transmitida uma peça que conta com os contributos de alguns dos oradores do painel de Biodiversidade das Jornadas ECOPINE, entre os quais Paula Maia, investigadora do CESAM/DBio. Na peça a investigadora destacou a importância da gestão das áreas de pinhal, a fim de promover a sua multifuncionalidade, tanto para a biodiversidade quanto em termos económicos.
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O projeto Solos do Interior: Monitorizar para Mitigar o Efeito das Alterações Climáticas – Soil@INT, teve início em outubro de 2023 e terá uma duração de 3 anos. Esta semana tivemos a oportunidade de entrevistar a investigadora responsável, Rita Tinoco Torres, e ficar a saber mais sobre os objetivos, as abordagens e impacto que se espera deste projeto.
CESAM: Muito obrigada por partilhar connosco mais informações sobre este novo projeto.
Antes de mais, gostaríamos de entender as motivações que a inspiraram a construir este projeto e o que a levou a iniciá-lo?
Rita T. Torres: O projeto Soil@INT surge numa perspetiva de continuidade, tendo sido amadurecida pelos vários projetos a decorrer no vale do Côa e que contam com a participação e/ou coordenação de elementos de diferentes grupos do CESAM. A experiência no terreno possibilitou a identificação de um dos problemas estruturais e reconhecidos do território, passível de influenciar as principais atividades agrícolas e florestais e o capital natural da região: a perda de funções básicas dos solos, devido à desertificação e ao aumento da aridez, atual e futura, do vale do Côa.
CESAM: Consegue explicar-nos melhor essa perde de funções básicas dos solos …
Rita T. Torres: Os solos são um recurso vital, fornecendo e regulando inúmeros serviços de ecossistema (SE); no entanto, são altamente vulneráveis à degradação. A região interior da Península Ibérica é uma das mais ameaçadas pela desertificação, apresentando altos níveis de aridez, risco de erosão e declínio da produtividade do solo. Paradoxalmente, esta é uma das regiões mais dependentes dos serviços de ecossistema gerados pelo seu capital natural.
CESAM: Refere várias vezes o conceito de serviços de ecossistema …
Os serviços de ecossistema são, e de uma forma muito resumida, os benefícios que os ecossistemas podem providenciar ao Homem.
CESAM: Quais são os objetivos do Soil@INT?
Rita T. Torres: Tendo como caso de estudo o concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, o projeto Soil@INT pretende desenvolver ferramentas inovadoras de monitorização do solo, robustas e de baixo custo. Estas ferramentas baseiam-se na correspondência entre os dados recolhidos in situ e os dados obtidos através de deteção remota, cuja resolução espácio-temporal e potencial de replicabilidade permitirá alavancar programas de gestão de solos nos territórios do interior. Assim, o Soil@INT dotará a região do interior com um sistema para a gestão ativa do capital natural, com foco na sustentabilidade, valorização dos serviços de ecossistema e resiliência climática. Este sistema será concebido em articulação com os agentes locais, cuja qualificação, capacitação e sensibilização permitirão munir os territórios de ferramentas passíveis de, autonomamente, maximizar o capital natural a médio-longo prazo.
CESAM: De que forma é que o público em geral pode beneficiar ou envolver-se neste projeto em particular?
Rita T. Torres: A transferência do conhecimento Ciência-Sociedade será feita através do projeto de Ciência Cidadã “Teste o seu solo gratuitamente”, que irá ser implementado, e constituirá uma bandeira do Soil@INT junto do público geral (regional e nacional). O vale do Côa assumir-se-á como um laboratório natural e “laboratório vivo” (experiências e inovação num laboratório no terreno, tal como preconizado na SoilMission da EU), de forma a atrair financiamento numa vertente científica através da contratação de investigadores, captação de pós-graduandos e numa vertente técnica através da contratação de pessoal técnico para auxílio à operacionalização do projeto.
CESAM: Quem são os parceiros envolvidos no projeto e qual é o papel de cada um?
