Esta semana, entrevistamos o investigador José Alves, membro do CESAM (Centro de Estudos do Ambiente e do Mar) e do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. Numa conversa informal tentamos descobrir um pouco mais sobre a sua jornada ao participar no programa da RTP1, Linha da Frente. Desvendamos os segredos de como ele a sua equipa conseguiram conciliar as exigências do seu trabalho de campo com as filmagens, e exploramos a perspetiva do investigador sobre a relevância desses programas que levam a ciência até público em geral.

O episódio do programa Linha da Frente, intitulado “Vou Voar Contigo”, estreou com uma audiência de cerca de 600 mil espetadores na sua primeira exibição, conquistando uma fatia de 11.7% de share. Além disso, o episódio foi transmitido em diversos canais da RTP, incluindo a RTP Internacional e a RTP Açores.

Se quer saber mais sobre o trabalho desta equipa e ler em primeira mão alguns detalhes sobre as filmagens deste episódio não perca a nossa entrevista.

CESAM: Acredita que as mensagens que desejavam transmitir sobre o trabalho de investigação com estas espécies foram efetivamente comunicadas na reportagem? Há algo que acrescentaria?

José Alves: O grande objetivo da reportagem era fazer chegar as nossas descobertas ao grande público, e creio que isso foi amplamente conseguido. Desde a migração de vários milhares de quilómetros sem paragens do maçarico-galego1,2, aos ostraceiros que podem passar o inverno na Islândia ou migrar para outros países mais a sul, sendo que as crias seguem o comportamento migratório do pai3, até ao maçarico-de-bico-direito que responde às alterações climáticas chegando cada vez mais cedo à Islândia, mas fá-lo através das novas gerações e não por alteração dos ritmos migratórios de cada indivíduo4. Temos mais histórias e descobertas para contar, mas preferiria deixar isso para a próxima “reportagem”… Sublinho apenas uma das mensagens com que se inicia a reportagem: se não cuidarmos destas espécies que estão atualmente em declínio, corremos o risco de perder uma biodiversidade que une culturas. Estas aves não dependem apenas das condições que existem na Islândia, mas também daquelas que encontram nas suas zonas de invernada, incluindo Portugal. Portanto, a sua preservação tem de ter por base um trabalho em conjunto, ou seja, a Islândia pode investir milhões na sua conservação, mas se em Portugal não cuidarmos dos seus habitats, esse investimento não terá resultados (e vice-versa), podendo-se perder também ligações culturais que são mantidas por estas aves migradoras.

CESAM: Como conseguiram conciliar o trabalho de campo com as necessidades da equipa de gravação?

José Alves: A equipa da RTP esteve na Islândia cerca de 10 dias, e durante esse período estiveram no campo todos os dias a acompanhar os nossos trabalhos, que além de mim foram desenvolvidos este verão pelo João Belo, Afonso Rocha e Camilo Carneiro. Como sabíamos que durante esses dias teríamos de dedicar várias horas às filmagens, o que fizemos foi investir muito no campo antes da sua chegada e preparar bem os eventos que queríamos mostrar e filmar, para que servissem de apoio à narrativa dos nossos resultados científicos. Por exemplo, encontramos e monitorizamos ninhos/famílias das três espécies que estivessem em diferentes estágios de desenvolvimento: em plena incubação, próximo da eclosão, e com crias já mais desenvolvidas. Pode soar a coisa pouca, mas para dar uma ideia, os ninhos de maçarico-de-bico-direito são extremamente difíceis de encontrar, sendo que num ano bom encontram-se cerca de 20 ao longo de dois meses de trabalho de campo diário. Alguns destes ninhos são inevitavelmente predados ficando ainda um número menor disponível, e por isso foi necessário um esforço redobrado este ano, liderado pelo Afonso e pelo João direcionado a espécie, que resultou num número excecionalmente elevado de ninhos. Foi isso que permitiu filmar em apenas 10 dias, adultos a sentarem-se nos ovos (e alguns a serem capturados), ovos a eclodir e crias recém-nascidas, bem como crias que podem ser anilhadas com anilhas de cor ou código, respetivamente. Isto é bem visível no caso do Ostraceiro, onde todas estas imagens chegaram à reportagem final, pese embora não tenha sido esse o caso para as outras espécies. Por outro lado, como os nossos trabalhos de campo decorrem em locais diferentes da Islândia, fomos alternando os dias de filmagem entre locais e espécies, ou seja, apenas num dia estivemos os quatro juntos. Nos restantes, a RTP acompanhava o trabalho com uma espécie, deixando outros elementos da nossa equipa livres para realizarem os trabalhos de campo sem as câmaras e os microfones a “atrapalhar”.