Rita T. Torres: Como parceiros temos 2 organizações não governamentais, a Palombar e a Associação da Transumância e Natureza (ATN), um Laboratório do estado, o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG ) e o Município de Figueira de Castelo Rodrigo (MFCR). A Palombar ficará a cargo da implementação do projeto de Ciência Cidadã (“Teste o seu solo gratuitamente”), através de uma consolidada rede de contactos de escolas, atores locais e público geral. A ATN dispõe de larga experiência local e regional em atividades de gestão e conservação de ecossistemas de elevado valor socioeconómico e ambiental e acrescenta uma capacidade de articulação com os agentes locais que será essencial à consecução do projeto. O LNEG conta com vasta experiência da recolha e processamento de dados obtidos por deteção remota, através de múltiplas abordagens e plataformas. A sua experiência será essencial ao desenvolvimento de metodologias de monitorização, bem como à recolha de dados através de voos de veículos aéreos não tripulados. O MFCR fornecerá apoio logístico, essencial dada a escala de implementação do projeto e permitirá uma capacidade de articulação e abrangência de atuação que não seriam possíveis sem o seu contributo. Estas parcerias, materializadas por três projetos em curso, conferem um caráter sinérgico ao Soil@INT e atestam uma forte determinação em contribuir para o desenvolvimento local.
CESAM: Falou em três projetos em curso. Quais são estes projetos ?
Rita T. Torres: São o rWILD-COA (programa Programa Internacional de Investigação sobre o Vale do Côa – FCT) “Desafios e oportunidades ecológicas do processo de renaturalização do vale do Côa”, o LIFE WOLFLFUX (programa LIFE Nature and Biodiversity) “Diminuição das barreiras sociais e ecológicas para a conectividade das alcateias de lobo a sul do rio Douro” e o ELP-WI (programa Endangered Landscapes Programme) “Renaturalização do grande vale do Côa”.
CESAM: Por último, queremos saber qual é o financiamento e a fonte de financiamento deste projeto?
Rita T. Torres: Soil@INT é financiado pela Fundação “la Caixa” através do programa Promove, destinado à dinamização das regiões do interior de Portugal. O financiamento é de 312 366,00 euros.
CESAM: Muito obrigada pela sua participação nesta entrevista. Desejamos todo o sucesso a este projeto e estamos ansiosos por acompanhar e conhecer os seus resultados.
A série da RTP1, “Guerreiras pela Natureza,” retratou um grupo de mulheres que têm uma carreira de excelência dedicada à Conservação da Natureza em Portugal. O seu trabalho contribui para garantir o futuro de espécies ameaçadas e de habitats protegidos no nosso país.
Neste programa, emitido entre setembro e outubro deste ano foram partilhados em seis episódios documentais, as histórias de várias mulheres portuguesas.
Três dessas mulheres são investigadoras do CESAM e por isso, fomos saber mais sobre a sua participação neste programa de televisão.
Acompanhe a nossa entrevista!
CESAM: Antes de mais, obrigada por se disponibilizarem a compartilhar connosco esta experiência.
CESAM: Começo por vos perguntar o que sentiram ao partilhar a vossa vida pessoal e profissional na televisão?
Isabel Lopes: Eu sou uma pessoa reservada, por isso estava apreensiva com a partilha da minha vida pessoal. No entanto, após ver o episódio, senti que a contextualização dos elementos da nossa vida pessoal foi muito bem integrada com o percurso profissional, trazendo fluidez e naturalidade a este percurso. Senti-me confortável com a partilha.
Milene Matos: Considero que as partilhas não se focaram tanto em aspetos da vida privada, mas sim na ideia de que a ciência, como forma de gerar um impacto positivo no ambiente e na comunidade, é desenvolvida por pessoas comuns. A série mostrou carreiras acessíveis e inspiradoras, especialmente para os jovens estudantes.
Susana Loureiro: A nossa vida pessoal e profissional está sempre interligada, e as escolhas que fazemos em termos pessoais refletem-se na nossa vida profissional. Como crianças ou jovens, o modo como vemos o mundo influencia as questões que levantamos e as escolhas que fazemos.
CESAM: Após a transmissão dos vários episódios pela RTP, certamente receberam contatos de familiares, amigos e conhecidos sobre a vossa participação na série. Qual é o feedback que têm tido?
Isabel Lopes: Recebi um feedback muito positivo em relação à série, desde a estrutura, às imagens, aos conteúdos de informação. Um comentário interessante foi o de que a apresentação da informação pessoal “torna o cientista mais humano e próximo da sociedade em geral.”
Milene Matos: O feedback tem sido muito positivo, com inúmeras partilhas e relatos de surpresa em relação ao nosso trabalho.
Susana Loureiro: Tenho recebido um feedback positivo, tanto de pessoas próximas, como familiares e colegas de trabalho. No entanto, com as redes sociais, o feedback é mais rápido e efêmero.