CESAM: Em que medida considera importantes iniciativas como esta? No final do episódio, apelou à participação do público na vossa investigação. Que expectativas tem em relação a essa participação?

José Alves: Estas oportunidades são extremamente importantes! Além dos motivos já descritos, permitem também dar a entender ao público em geral porque é importante investir na investigação e empregar fundos públicos no estudo da biodiversidade. Um dos pilares das universidades (além do ensino e da investigação) é interagir com a sociedade e contribuir para que esta seja cada vez mais informada e conhecedora do mundo que a rodeia. Nesse sentido, fazer chegar os resultados dos trabalhos científicos ao público é parte da nossa missão como investigadores. A meu ver, isto é ainda mais relevante no que diz respeito à perda da biodiversidade, que é um indicador consistentemente dos mais ultrapassados em todas as três avaliações do espaço operacional seguro para a humanidade5. Ora os maiores fatores que levam à perda da biodiversidade têm origem na ação humana, quer de forma direta (perda de habitat para desenvolvimento de atividades antropogénicas) ou indireta (alterações climáticas resultantes da utilização dos combustíveis fósseis). Portanto, consciencializar a sociedade de que estas espécies absolutamente fascinantes estão a diminuir e podem vir a desaparecer, poderá contribuir para mudança de comportamentos e assim reduzir as atuais ameaças à biodiversidade. Por outro lado, lançar o convite para que membros da sociedade se tornem em “cidadãos cientistas” também aproxima o público destas espécies e pode contribuir para alterar consciências. A expectativa é que essa participação aumente, particularmente em Portugal, onde é muito baixa, e que assim se venha a tornar numa percentagem relevante das centenas de emails que recebemos com registos de combinações de anilhas de cor nas varias espécies de aves limícolas, enviados por membros do público ao longo de toda a rota migratória.

CESAM: Muito obrigado pela sua participação nesta entrevista. O trabalho realizado por si e pela sua equipa do CESAM demonstra como a ciência e a divulgação podem colaborar para preservar a nossa biodiversidade.

Se ainda não viu, o programa está disponível na RTP Play aqui.

Referências:

  1. https://www.nature.com/articles/srep38154
  2. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/jav.01938
  3. https://www.nature.com/articles/s41598-021-81274-9
  4. https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rspb.2013.2161
  5. https://expresso.pt/sustentabilidade/ambiente/2023-09-13-A-Terra-esta-agora-bem-fora-do-espaco-operacional-seguro-para-a-humanidade-planeta-ultrapassou-seis-dos-nove-limites-de-estabilidade-309dc4da

Aconteceu no dia 13 de outubro o workshop intitulado “Os desafios e necessidades dos stakeholders da floresta em Portugal”, que reuniu um conjunto de especialistas e profissionais para discutir questões cruciais que envolvem o setor florestal em território português. Este evento foi organizado por uma equipa composta por Bruna Oliveira, Investigadora Auxiliar do CESAM/DAO e Coordenadora do projeto ModelEco, Helena Vieira, Investigadora Coordenadora do CESAM/DAO e ERA Chair Holder do projeto BESIDE, e Sofia Corticeiro, Investigadora Júnior do CESAM/DAO e Coordenadora do projeto FireProd.

O workshop foi organizado num formato de reunião prática de trabalho, focada em dois objetivos principais: a identificação de desafios, necessidades de informação e de dados do setor florestal e a aproximação entre a academia e os stakeholders da cadeia de valor deste setor.

Durante o evento  foram realizados exercícios interativos e de grupo, onde foram identificados pelos representantes das diferentes entidades do setor Florestal mais de 110 desafios e necessidades de informação e de dados científicos. As equipas do CESAM irão agora debruçar-se sobre esta informação e elaborar propostas de soluções/projetos para os resolver, culminando na produção de um relatório e sumário executivo que serão posteriormente apresentados aos participantes numa segunda sessão dia 22 de fevereiro de 2024. Com esta iniciativa estabeleceu-se também uma aproximação entre os académicos da Universidade de Aveiro que trabalham temas tão diversos como as Ciências Socioeconómicas e Ciências do Ambiente, e que podem apoiar nos desafios e suportar a tomada de decisão, e as entidades convidadas que representam toda a cadeia de valor e os diferentes tipos de stakeholders envolvidos na cadeia de valor da gestão e exploração da nossa floresta.