CESAM: Esta série foi vista por mais de meio milhão de pessoas apenas em Portugal e alcançou o top 10 dos programas mais vistos do dia na RTP1. Estes números dizem respeito exclusivamente aos espetadores que acompanharam o programa ao vivo. Sem dúvida, houve muito mais visualizações através da RTP Play. Além disso, as “Guerreiras pela Natureza” está a ser transmitido pela RTP África, RTP Internacional Ásia e RTP Internacional América anda esta semana.
CESAM: De que forma consideram que a vossa participação numa série com este alcance contribuiu para dar a conhecer o vosso trabalho?
Isabel Lopes: Os canais comuns que utilizamos para divulgar o conhecimento científico estão mais direcionados para a comunidade académico-científica. A participação numa série televisiva deste género permite-nos comunicar com um público muito mais amplo e diverso, transmitindo-lhe o conhecimento científico que desenvolvemos em Portugal e a sua importância para o ambiente e a sociedade em geral.
Milene Matos: No meu caso particular, a série revelou a um público mais alargado o trabalho transformador que pode ser concretizado a nível local/municipal, contrariando o mito de que a implementação de ações de sustentabilidade leva décadas.
Susana Loureiro: A participação na série pode mostrar à sociedade a ligação da ciência e da investigação a problemas atuais, com o intuito de resolvê-los a curto e a longo prazo. Podemos compartilhar exemplos de sucesso que foram mostrados nos vários episódios. Espero que isso reacenda a esperança em muitos jovens, especialmente meninas, raparigas e mulheres, que consideram carreiras ligadas à ciência.
CESAM: Muito obrigado por partilharem as vossas experiências e reflexões.
Tal como vocês, esperamos que este programa possa inspirar os mais jovens a seguir carreiras na ciência e a fazer importantes contribuições para o ambiente.
Cláudia Mieiro, investigadora do CESAM/DBio, participou no programa “90 segundos de ciência” da Antena 1, onde abordou o impacto das nanopartículas de dióxido de titânio e prata na reprodução de organismos marinhos. Durante a sua participação, a investigadora revelou que esses dois compostos são frequentemente encontrados em produtos como cosméticos e protetores solares, podendo ter implicações na saúde humana, bem como consequências ambientais.
Os estudos em que participou no âmbito do projeto “NanoReproTox: Desvendando os impactos ecológicos da toxicidade de nanopartículas na reprodução de organismos marinhos,” financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), destacam os efeitos dessas nanopartículas em duas espécies, a dourada e a ostra do Pacífico, devido à sua relevância ecológica e económica. Os resultados deste estudo indicam que as nanopartículas têm um efeito moderado na reprodução desses organismos, com variações notáveis entre as duas espécies.
Enquanto na dourada não foram observadas alterações no desempenho dos espermatozoides, no caso da ostra do Pacífico, que parece ser mais suscetível a essas nanopartículas, foi constatado que o dióxido de titânio afeta a integridade do DNA dos espermatozoides da ostra, e a prata reduz a sua mobilidade.
Para ouvir o programa completo, aceda aqui.
Recentemente abriram três projetos europeus nos quais o CESAM participa. Estes projetos representam um compromisso com a investigação e a preservação ambiental, abordando uma variedade de desafios relacionados com a biodiversidade e a conservação dos ecossistemas naturais.
O “Maricultura para o Rewilding dos Prados de Ervas Marinhas Subtidais da Ria de Aveiro” é um projeto que começou em 1 de setembro de 2023 e terá uma duração de 7 anos. O coordenador geral deste projeto é o investigador do CESAM/DBio, João Pedro Coelho, e o projeto conta com um financiamento total de 3 426 795,91€.
O projeto “REWRITE – REWilding and Restoration of Intertidal Sediment Ecosystems for Carbon Sequestration, Climate Adaptation, and Biodiversity Support” também teve início em 1 de setembro deste ano e terá uma duração de 5 anos. Este projeto, no qual o CESAM é parceiro, é coordenado na UA pela investigadora Ana Sousa e recebeu um financiamento total de 7 932 116,48€.
Por último, o projeto “LIFE Godwit Flyway – Conservação do Maçarico de Bico Direito ao Longo da Rota de Migração” começou a 01 de julho de 2023 e terá uma duração superior a 7 anos. O CESAM é parceiro neste projeto, e o investigador responsável na UA é José Alves (CESAM/DBio). Este projeto conta com um financiamento total no valor de 794 261,00€.
Esperamos com expectativa conhecer os resultados e o impacto destes projetos.
Dias 19 e 20 de outubro, decorreu a reunião que marcou o início do projeto LIFE SeagrassRIAwild, coordenado pelo investigador do CESAM, Pedro Coelho.
Este evento decorreu na Sala de Atos Académicos no edifício da Reitoria da Universidade de Aveiro e contou com a presença de vários membros do consórcio, que envolve centros de investigação portugueses, espanhóis e alemães, empresas e ONGs.
Em breve, no CESAM, teremos um conteúdo exclusivo, para que possa conhecer melhor este projeto.
Rita Torres, investigadora CESAM/DBio, em entrevista ao Jornal de Notícias falou sobre os acidentes rodoviários provocados por animais selvagens e revelou que entre 2019 e 2020 houve mais de 1000 acidentes causados por javalis.
A investigadora refere que no seu projeto de investigação: “utilizámos informação de uma monitorização de 2 anos de atropelamentos (2019-2020) de ungulados selvagens (javali, veado e corço) para avaliar os fatores que influenciam a probabilidade de acidentes em Portugal. Foi contabilizado um total de 1.306 acidentes (2019 e 2020), envolvendo as três espécies de ungulados silvestres com maior expressão em Portugal. O javali esteve envolvido na maior parte dos acidentes (83,7%), seguido do veado (9%) e do corço (7,3%). Os nossos dados, ainda que só focados em dois anos, confirmam os resultados descritos na literatura, mostrando que o javali é a espécie de ungulado envolvida em mais acidentes rodoviários na Peninsula Ibérica. Este facto também é potencialmente revelador da sua expressiva densidade no nosso país, comparativamente com as outras espécies de ungulados, sendo o javali mais abundante e amplamente distribuído em Portugal Continental, ocupando quase todo o território nacional.”
Rita Torres desempenhou um papel fundamental na elaboração do Plano Estratégico e de Ação do Javali, promovido pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, e também chamou à atenção para o aumento de acidentes rodoviários nos fins de semana, especialmente aos domingos, bem como nos períodos finais da tarde e durante a noite. Nestes momentos, é crucial que os condutores redobrem os seus cuidados, especialmente em áreas caracterizadas por uma cobertura florestal significativa.
Além disso, o seu trabalho refere ainda que “o planeamento de estradas deve levar em consideração a cobertura do solo para evitar a formação de pontos críticos para acidentes. Uma gestão florestal adequada ao longo das estradas, que reduza a vegetação nas proximidades da pista, pode diminuir a atratividade do habitat para o javali, ao mesmo tempo que melhora a visibilidade dos condutores, potencialmente reduzindo o risco de acidentes”.
Para ler o artigo completo, clique aqui.
Esta semana, entrevistamos o investigador José Alves, membro do CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar) e do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. Numa conversa informal tentamos descobrir um pouco mais sobre a sua jornada ao participar no programa da RTP1, Linha da Frente. Desvendamos os segredos de como ele a sua equipa conseguiram conciliar as exigências do seu trabalho de campo com as filmagens, e exploramos a perspetiva do investigador sobre a relevância desses programas que levam a ciência até público em geral.
O episódio do programa Linha da Frente, intitulado “Vou Voar Contigo”, estreou com uma audiência de cerca de 600 mil espetadores na sua primeira exibição, conquistando uma fatia de 11.7% de share. Além disso, o episódio foi transmitido em diversos canais da RTP, incluindo a RTP Internacional e a RTP Açores.
Se quer saber mais sobre o trabalho desta equipa e ler em primeira mão alguns detalhes sobre as filmagens deste episódio não perca a nossa entrevista.
CESAM: Acredita que as mensagens que desejavam transmitir sobre o trabalho de investigação com estas espécies foram efetivamente comunicadas na reportagem? Há algo que acrescentaria?
José Alves: O grande objetivo da reportagem era fazer chegar as nossas descobertas ao grande público, e creio que isso foi amplamente conseguido. Desde a migração de vários milhares de quilómetros sem paragens do maçarico-galego1,2, aos ostraceiros que podem passar o inverno na Islândia ou migrar para outros países mais a sul, sendo que as crias seguem o comportamento migratório do pai3, até ao maçarico-de-bico-direito que responde às alterações climáticas chegando cada vez mais cedo à Islândia, mas fá-lo através das novas gerações e não por alteração dos ritmos migratórios de cada indivíduo4. Temos mais histórias e descobertas para contar, mas preferiria deixar isso para a próxima “reportagem”… Sublinho apenas uma das mensagens com que se inicia a reportagem: se não cuidarmos destas espécies que estão atualmente em declínio, corremos o risco de perder uma biodiversidade que une culturas. Estas aves não dependem apenas das condições que existem na Islândia, mas também daquelas que encontram nas suas zonas de invernada, incluindo Portugal. Portanto, a sua preservação tem de ter por base um trabalho em conjunto, ou seja, a Islândia pode investir milhões na sua conservação, mas se em Portugal não cuidarmos dos seus habitats, esse investimento não terá resultados (e vice-versa), podendo-se perder também ligações culturais que são mantidas por estas aves migradoras.