Além das sessões de trabalho, o workshop proporcionou um momento de networking e partilha espontânea e informal durante o almoço, realizado no Restaurante da Universidade de Aveiro, onde os participantes tiveram a oportunidade de partilhar ideias e fortalecer conexões profissionais.

Este evento demonstrou mais uma vez o compromisso dos nossos investigadores em abordar os desafios da gestão florestal em Portugal e promover uma colaboração eficaz entre académicos e partes interessadas do setor. A expectativa é que os resultados deste workshop ajudem a orientar ações futuras no setor florestal do país e a fortalecer a ligação do CESAM e da Universidade à Floresta em Portugal.

Saiba mais sobre estes projetos aqui:

BESIDE, ModelEco e FirEProd

Texto por: CESAM em colaboração com Bruna Oliveira, Helena Vieira e Sofia Corticeiro

Hoje, dia 13 de outubro, Edna Correia, investigadora do CESAM/FCUL, esteve presente no programa “90 segundos de ciência” da Antena 1. 

Na entrevista a investigadora partilhou alguns detalhes sobre o seu trabalho e explicou que o seu objetivo foi estudar as interacções tróficas entre as aves marinhas e peixes predadores no Arquipélago dos Bijagós, na Guiné-Bissau. Os resultados obtidos até à data permitiram concluir que existem variações significativas no comportamento das diferentes espécies de aves em relação à necessidade de se associarem com peixes predadores para se alimentarem, no entanto, foi identificada uma presa comum nas suas dietas – um peixe pelágico da família das sardinhas. Esta parente da sardinha (Sardinella maderensis) desempenha um papel central no funcionamento do ecossistema e é crucial para a sua estabilidade.

O conhecimento adquirido através do trabalho da investigadora pode orientar o desenvolvimento de medidas de proteção com o objetivo de garantir a preservação deste peixe e das espécies que dependem dele, evitando riscos de colapso no ecossistema.

Não perca o programa completo aqui.

De acordo com um estudo recentemente divulgado, realizado pela Universidade de Stanford em parceria com o grupo editorial Elsevier, o Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) marcou presença com 17 dos seus investigadores entre os mais influentes do mundo em 2022. Este estudo, realizado anualmente, avaliou um extenso conjunto de cerca de 210 mil investigadores na categoria de “investigadores de maior impacto no ano de 2022” e 205 mil investigadores na categoria de “mais influentes e com maior impacto em toda a sua carreira”.

Entre este notável grupo, o CESAM conta com os seguintes membros: Adelaide Almeida, Alisa Rudnitskaya, Amadeu M. Soares, Ana L. Patrício Silva, Armando C. Duarte, Artur Alves, Bruno Nunes, Célia A. Alves, Celine Justino, David Carvalho, João Pinto da Costa, Maria do Rosário Domingues, Miguel Oliveira, Mónica J.B. Amorim, Ricardo Calado, Rosa Freitas, Teresa Rocha Santos.

O reconhecimento destes investigadores do CESAM destaca o impacto das suas contribuições científicas no cenário internacional. O Coordenador do CESAM, professor Amadeu Soares, faz notar que “esta é mais uma metodologia que realça a qualidade do CESAM. Com outros parâmetros de análise, como por exemplo o impacto do CESAM nas políticas públicas, nacionais ou comunitárias, com certeza apareceriam outros investigadores CESAM. Pelo que estamos todos de parabéns!”

O estudo, intitulado “Elsevier Data Repository”, tem como objetivo fundamental a normalização de indicadores relacionados aos investigadores mais citados. Essa normalização é crucial, uma vez que padroniza dados referentes a citações para cada autor. Alguns dos parâmetros utilizados neste este estudo incluem o índice ‘h’, que quantifica a produtividade e o impacto do autor com base nos artigos mais citados; o índice ‘hm’, ajustado por coautoria, que quantifica a contagem fracionada dos artigos mais citados; as citações de artigos em diferentes posições de autoria; e, por fim, o indicador composto (c-score), cujo principal objetivo é promover medidas de combate à autocitação.

Susana Loureiro, investigadora CESAM/DBio e membro do Global Soil Interest Group da SETAC- Society of Environmental Toxicology and Chemistry é co-autora do texto “A caminho para uma proteção eficaz do solo na Europa”, resultado da sessão sobre solos que decorreu durante a 33ª Reunião Anual da SETAC Europa em Dublin, Irlanda, juntamente com Pia Kotschik e Silvia Pieper ( German Environment Agency) e Claudia Lima da Universidade de Wageningen. Este texto pode ser lido na íntegra aqui.

Nesta reunião destacou-se a necessidade de uma melhor proteção do solo, dado o seu papel fundamental na produção de alimentos, fornecimento de água potável e suporte à biodiversidade. Além disso, a Diretiva de Monitorização e Resiliência do Solo foi mencionada como um passo importante em direção à proteção do solo, estabelecendo o objetivo de atingir 100% de solos saudáveis até 2050. No entanto, a proposta atual para a avaliação da poluição do solo não considera os efeitos da presença de múltiplos contaminantes nas comunidades do solo, o que representa uma ameaça desconhecida para a biodiversidade do solo.

Os participantes na 33ª reunião anual da SETAC discutiram a importância de se estabelecerem valores para múltiplos contaminantes e reconhecer os efeitos e a toxicidade das misturas de produtos químicos no solo, no entanto, ainda há desafios na avaliação de riscos devido à complexidade das misturas químicas e à falta de dados. Ficou também definido que, para que estas metas sejam atingidas, é necessária a colaboração de várias partes interessadas, incluindo o setor agrícola e a implementação de práticas sustentáveis para reduzir a poluição química do solo.

Neste âmbito, na próxima conferencia da SETAC Europa a ter lugar em maio de 2024, em Sevilha, Espanha, Susana Loureiro será responsável por uma sessão sobre as Funções do Solo e a Biodiversidade: Impactos e resiliência em condições de stress ambiental, juntamente com Chioma Chikere (University of Port Harcourt, Nigéria) e Maria Nazaret González (Universidad Politécnica de Cartagena, Espanha). Está aberta a “call for abstracts” até 29 de novembro de 2023.

No dia 12 de outubro, Amadeu Soares, coordenador científico do CESAM, participou na mesa-redonda dos Laboratórios Associados da UA, realizada no Museu Vista Alegre, em Ílhavo, como parte das jornadas CICECO 2023.

Durante a sessão, presidida pelo Professor João Rocha, Amadeu Soares destacou que a ideia apresentada, que ele subscreve na totalidade, da criação de um grupo informal de Laboratórios Associados da UA, faz parte do seu programa estratégico, pelo que não poderia estar mais de acordo. Para além disso estes encontros deverão servir de espaço de reflexão e de ajuda à decisão sobre as necessidades e política científica da UA, complementares aos encontros de todas as Unidades de Investigação já existentes, promovidos pela reitoria.

Texto por: CESAM

O projeto RESTORE4Cs esteve em destaque no EuroGEO 2023, que decorreu presencialmente e online de 2 a 4 de outubro de 2023, no Eurac Research em Bolzano, Itália. A coordenadora do projeto RESTORE4Cs, Ana Lillebø (Universidade de Aveiro), apresentou o projeto no dia 3 de outubro, primeiro com um e-poster no Foyer 123 e depois num painel de discussão, moderado por Antonello Provenzale (CNR), focado em “Desafios na interface entre água e ecossistemas”, durante a sessão “Biodiversidade, ecossistemas e geodiversidade – interfaces em termos de iniciativa e áreas científicas”.