CESAM: Como conseguiram conciliar o trabalho de campo com as necessidades da equipa de gravação?
José Alves: A equipa da RTP esteve na Islândia cerca de 10 dias, e durante esse período estiveram no campo todos os dias a acompanhar os nossos trabalhos, que além de mim foram desenvolvidos este verão pelo João Belo, Afonso Rocha e Camilo Carneiro. Como sabíamos que durante esses dias teríamos de dedicar várias horas às filmagens, o que fizemos foi investir muito no campo antes da sua chegada e preparar bem os eventos que queríamos mostrar e filmar, para que servissem de apoio à narrativa dos nossos resultados científicos. Por exemplo, encontramos e monitorizamos ninhos/famílias das três espécies que estivessem em diferentes estágios de desenvolvimento: em plena incubação, próximo da eclosão, e com crias já mais desenvolvidas. Pode soar a coisa pouca, mas para dar uma ideia, os ninhos de maçarico-de-bico-direito são extremamente difíceis de encontrar, sendo que num ano bom encontram-se cerca de 20 ao longo de dois meses de trabalho de campo diário. Alguns destes ninhos são inevitavelmente predados ficando ainda um número menor disponível, e por isso foi necessário um esforço redobrado este ano, liderado pelo Afonso e pelo João direcionado a espécie, que resultou num número excecionalmente elevado de ninhos. Foi isso que permitiu filmar em apenas 10 dias, adultos a sentarem-se nos ovos (e alguns a serem capturados), ovos a eclodir e crias recém-nascidas, bem como crias que podem ser anilhadas com anilhas de cor ou código, respetivamente. Isto é bem visível no caso do Ostraceiro, onde todas estas imagens chegaram à reportagem final, pese embora não tenha sido esse o caso para as outras espécies. Por outro lado, como os nossos trabalhos de campo decorrem em locais diferentes da Islândia, fomos alternando os dias de filmagem entre locais e espécies, ou seja, apenas num dia estivemos os quatro juntos. Nos restantes, a RTP acompanhava o trabalho com uma espécie, deixando outros elementos da nossa equipa livres para realizarem os trabalhos de campo sem as câmaras e os microfones a “atrapalhar”.
CESAM: Em que medida considera importantes iniciativas como esta? No final do episódio, apelou à participação do público na vossa investigação. Que expectativas tem em relação a essa participação?
José Alves: Estas oportunidades são extremamente importantes! Além dos motivos já descritos, permitem também dar a entender ao público em geral porque é importante investir na investigação e empregar fundos públicos no estudo da biodiversidade. Um dos pilares das universidades (além do ensino e da investigação) é interagir com a sociedade e contribuir para que esta seja cada vez mais informada e conhecedora do mundo que a rodeia. Nesse sentido, fazer chegar os resultados dos trabalhos científicos ao público é parte da nossa missão como investigadores. A meu ver, isto é ainda mais relevante no que diz respeito à perda da biodiversidade, que é um indicador consistentemente dos mais ultrapassados em todas as três avaliações do espaço operacional seguro para a humanidade5. Ora os maiores fatores que levam à perda da biodiversidade têm origem na ação humana, quer de forma direta (perda de habitat para desenvolvimento de atividades antropogénicas) ou indireta (alterações climáticas resultantes da utilização dos combustíveis fósseis). Portanto, consciencializar a sociedade de que estas espécies absolutamente fascinantes estão a diminuir e podem vir a desaparecer, poderá contribuir para mudança de comportamentos e assim reduzir as atuais ameaças à biodiversidade. Por outro lado, lançar o convite para que membros da sociedade se tornem em “cidadãos cientistas” também aproxima o público destas espécies e pode contribuir para alterar consciências. A expectativa é que essa participação aumente, particularmente em Portugal, onde é muito baixa, e que assim se venha a tornar numa percentagem relevante das centenas de emails que recebemos com registos de combinações de anilhas de cor nas varias espécies de aves limícolas, enviados por membros do público ao longo de toda a rota migratória.