O EuroGEO reúne e coordena atividades na Europa que contribuem para as iniciativas do Grupo de Observação da Terra (GEO). O GEO encontra-se numa encruzilhada com a definição da sua estratégia pós-25 (atualmente em consulta pública), que deverá ser adotada em novembro de 2023 na cimeira ministerial do GEO na Cidade do Cabo, África do Sul. A nova estratégia passa da “Observação da Terra” para a “Inteligência da Terra” e muda o foco dos serviços para a equidade, a fim de colmatar as lacunas de informação a nível mundial.
O workshop EuroGEO deste ano ofereceu a oportunidade de posicionar as iniciativas europeias à luz da nova estratégia GEO e promove a coordenação e interligação de iniciativas a nível nacional e europeu, bem como entre setores e domínios, de modo a produzir contribuições para a GEO que sejam pertinentes e significativas.
Os objetivos do workshop foram:

  • Posicionar o EuroGEO face à nova estratégia GEO;
  • Identificar e explorar sinergias entre projetos e iniciativas nacionais e da UE;
  • Apoiar uma abordagem de ligação para enfrentar a crise poluição-clima-biodiversidade;
  • Criar um diálogo entre cientistas, decisores políticos e utilizadores finais para apoiar o co-design de ferramentas, conhecimentos e políticas.

Mais informações sobre o Workshop EuroGEO 2023 disponíveis aqui.

Texto por: Equipa de Comunicação do Restore4Cs

A 2ª reunião do Projeto COASTAL, “Sensores Microfluídicos para a Detecção Rápida de Toxinas Marinhas em Aquacultura Sustentável”, realizou-se em Oslo nos passados dias 14 e 15 de setembro, com o objetivo de avaliar a execução das tarefas programadas. Nesta reunião, participaram os especialistas na área da eletroquímica, química analítica e do fabrico de micro e nanobiossensores das entidades. SINTEF, Faculdade de Veterinária (FV) da Universidade da Noruega, Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro e Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Registaram-se avanços no desenvolvimento do design, produção, montagem e testagem dos primeiros protótipos da célula microfluídica para deteção de PST (Paralytic shellfish toxins), nomeadamente com sensores e biossensores capazes de detetar 5 análogos PST em amostras de bivalves. Dois conjuntos de sensores químicos e biossensores foram selecionados de acordo com os perfis dos PST predominantes nas costas de Portugal e da Noruega, e a sua performance demonstrou-se promissora.

Durante a reunião foram ainda efetuadas visitas técnicas ao SINTEF sobre a fabricação dos protótipos e à FV sobre a a utilização de metodologias de referência para a monitorização de análogos PST, estabelecidas as próximas etapas e discutidos os potenciais desenvolvimentos futuros.

Para saber mais sobre o Projeto COASTAL: COASTAL PROJECT – MiCrofluidic sensOrs for rApid detection of marine toxins in SusTainable AquacuLture (wordpress.com)

Acompanhe o projeto nas redes sociais: Facebook/Instagram/LinkedIn/Twitter.

Texto por: “Equipa do Projeto Coastal” 

A terceira reunião geral do projeto A-AAGORA teve lugar em Cork, na Irlanda e foi organizada pelos parceiros locais – University College Cork e Cork County Council.

Durante a reunião de 3 dias, membros dos 30 parceiros de 8 países europeus estiveram presentes pessoalmente para discutir o progresso do projeto, trocar ideias e apresentar em plenário o desenvolvimento de cada Workpackage e as atividades futuras relacionadas com os Demonstradores – Região Centro (PT), County Cork (IE) e Troms (NO).

Foram criados grupos de trabalho, juntando representantes dos Workpackages e dos demonstradores para debater questões relacionadas com o desenvolvimento tecnológico e a implementação dos living labs. Depois de se aprofundar sobre os requisitos de informação e datasets necessários, as sessões paralelas focaram-se em tópicos-chave, tais como os outputs para o oceano digital, oportunidades de mercado de trabalho, mercado de carbono e biodiversidade relacionado com a restauração, modelos de negócio sustentáveis, envolvimento de stakeholders, comunidade de prática e relevância para as políticas.

Durante esta Assembleia Geral, o consórcio do projeto teve também a oportunidade de receber alguns dos membros do seu Conselho Consultivo Externo. Bogdan Oldakowski, Secretário-Geral dos Portos do Báltico, esteve presente pessoalmente. Angela Guimarães Pereira, da Comissão Europeia – DG Joint Research Centre, Jörn Schmidt, Presidente do Comité Científico do Conselho Internacional para a Exploração do Mar, Manuel Lago, Senior Fellow, do Ecologic Institute e Sofia Soares Cordeiro, da Fundação para a Ciência e Tecnologia juntaram-se à reunião remotamente para discutir com o consórcio os potenciais contributos e as suas expectativas em relação ao projeto A-AAGORA.

A reunião foi marcada por uma visita à área de demonstrador na Irlanda. Os parceiros do A-AAGORA fizeram uma viagem de campo inspiradora a Harper’s Island, Youghal e áreas circundantes para conhecer e explorar os esforços da comunidade local na conservação da biodiversidade e do ambiente.

Mais informação sobre o projeto pode ser encontrada no site em www.a-aagora.eu

Texto por: Dionísia Laranjeiro

No dia 2 de outubro, foi publicado na revista Nature Cancer um artigo de investigação sobre as descobertas relativas ao cancro transmissível do berbigão, que foi noticiado na imprensa nacional e internacional. Neste estudo, participaram os investigadores Seila Díaz, Ricardo Calado e Fernando Ricardo do CESAM/DBIO, Universidade de Aveiro.

De acordo com a investigadora Seila Díaz, coautora principal do estudo apresentado, ‘neste estudo, examinámos berbigões recolhidos em toda a Europa para criar uma coleção de quase 400 tumores de berbigão. Através da rede Europea Marine Biologial resource centre (EMBRC), obtivemos berbigões vivos para diagnosticar de vários locais da Europa, incluindo a Ria Formosa (Algarve)’.

Esta investigação refere como o berbigão, uma espécie muito frequente na costa portuguesa, pode contrair cancros transmissíveis que se propagam através de células cancerígenas vivas presentes na água do mar. Os resultados desta investigação revelaram uma sequência de referência do genoma dos berbigões, um passo essencial para o estudo da evolução destes cancros contagiosos.

‘Para continuar a aprender sobre os cancros contagiosos no mar, é importante continuar a recolher e a fornecer dados genéticos de alta qualidade. Além disso, como o berbigão tem um genoma de alta qualidade, pode ser uma espécie modelo para o estudo destes cancros contagiosos que também afetam os mamíferos’, afirma a investigadora principal da investigação.

A descoberta mais notável neste estudo foi a presença de uma instabilidade genómica sem precedentes nos cancros transmissíveis de berbigão. Essa instabilidade desafia a crença anterior de que a estabilidade genómica é um requisito fundamental para a sobrevivência a longo prazo de células cancerígenas. Esta descoberta é particularmente surpreendente porque, ao contrário das células cancerígenas humanas, que não conseguem prosperar sob níveis elevados de instabilidade cromossômica, os cancros transmissíveis de berbigão conseguem fazê-lo. Esta conclusão pode ter implicações valiosas para o desenvolvimento de novas estratégias no tratamento do cancro em seres humanos no futuro.

Ricardo Calado afirma que ‘o berbigão é um recurso marinho muito importante em Portugal, sendo que as prevalências mais elevadas de cancros transmissíveis detetadas na Europa foram registadas nas costas portuguesas. Deste modo, Portugal deve participar ativamente em nos próximos estudos que venham a ser desenvolvidos para compreender melhor as origens e as implicações ecológicas e económicas deste novo conceito de cancro’.

Fernando Ricardo reforça dizendo que ‘com este estudo verificámos que existem dois tipos de cancros contagiosos que afetam o berbigão, principalmente da costa sul da Europa, e que estes dois cancros contagiosos não estão presentes em todas as populações de berbigão. É, por isso, que os movimentos de bivalves têm de ser sempre autorizados, porque podem causar danos ecológicos mais graves do que, em princípio, se poderia pensar’.

Este estudo foi conduzido pela Universidade de Santiago de Compostela (USC), em Espanha, em estreita colaboração com investigadores do CESAM – Universidade de Aveiro, o Wellcome Sanger Institute e outras 11 instituições, contando ainda com apoio financeiro parcial do Conselho Europeu de Investigação através de uma bolsa ERC ganha pelo investigador José Tubío (USC).

Seila Díaz continua a estudar estes cancros marinhos, através do projeto de investigação denominado ShipClones. Este projeto é financiado pela União Europeia, através do programa Marie Curie, um dos mais prestigiados e competitivos programas de pós-doutoramento da Europa. Este projeto dedica-se ao estudo da dinâmica de contágio destes cancros e procura desenvolver novas técnicas de diagnóstico mais rápidas, para assim minimizar os efeitos destes cancros nas populações de bivalves.

Saiba mais sobre este artigo aqui.

Texto por: Seila Díaz em colaboração com CESAM