CESAM: Muito obrigado pela sua participação nesta entrevista. O trabalho realizado por si e pela sua equipa do CESAM demonstra como a ciência e a divulgação podem colaborar para preservar a nossa biodiversidade.
Se ainda não viu, o programa está disponível na RTP Play aqui.
Referências:
- https://www.nature.com/articles/srep38154
- https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/jav.01938
- https://www.nature.com/articles/s41598-021-81274-9
- https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2013.2161
- https://expresso.pt/sustentabilidade/ambiente/2023-09-13-A-Terra-esta-agora-bem-fora-do-espaco-operacional-seguro-para-a-humanidade-planeta-ultrapassou-seis-dos-nove-limites-de-estabilidade-309dc4da
Aconteceu no dia 13 de outubro o workshop intitulado “Os desafios e necessidades dos stakeholders da floresta em Portugal”, que reuniu um conjunto de especialistas e profissionais para discutir questões cruciais que envolvem o setor florestal em território português. Este evento foi organizado por uma equipa composta por Bruna Oliveira, Investigadora Auxiliar do CESAM/DAO e Coordenadora do projeto ModelEco, Helena Vieira, Investigadora Coordenadora do CESAM/DAO e ERA Chair Holder do projeto BESIDE, e Sofia Corticeiro, Investigadora Júnior do CESAM/DAO e Coordenadora do projeto FireProd.
O workshop foi organizado num formato de reunião prática de trabalho, focada em dois objetivos principais: a identificação de desafios, necessidades de informação e de dados do setor florestal e a aproximação entre a academia e os stakeholders da cadeia de valor deste setor.
Durante o evento foram realizados exercícios interativos e de grupo, onde foram identificados pelos representantes das diferentes entidades do setor Florestal mais de 110 desafios e necessidades de informação e de dados científicos. As equipas do CESAM irão agora debruçar-se sobre esta informação e elaborar propostas de soluções/projetos para os resolver, culminando na produção de um relatório e sumário executivo que serão posteriormente apresentados aos participantes numa segunda sessão dia 22 de fevereiro de 2024. Com esta iniciativa estabeleceu-se também uma aproximação entre os académicos da Universidade de Aveiro que trabalham temas tão diversos como as Ciências Socioeconómicas e Ciências do Ambiente, e que podem apoiar nos desafios e suportar a tomada de decisão, e as entidades convidadas que representam toda a cadeia de valor e os diferentes tipos de stakeholders envolvidos na cadeia de valor da gestão e exploração da nossa floresta.

Além das sessões de trabalho, o workshop proporcionou um momento de networking e partilha espontânea e informal durante o almoço, realizado no Restaurante da Universidade de Aveiro, onde os participantes tiveram a oportunidade de partilhar ideias e fortalecer conexões profissionais.
Este evento demonstrou mais uma vez o compromisso dos nossos investigadores em abordar os desafios da gestão florestal em Portugal e promover uma colaboração eficaz entre académicos e partes interessadas do setor. A expectativa é que os resultados deste workshop ajudem a orientar ações futuras no setor florestal do país e a fortalecer a ligação do CESAM e da Universidade à Floresta em Portugal.
Saiba mais sobre estes projetos aqui:
Texto por: CESAM em colaboração com Bruna Oliveira, Helena Vieira e Sofia Corticeiro
Hoje, dia 13 de outubro, Edna Correia, investigadora do CESAM/FCUL, esteve presente no programa “90 segundos de ciência” da Antena 1.
Na entrevista a investigadora partilhou alguns detalhes sobre o seu trabalho e explicou que o seu objetivo foi estudar as interacções tróficas entre as aves marinhas e peixes predadores no Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau. Os resultados obtidos até à data permitiram concluir que existem variações significativas no comportamento das diferentes espécies de aves em relação à necessidade de se associarem com peixes predadores para se alimentarem, no entanto, foi identificada uma presa comum nas suas dietas – um peixe pelágico da família das sardinhas. Esta parente da sardinha (Sardinella maderensis) desempenha um papel central no funcionamento do ecossistema e é crucial para a sua estabilidade.
O conhecimento adquirido através do trabalho da investigadora pode orientar o desenvolvimento de medidas de proteção com o objetivo de garantir a preservação deste peixe e das espécies que dependem dele, evitando riscos de colapso no ecossistema.
Não perca o programa completo aqui.